Paul Newman
83 anos, ator
O azul dos olhos de Paul Newman era tão radioso que ultrapassava os limites do preto-e-branco – assim como o vestido vermelho de Bette Davis em Jezebel (alguém aí se lembra?). Durante vinte anos, ele foi admirado como o homem mais bonito de Hollywood e, portanto, do mundo (dividia o segundo pódio com o francês Alain Delon). Newman não sucumbiu ao outono de sua beleza, graças a seu talento dramático. Quando cedeu ao romantismo, protagonizou cenas memoráveis, como o antológico passeio de bicicleta com Katharine Ross em Butch Cassidy (1969). Indicado dez vezes ao Oscar, ganhou um por A Cor do Dinheiro (1986). Piloto de corridas, empresário de sucesso, cozinheiro bem acima da média americana, doou os lucros de suas iniciativas – mais de 200 milhões de dólares – à caridade. Manteve, ainda, um casamento de cinqüenta anos com a atriz Joanne Woodward. De várias perspectivas, foi um homem perfeito. (em setembro)
"Ele era generoso, leal e discreto. Tinha um compromisso sério com a profissão e com a responsabilidade social."
Robert Redford, ator
Bobby Fischer
64 anos, enxadrista
Philippe Halsman/Magnun/Latinstock |
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"Foi o fundador do xadrez profissional."
Garry Kasparov, enxadrista
Dorival Caymmi
94 anos, músico
As canções de Dorival Caymmi são tão emblemáticas que se confundem com a identidade nacional. Entre as que se tornaram clássicas, estão Samba da Minha Terra, Só Louco, Modinha para Gabriela, É Doce Morrer no Mar e O que É que a Baiana Tem? (que ajudou uma portuguesa chamada Carmen Miranda a alcançar o estrelato e virar símbolo do Brasil nos anos 40). Por toda a vida, cantou o amor à sua mulher, Stella Maris, com quem teve Nana, Dori e Danilo Caymmi, todos músicos de talento. Depois que problemas cardíacos levaram Stella ao coma, Caymmi desistiu de se alimentar e de lutar contra um câncer renal. Morreu em uma semana. Onze dias mais tarde, aos 86 anos, Stella o seguiu. (em agosto) |
"Caymmi é um dos maiores, se não o maior. Influenciou toda a música brasileira, todos os músicos geniais, como Tom Jobim e João Gilberto."
Gilberto Gil, músico
Heath Ledger
28 anos, ator
Kimberly French/Focus Features/Corbis |
Há décadas, o cinema não via um talento desabrochar e fenecer tão bruscamente como o de Heath Ledger. Sua interpretação de um cowboy que tenta reprimir a homossexualidade em O Segredo de Brokeback Mountain lhe rendeu uma indicação ao Oscar e comparações com Marlon Brando, um dos titãs de Hollywood. Primou pela originalidade ao viver um assombroso Coringa em Batman – O Cavaleiro das Trevas. O ator não sobreviveu para ser aclamado pelo novo êxito. Morreu por causa de uma overdose acidental de medicamentos. (em janeiro)
"Trazia ao personagem mais do que se podia imaginar: uma sede de vida, de amor, de verdade e uma vulnerabilidade que fizeram com que todos os que o conheceram o amassem."
Ang Lee, diretor de cinema
Ruth Cardoso
77 anos, ex-primeira-dama
Valéria Goncalves/AE | Num país que perdeu a compostura, que já era pouca, a discrição e a elegância da antropóloga Ruth Cardoso fazem ainda mais falta. Durante a presidência de seu marido, Fernando Henrique, ela exerceu notável influência sobre as políticas sociais brasileiras. Ruth extinguiu a Legião Brasileira de Assistência (LBA), antro de corrupção e assistencialismo eleitoreiro, e a substituiu por projetos de educação e amparo geridos com a participação da sociedade civil. (em junho) |
"Dona Ruth exercia política com 'P' maiúsculo, a política que é sinônimo do bem comum."
Marco Maciel, senador e ex-vice-presidente da República
Cyd Charisse
86 anos, atriz e dançarina
Nos anos 50, Fred Astaire e Gene Kelly disputavam o posto de melhor dançarino de Hollywood, mas concordavam em um ponto: entre as mulheres, não havia concorrência para Cyd Charisse. Dona de pernas esculturais (que chegaram a ser seguradas em 5 milhões de dólares), ela hipnotizava platéias com coreografias que transbordavam sensualidade. Ao lado de Kelly, entrou para a história ao co-estrelar Cantando na Chuva, de 1952. Com Astaire, brilhou nos musicais A Roda da Fortuna (1953) e Meias de Seda (1957). (em junho)
"Uma linda dinamite."
Fred Astaire, ator e dançarino
Sydney Pollack
73 anos, cineasta
Ele não revolucionou o cinema, mas trabalhou um bocado como ator, diretor, roteirista e produtor. Assinou sucessos como Tootsie (1982), Entre Dois Amores (com o qual ganhou o Oscar de melhor diretor de 1986), A Firma (1993) e A Intérprete (2005). Bom de bilheteria, amigo dos grandes astros, dono de uma produtora, era um dos nomes mais influentes da indústria cinematográfica dos Estados Unidos. Em seus últimos dias, abatido pelo câncer, usava os intervalos das sessões de quimioterapia para gravar narrações para documentários. (em maio) "Sydney fez do mundo um lugar melhor, fez do cinema algo melhor e até mesmo fez de jantares algo melhor." | Nicolas Guerin/Latinstock |
Yves Saint Laurent
71 anos, estilista
Foi por captar o momento em que as filhas deixaram de querer se vestir como as mães e as mães passaram a querer se vestir como as filhas que o argelino Yves Saint Laurent se tornou o maior nome da moda depois da era de Chanel, Dior e Balenciaga. Dos anos 60 em diante, moldou nas roupas as mudanças do tempo. Lançou a jaqueta de couro com suéter preto de gola rulê, o estilo safári, as túnicas indianas, as saias flower power e o smoking feminino. À vontade no figurino de estilista genial, o que incluía um fraco pelas drogas, sofria de depressão. Em 2002, esgotado, aposentou-se. (em junho)
"Foi um dos poucos a alcançar a perfeição em cada coisa que tocava."
Vivienne Westwood, estilista
Arthur Clarke O britânico Arthur Clarke era fascinado pela observação dos astros, por viagens espaciais e por computadores. Em 1945, escreveu um artigo científico que lançou as bases teóricas para a construção dos atuais satélites de transmissão de dados. Em 1968, ganhou fama mundial ao escrever, com o diretor Stanley Kubrick, o roteiro de 2001: uma Odisséia no Espaço, um marco da ficção científica. Apaixonado pelos povos do Sudeste Asiático e por mergulho, esporte que dizia lhe dar a sensação de flutuar no espaço, emigrou para o Sri Lanka. Mesmo embaixo d'água, vivia com a cabeça na lua. (em março) | Gemunu Amarasinghe/AP Photo |
"Clarke acreditava que a exploração do espaço pode ajudar a transformar a humanidade."
Alan Stern, cientista da Nasa
Getty Images | Roy Scheider A figura ossuda de Roy Scheider protagonizou o primeiro filme da história do cinema a ultrapassar a marca de 100 milhões de dólares em faturamento: Tubarão (1975), de Steven Spielberg. Ele interpreta o chefe de polícia medroso que se desdobra para evitar uma carnificina de banhistas – e acaba por superar a sua própria poltronice. Scheider também atuou em Operação França e All That Jazz, ambos dos anos 70, trabalhos pelos quais recebeu duas indicações ao Oscar. Depois disso, nunca mais teve muito sucesso no cinema. (em fevereiro) |
"Ele não teve o reconhecimento que merecia. Sua atuação em All That Jazz é uma das melhores de um americano no cinema."
William Friedkin, diretor
Rubens de Falco O paulistano Rubens de Falco representou 100 personagens, mas só precisou de um para alcançar o estrelato: o vilão Leôncio Almeida, algoz de Escrava Isaura, novela de 1976 protagonizada por Lucélia Santos. O tipo composto por Rubens de Falco foi odiado em oitenta países. Dez anos depois, ele e Lucélia reviveram o sucesso em Sinhá Moça – ele travestido de Barão de Araruama e ela, do papel-título. Falco dedicou-se com afinco ao seu ofício e se revoltou quando a TV e o teatro foram invadidos por modelos e celebridades cujo maior atributo é serem célebres. (em fevereiro) | Adhemar Veneziano |
"Foi dos colegas mais admiráveis que encontrei: generoso, talentoso e um grande ator. Aprendi muito com ele."
Lucélia Santos, atriz
Charlton Heston
84 anos, ator
Bettman/Corbis | Ninguém interpretou épicos como Charlton Heston. O seu papel mais lembrado é o de Ben-Hur, o príncipe judeu que se converte ao cristianismo depois de ter a alma iluminada pela palavra de Jesus e a mãe e a irmã leprosas curadas milagrosamente. A seqüência do filme em que Heston disputa uma corrida de bigas é das mais estonteantes já produzidas por Hollywood. Também alcançou enorme sucesso com as interpretações de Moisés, em Os Dez Mandamentos (1956), e de Michelangelo, em Agonia e êxtase (1965). Nos últimos anos, havia virado alvo da patrulha politicamente correta, por estar à frente da Associação Nacional do Rifle, entidade que defende ferozmente o direito ao porte de armas dos cidadãos americanos. (em abril) |
"Foi um dos atores mais bem-sucedidos da história do cinema e também era um homem íntegro e com grande coração."
George W. Bush, presidente dos Estados Unidos
Olavo Setubal
85 anos, empresário e banqueiro
Bia Parreiras |
Um empréstimo de 10 000 dólares permitiu que Olavo Egydio Setubal construísse um dos maiores grupos empresariais e financeiros do país. Com o dinheiro, fundou a metais Deca, em 1947. Doze anos depois, passou a dirigir o futuro Itaú, hoje o maior banco da América Latina. Prefeito de São Paulo nos anos 70, foi impedido pela ditadura de se candidatar a governador. Voltou na Nova República como ministro das Relações Exteriores. Deixou a vida pública em 1986, mas não a política. Queria que o Brasil construísse estruturas tão sólidas quanto as que ele ergueu em seus negócios. (em agosto)
"Olavo Setubal foi um dos pilares da geração que edificou o sistema financeiro brasileiro."
Pedro Moreira Salles, banqueiro
Waldick Soriano Símbolo máximo da cafonice legítima, antes que ela vestisse a roupagem do brega calculado na ponta do lápis pela indústria fonográfica, Waldick Soriano embalou fossas e dores-de-cotovelo no país inteiro. A indefectível Eu Não Sou Cachorro Não foi apenas a mais conhecida das suas 500 canções. Talvez por se apresentar com o figurino do herói do seriado de TV Durango Kid (óculos escuros, roupas e chapéu pretos), talvez por suas músicas caírem tão facilmente no gosto do público, talvez pelas duas coisas somadas, foi sempre desprezado por todos os grandes nomes da música popular brasileira. (em setembro) | Paulo Salomão |
"Se há uma elite, é a dos que têm ou tiveram grande intuição artística. Waldick era um desses."
Caetano Veloso, músico
Alexander Soljenitsin
89 anos, escritor
Soldado russo condecorado por bravura durante a II Guerra, Soljenitsin enviou uma carta a um amigo para contar novidades do front. Nela, inseriu piadas sobre Stalin. Foi o que bastou para ser condenado a doze anos de trabalhos forçados. Libertado, descreveu em livro os horrores do totalitarismo soviético. Em 1970, em plena Guerra Fria, foi premiado com o Nobel de Literatura. Seu Arquipélago Gulag (sigla, em russo, para Diretório Geral de Campos) retrata as prisões para dissidentes políticos. Em 1974, o Kremlin retaliou-o com o desterro. No exílio, tornou-se um símbolo de resistência e lucidez contra a opressão comunista. (em agosto)
"Foi uma das primeiras pessoas a falar abertamente dos aspectos desumanos do regime de Stalin."
Mikhail Gorbachev, ex-presidente soviético
Jefferson Péres
76 anos, político
Ele marcou sua passagem pelo Senado com uma postura simples, mas férrea: a defesa de que todo político acusado de corrupção deve se afastar do cargo até provar sua inocência. A causa, justa, ganhou poucas adesões, como era previsível. Decepcionado com a política e os políticos, Jefferson Péres decidiu não concorrer a nenhum outro cargo público depois que expirasse seu mandato, em 2011. "Para cá, não quero mais voltar, não", declarou em 2006, no Senado, diante de seus colegas constrangidos (ma non troppo, infelizmente). (em maio) | Celso Junior/AE |
"Ele sempre se pautou pela defesa intransigente da ética."
Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República
Robert Rauschenberg
82 anos, artista plástico
Quem construiu a ponte entre o expressionismo de Jackson Pollock e a pop art de Andy Warhol foi Robert Rauschenberg. Ele viu uma pintura pela primeira vez somente aos 19 anos. Seguindo a trilha do francês Marcel Duchamp, usou objetos do cotidiano para compor telas e esculturas. Suas colagens com imagens de políticos, astronautas e soldados no Vietnã estão entre as melhores traduções dos anos 60. (em maio)
"Nenhum artista americano inventou mais que Rauschenberg."
Jasper Johns, pintor americano
Dercy Gonçalves Emperiquitada com cílios postiços e muita maquiagem, Dercy Gonçalves era o escracho em pessoa. Aos 17 anos, fugiu de casa para ser cantora. Logo, descobriu que tinha outro talento: representar. Como comediante, fez história no teatro de revista, nas chanchadas cinematográficas e na TV. À medida que envelhecia, foi-se tornando mais e mais personagem de si mesma, por meio de entrevistas desbocadas, em que reclamava do que lhe desse na veneta e desfiava um cabeludíssimo repertório de palavrões. (em julho) |
"Ela dizia palavrões em uma época em que atriz tinha de ter cuidado para não ser vista como prostituta."
Marília Pêra, atriz
Mark Felt
95 anos, ex-diretor do FBI
A fonte que ajudou o Washington Post a desvendar o caso Watergate e levou Richard Nixon a renunciar à Casa Branca permaneceu anônima por trinta anos. Em 2005, Mark Felt assumiu ser o "Garganta Profunda", o mais famoso informante do jornalismo. Com suas dicas, os repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein provaram que, em 1972, Nixon autorizou a invasão do comitê democrata no edifício Watergate, em Washington. Felt era, então, o número 2 do FBI. Conhecia tanto os porões do governo que foi apelidado de "Garganta Profunda", uma referência jocosa ao filme pornô homônimo cujo diretor, Gerard Damiano, morreu em outubro.
(em dezembro)
"O número 2 do FBI até que não era má fonte."
Ben Bradlee, ex-editor-chefe do Washington Post
Paulo Ruy Barbosa |
Até o início dos anos 80, pouquíssima gente sabia o que era windsurf no Brasil. Até que surgiu Dora Bria e o esporte ganhou as praias e represas do país. Com olhos da cor do mar, na sua variante esverdeada, e rosto de princesa eslava, ela se tornou musa mesmo de quem só sabia nadar no estilo cachorrinho. Conquistou seis títulos brasileiros e três sul-americanos. Em 1993, posou nua para a revista Playboy. Um desastre de carro a matou. (em janeiro) |
"Ela foi a primeira velejadora do Brasil a ser admirada nacionalmente."
Lars Grael, velejador
Edmund Hillary No dia 29 de maio de 1953, o neozelandês Edmund Hillary e seu guia nepalês Tenzing Norgay inscreveram seus nomes na história ao pisar pela primeira vez o topo do Monte Everest, a mais alta montanha do planeta. Essa não foi a única conquista de Hillary. Em 1958, integrou uma equipe britânica que alcançou o Pólo Sul. Em 1985, acompanhado pelo astronauta Neil Armstrong, voou em um bimotor até o Pólo Norte. Tornou-se, assim, o primeiro homem a alcançar três extremos da Terra – o ponto mais alto e seus dois pólos. Como diplomata, lutou para melhorar a vida dos povos do Himalaia. (em janeiro) | Bettman/Corbis |
"Fecha-se, com a morte de sir Edmund, um dos grandes capítulos do desbravamento do mundo."
Pen Hadow, explorador polar
Mohammad Suharto
86 anos, ditador
Sob a tirania de Suharto, que durou 32 anos, a Indonésia viu morrerem centenas de milhares de pessoas – e ele e sua família amealharem 35 bilhões de dólares. Militar de carreira, Suharto abriu a bala o caminho para o poder. Em 1965, desbaratou uma guerrilha comunista para tomar o poder definitivamente em seguida. Apesar dos muitos crimes, a ditadura modernizou a economia de uma nação fragmentada em 17 500 ilhas. Apeado do governo em 1998, morreu sem ser julgado por suas atrocidades e foi enterrado como chefe de estado. (em janeiro)
"Ele ensangüentou a Indonésia."
José Ramos Horta, presidente do Timor Leste
Jamelão
95 anos, cantor
Jorge Cecilio/Futura Press |
Era sua a voz do Carnaval carioca. Por meio século, Jamelão anunciou o início do desfile da escola de samba Mangueira sempre da mesma forma: "Olha a Estação Primeira aí". Deve-se a ele a instituição da figura do puxador de samba-enredo, embora Jamelão, conhecido ranheta, detestasse ser classificado assim. Engraxate e jornaleiro na infância, já fazia sucesso na adolescência como cantor romântico. Nesse tempo, abandonou o nome de batismo, José Bispo Clementino dos Santos, para adotar o apelido, que remete a um fruto escuro e doce como o timbre da sua voz. (em junho)
"Era um imenso cantor e o melhor mau humor do Brasil."
Chico Buarque, músico