Ainda é cedo para um balanço da crise, um dos mais importantes fatos econômicos dos últimos cinqüenta anos. Mas dá para entrever algumas de suas conseqüências.
Uma delas é a de que aponta para o enfraquecimento dos países ricos em relação ao bloco dos emergentes. A perda de dinamismo é global mas as economias também chamadas maduras mostrarão nos dois próximos anos um crescimento bem mais baixo (ou, usando expressão mais apropriada) enfrentarão recessão mais profunda do que as emergentes.
Os Estados Unidos, por exemplo, sairão tremendamente endividados já que grande parte do socorro está sendo obtido por meio da colocação de trilhões de dólares em títulos do Tesouro americano.
Há dias, o presidente eleito, Barak Obama, advertiu que o déficit orçamentário (despesas mais altas do que receitas) tende a avançar para mais de US$ 1 trilhão neste exercício fiscal que termina em setembro de 2009. E mais déficit vai exigir mais emissão de dívida para financiá-la.
Há outras indicações que apontam para aumento de custos da economia americana. A derrocada das montadoras americanas, por exemplo, sugere que o processo de transferência da indústria para fora dos Estados Unidos (especialmente para a Ásia e para a América do Sul) vai se acentuar.
O sistema financeiro está desorganizado, seu saneamento está aumentando sua dependência do Estado e provavelmente não recobrará tão cedo a confiança, sem a qual não pode funcionar normalmente.
Além disso, a qualidade de funcionamento de algumas de suas instituições vem sendo questionada. Os órgãos reguladores não detectaram práticas condenáveis nas instituições sob sua tutela, nem se deram conta do crescimento das bolhas nem que regras elementares de segurança financeira estavam sendo atropeladas.
Além disso, as agências de classificação de risco, encarregadas de conferir a confiabilidade dos ativos financeiros distribuiram certificados AAA para títulos que depois seriam classificados como "ativos podres".
As economias européias não vêm tendo atuação melhor, com a agravante de que as cúpulas não falam a mesma língua. Angela Merkel não se entende com Nicolas Sarcozy, que discorda de Gordon Brown, que não se afina com Silvio Berlusconi. E as divergências não se limitam a diferenças de personalildade. Até agora, a União Européia não conseguiu aprovar uma Constituição comum.
Nesse quadro de ruptura e de encolhimento das economias centrais, um punhado de emergentes consegue erguer a cabeça. Isso não tem nada a ver com o "descolamento" da crise pelos emergentes, tal como inventado pelo economista Jim O?Neil, da Goldman Sachs. São economias que devem crescer, menos do que há alguns anos, mas bem mais do que os ricos, o que fará diferença.
Isso parece justificar a expectativa de que não só o Brasil sairá relativamente fortalecido desta crise como, também, tenderá a desempenhar funções econômicas e políticas globais mais importantes.
Mas para que isso se confirme, o governo brasileiro - este e os seguintes - não pode fazer grandes besteiras em política econômica. E isso já não está tão garantido assim.
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