Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, dezembro 26, 2008

Homenagem às Sumidades -Maria Helena Rubinato



Blog Noblat

Há muitos anos, quando se queria destacar alguém por suas qualidades intelectuais, dizia-se "Fulano é uma sumidade!". Da mesma forma que o hoje tão corriqueiro "Sicrano é um gênio!". Com a mesma tranqüilidade, com a mesma banalidade, qualquer um que soubesse somar 2+3 em vez do corriqueiro 2+2, era "uma sumidade".

Claro que no balaio das sumidades havia as reais e as nascidas do entusiasmo momentâneo. E é com o mesmo espírito que homenageio as sumidades de hoje. Há as efetivas e há as que merecem figurar entre as sumidades de apoio, digamos assim. Como há também as proto-sumidades.

Hoje, ultima sexta-feira de 2009, decidi homenagear as sumidades inovadoras, inventivas, aqui do nosso blog. As que são sumidades sem nunca ter sido, nem ter a pretensão de vir a sê-lo, apenas são. As sumidades do Partido da Situação. As sumidades que apóiam incondicionalmente o Governo Federal, mas sempre sem ter a intenção de fazê-lo, apenas por reconhecerem os méritos explícitos e implícitos do atual governante. Na maioria das vezes, apóiam e elogiam o Governo contra sua vontade, só por uma questão de justiça.

Quase sempre começam seu discurso com um elogio ou uma opinião favorável ao Governo Lula, daí derivam para uma comparação malévola em relação ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ou para um beliscão no Governador Serra, para depois acrescentar, enfáticos, que não são nem nunca foram petistas. Mas ou menos assim: "Você está enganado, eu não tenho partido e muito menos sou simpatizante de comunismo porque acredito que todo cidadão deve ter o seu direito individual respeitado, mas tudo tem limites, o fim do arbítrio começa quando inicia o do próximo, agora, meu caro, o que vocês escrevem é de uma ignorância tamanha que, às vezes dá pra pensar: quem é mais obtuso, o Lula ou quem o critica?".

Ou então: "Em todo caso, não tenho companheiros petistas, nem sou filiado a partido político algum, apenas tenho votado no PT porque ainda é o mais expressivo partido de esquerda e o único que tem condições de derrotar a direita".

Há, como já disse, as sumidades de apoio. Essas são sempre muito objetivas e insistem em fatos que dificilmente se comprova. Assim: "(...) existem estudos/pesquisas realizadas, por exemplo, pela USP, que indicam uma notória má vontade da grande mídia em relação ao Lula. As notícias negativas ultrapassam em muito as positivas, e isto comparado ao período de FHC. Isto não é opinião, é fato". Outra: "E a cesta básica, hein?

Arroz, óleo, feijão e outros, tiveram seus preços colocados lá perto de São Pedro atendendo aos pedidos da Globo e da Bancada Ruralista: "Vamos criar inflação!...".

A sumidade, além de votar no PT "apesar de" e de garantir dados que ninguém mais garante, ainda analisa, diligente e arguta, a Imprensa Brasileira como um todo: "Sabe o que falta à imprensa brasileira? Baixar um pouco sua onipotência, e encarar a realidade dos fatos: saber distinguir o que é opinião pública de opinião publicada. As ondinhas acabaram, meu caro, o brasileiro hoje tem a estima mais elevada e, como conseqüência, aprendeu a distinguir o falado e escrito da realidade que ele vive. E ele vive uma realidade infinitamente melhor do que a "opinião publicada" gostaria: o brasileiro passou a ter opinião".

Aí está todo o mérito das sumidades, o grande golpe: não apreciam este Governo por isto ou por aquilo. É sempre porque o FHC foi o horror dos horrores, o Serra é feio e vampiresco, o Aécio é oferecido, o Ciro é tonto. Ou porque a Imprensa não compreendeu o povo.

Na categoria das proto-sumidades então, isso é mais do que corriqueiro, é obrigatório: "Se fosse do Lula você acreditaria cegamente, mas como é do vosso idolatrado sempre se arruma uma desculpa, eu acredito sim... FHC nunca trabalhou e vive como milionário...".

Mas, de repente, não mais que de repente, a alma de uma proto-sumidade ontem apareceu por trás das fímbrias de seu amor ao Governo Federal! Ei-la: "FHC nunca se preocupou com a classe pobre, eu o conheci pessoalmente em 1986 em SP, um homem arrogante, orgulhoso, em 1985 disse que não acreditava em Deus e perdeu uma eleição já ganha".

Não é comovente? No Dia de Natal, uma leitora, com a coragem dos mártires de outrora, confessou seus reais motivos: A Defesa da Fé. Uma legítima proto-sumidade. Palmas para ela que ela merece.

Feliz Ano Novo para todos.


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