De tanto se repetir isso já virou um chavão, mas sem dúvida há oportunidades que surgem em períodos de crise. Em 2009, a economia mundial passará por um profundo processo de ajuste e, por incrível que pareça, o Brasil terá a possibilidade de resolver, nesse ambiente conturbado, o problema crônico de suas taxas de juros exageradamente elevadas.
Certamente levará ainda um bom tempo para que a economia brasileira passe a conviver com taxas de juros normais, equiparáveis a de outros países com mesmo grau de desenvolvimento. A questão não é essa, mas sim o exagero. Existem razões históricas para os juros no Brasil terem se tornado uma aberração. E o fato de permanecerem em patamares estratosféricos por um prazo tão longo fez com que a economia brasileira desenvolvesse formas de convivência com tal anomalia, porém, não de maneira inofensiva.
Os juros exageradamente altos ocultam ineficiências, além de terem se transformado em um terrível canal de transferência de renda para os setores econômicos que já são os mais capitalizados. Depois que a economia brasileira foi promovida, pelas agências classificadoras de risco, para a categoria de grau de investimento, esperava-se que os juros reais recuassem expressivamente — como aconteceu em outros países que tiveram a mesma experiência —, mas essa expectativa foi logo frustrada, pois a atividade econômica, que vinha acelerando, gerou uma grande demanda por crédito, que até então era irrelevante. Se havia tomadores de empréstimos dispostos a pagar caro, por que reduzir os juros? Do lado da captação até se verificou uma queda nas taxas, mas os spreads bancários não acompanharam esse movimento em igual intensidade. O crédito alimentou pressões inflacionárias, o Banco Central teve de aumentar as taxas básicas de juros, voltamos, assim, algumas “casas” atrás no jogo.
Nenhuma economia com as características da que temos aqui precisaria efetivamente de juros tão altos para se controlar a inflação nos níveis propostos pelo governo (4,5% ao ano, com tolerância até 6,5% em caso de algum choque externo não previsível, como se verificou nos preços do petróleo). Mas o Brasil continuou sendo uma exceção vergonhosa. Culpa do Banco Central, do Copom? Seria injusto atribuir esse quadro à atuação do BC, dirigido por pessoas sérias, conscientes que baixar juros não é apenas um ato de vontade pessoal das autoridades monetárias. É preciso criar condições, ambiente favorável (e para isso o BC realmente poderia contribuir um pouquinho mais...). Com a crise internacional, os juros no Brasil se distanciaram léguas dos patamares em vigor no resto do mundo.
A demanda interna por crédito minguou e do lado da captação investidores e poupadores não têm para onde correr (a alternativa do dólar, por exemplo, envolve imensos riscos: quem já ficou escaldado com a bolsa dificilmente vai querer se aventurar em mercados especulativos nos próximos meses). A inflação está caindo mais rapidamente do que as instituições financeiras previam em seus prognósticos semanais para o Banco Central. De repente, segmentos importantes da indústria ficaram com uma tremenda capacidade ociosa.
Então, o caminho está pavimentado para que em 2009 percorramos uma trajetória de queda nas taxas de juros, começando pelos básicos, definidos de 40 em 40 dias pelo Comitê de Política Monetária (Copom). Tal perspectiva não deixa de ser um alento diante do cenário de crise econômica e financeira que nos cerca. E suficiente para que eu possa desejar um ótimo 2009 aos que tiveram paciência de ler este texto até aqui!
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Condições favoráveis ao corte dos juros estão sendo criadas pelo próprio mercado financeiro. Nos derivativos, as apostas são generalizadas na baixa. Até os bancos estrangeiros estão na posição futura de “compra”, o que significa que projetam juros mais baixos em 2009. Por causa da Selic alta, o Banco Central já tem remunerado, na suas operações de curto prazo, o mercado a taxas ligeiramente abaixo da Selic de 13,65% ao ano.
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Em novembro, diferentemente do que ocorreu em São Paulo ou Minas, aumentou o número de empregos formais no Estado do Rio, com uma razoável contribuição da construção pesada e do setor de montagem industrial, que devem continuar impulsionando a economia fluminense em 2009. A instalação da siderúrgica CSA ThyssenKrupp, em Santa Cruz, por exemplo, que no pico da obra deveria empregar 15 mil trabalhadores, já está com 22 mil no canteiro. A usina deve ficar pronta até o fim de 2009, mas à medida que a mão-de-obra for sendo liberada ela poderá ser aproveitada na construção do Arco Metropolitano (que interligará as principais rodovias que chegam ao Rio) ou no Comperj, a nova refinaria da Petrobras, em Itaboraí.
Os investimentos na CSA e na área do Porto de Itaguaí têm movimentado também os municípios vizinhos. Em Seropédica, que abriga a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), surgiram novos bares, restaurantes e residências. O pessoal de lá diz que a vida noturna está “bombando”.