A crise que chegou aos jornais pouco tem a ver com o tombo em que mergulham os mercados. Alguns dos fatos mais marcantes do ano no segmento chegaram no quarto trimestre. São eles:
Em outubro, o centenário The Christian Science Monitor, em parte financiado pela First Church of Christ Scientist, anunciou que, a partir de 2009, não sairá mais na edição diária impressa. O assinante o receberá online. Apenas a edição de fim de semana virá em papel. É a primeira vez que um grande diário dá esse passo.
No início deste mês, o grupo Tribune, que controla o Los Angeles Times (460 mil exemplares diários) e o Chicago Tribune (864 mil), mais dez diários e 23 canais de TV, encaminhou à corte federal de Delaware pedido de concordata. O grupo possui uma dívida de US$ 13 bilhões; o patrimônio é de US$ 7,6 bilhões.
Também em dezembro, o New York Times informou que teve de hipotecar o edifício-sede, em Manhattan, para garantir o empréstimo de US$ 225 milhões, tomado para equilibrar as finanças. Seu editor-executivo, Bill Keller, não esconde a tirania dos custos: "Bom jornalismo é caro. Não há blogs ou sites com acesso grátis pela internet que sustentem sucursal em Bagdá."
O caroço da crise não é o declínio dos anúncios, embora ele também exista. (A consultoria ZenightOptimedia aponta queda nos Estados Unidos de 3,8% neste ano em relação a 2007 e projeta queda de 6,2% em 2009 em relação a 2008.) O problema é a aparentemente inexorável migração do leitor para a internet, como, de resto, já avisou o New York Times.
Mas as coisas não param por aí. Os números variam de caso a caso, mas pode-se aceitar que cerca de 60% dos custos de um grande jornal se concentram em três áreas: papel, distribuição e impressão. E, espantosamente, esses custos podem desaparecer se o jornal passar a ser veiculado apenas pela internet.
Algo parecido ocorreu no cinema. Quando o filme passou à ser rodado em tecnologia digital, a indústria do cinema não teve mais de pagar cerca de US$ 3 mil por cópia (podem ser necessárias mais de 40 para cobrir um grande lançamento em São Paulo) nem gastar dinheiro grosso com transporte e armazenagem. O filme chega para as redes de exibição pela internet. O custo da indústria caiu entre 60% e 70%.
O leitor está acostumado a receber diariamente seu jornal à porta ou a comprá-lo na banca. Nada parece capaz de substituir esse ritual. Mas a concorrência da internet parece inexorável.
Há algumas semanas, um analista americano chamava a atenção para o que ocorreu no dia seguinte ao da eleição de Barack Obama. Os jornais não conseguiram apresentar uma única informação que não fosse do conhecimento geral e não tivesse sido veiculada antes por TV, rádio e internet.
Além disso, tudo se passa como se as pessoas tivessem necessidade limitadas de informação. Acham que sabem o que se passa e têm opinião formada sobre tudo, como no futebol. Esta síndrome pode apressar a mudança. O problema é que ninguém sabe como se fará a transição nem a partir de quando ficará inevitável.
Em todo o caso, nada será como é hoje. Um jornal online é outro produto. Mesmo se encontrar um jeito de continuar impresso, o jornal do futuro terá de ser substancialmente diferente do que é hoje.
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