Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, dezembro 25, 2008

CARLOS ALBERTO SARDENBERG 2009 começa mal e . . .


O Globo


2008 começou bem e terminou muito mal.
Já 2009 começa muito mal e...
Não dá para dizer que termina bem.
Talvez se possa dizer que termina melhor, porque há um amplo entendimento segundo o qual os piores movimentos da crise ocorrem neste momento e se prolongam até o primeiro semestre de 2009.
Muitos acham que ruim mesmo é agora e no próximo primeiro trimestre.

Não que melhore a partir de abril, mas talvez pare de piorar, o que, para as circunstâncias, já seria muito bom.
Admitamos, de todo modo, que isso tudo está muito abstrato. É preciso colocar números nessa história.

Por exemplo, se o desemprego aqui no Brasil vai de 7,5% para 8%, é ruim, mas melhor do que 9%.
Idem para os Estados Unidos. Os últimos números avaliados pela equipe econômica de Barack Obama dizem que a recessão, tal como vai, pode eliminar até três milhões de empregos, o que elevaria a taxa de desemprego dos atuais 6,7% para 9%, um espanto para os padrões americanos.

Por isso mesmo, o plano de Obama está cada vez maior. Ainda na campanha, o candidato anunciou sua disposição de lançar um programa de investimentos no valor de US$ 175 bilhões.
Na medida em que a percepção da situação foi piorando, o plano foi subindo.
Pelas últimas versões, já está em US$ 800 bilhões. E pode ser mais, porque sua equipe e a ampla maioria dos economistas entendem que, neste caso, é melhor errar para mais. Ou seja, os investimentos têm que ser grandes o suficiente para produzir efeito em uma economia de US$ 14 trilhões.
Por outro lado, não se trata apenas de gastar, mas de gastar bem. Os economistas de Obama estão à procura de projetos que gerem emprego mas que também melhorem a infra-estrutura e a produtividade da economia privada e dos serviços públicos. Não pode ser como no Japão, cujo governo, na longa recessão dos anos 90, fez um monte de estradas e pontes ligando nada a lugar nenhum. Isso porque esses gastos públicos acabaram atendendo às demandas dos senhores deputados (às emendas deles!).

Eis o ponto: não é fácil gastar bem US$ 800 bilhões. Por isso, pode-se garantir que o plano é uma boa tentativa, mas não que vai dar inteiramente certo. E de novo nos faltam os números.
Bons projetos reduzirão o desemprego, mas quantos bons planos serão postos em funcionamento? No entanto, não faltam números na praça. O presidente Lula e a ministra Dilma disseram que o país vai crescer 4% em 2009. Cobrados, coube à ministra explicar que se tratava de uma meta a ser buscada.

Mas se é meta, por que não colocar logo... bem, deixemos isso de lado.

Já o Banco Central, em seu Relatório de Inflação de dezembro, um magnífico documento de análise e projeções para a economia brasileira, tem que cravar número por dever de ofício.

No chamado "cenário de referência", o Brasil cresce 3,2% no próximo ano. É menos do que a meta da ministra, porém mais do que a previsão do mercado, ou seja, dos analistas de instituições financeiras, consultorias, departamentos econômicos de associações, faculdades de economia etc... Trata-se de mais de cento e tantos cenários que toda sexta-feira são enviados ao Banco Central, que os elabora e publica o resumo toda segunda de manhã, no seu site.

Por esse documento, o país cresce 2,4% em 2009. Às vezes, parece pouca diferença. Mas só parece. Estimase que a cada ponto percentual de crescimento da economia (do Produto Interno Bruto, PIB), são criados de 400 a 500 mil empregos.

Portanto, é uma discussão relevante, mas não se deve tomar todos esses números pelo seu valor de face. Melhor observar a tendência — e esta é clara. O Brasil vai crescer bem menos do que em 2008. Mesmo que se consiga a meta dos 4%, isso significará que a economia vai criar um milhão de empregos a menos, isso comparado com o ritmo de expansão do PIB até o terceiro trimestre de 2008.

O resumo da ópera: o mundo não vai nada bem, mas há uma incrível sequência de planos em preparação e de medidas dos bancos centrais, já em execução, para debelar a crise. Podem funcionar bem, mais ou menos ou não dar certo. Disso dependemos.

Mas que são bons planos, isso são.

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