Já escrevi que o bombardeio de Gaza tornou-se inevitável quando o pânico nas área atingidas pelos Qassams palestinos chegou a níveis incontroláveis. Sentindo-se sem suficiente defesa , números crescentes de indivíduos ameaçavam deixar suas habitações. A região reúne centenas de milhares de indivíduos e inúmeros centros de importância estratégica. Deixá-la com defesas insuficientes seria ceder grande e inadmissível vitória ao Hamas. Andei por lá varias vezes nesses tempos...
A luta contra forças guerrilheiras, estas com recurso ao terrorismo, é o grande desafio do estado moderno. Na minha juventude se dizia ou o Brasil acaba com a saúva - uma gigantesca e gulosa formiga- ou a saúva acaba com o Brasil. A guerrilha opera como a saúva combinada com o cupim: destrói as bases . A opção pelo emprego inicial da força aérea resulta de considerações sobre custos e benefícios, de vidas e bens. Depois das recentes guerras no Iraque e Líbano, estado maior algum de forças armadas imagina poder vencer guerra contra guerrilhas e grupos terroristas com a força aéreas. O apreendido nas primeiras guerras há milhares de anos ainda é válido. Só o infante, a força que ocupa espaço, assegura a vitória. E é essencial conhecer o inimigo até os limites de suas crenças e a competência de seus comandos.
Nada há criticar na eficiência da força aérea que buscou os alvos para destruir o máximo da força do Hamas e facilitar a entrada de tropa, no caso , como imaginável da Autoridade Palestina para reocupar Gaza. Não seriam tropas estrangeiras. Abu Mazen, presidente da Autoridade Palestina, no lugar do falecido Arafat, expulso de Gaza pela força do Hamas, tem agora tropa bem treinada, armada e motivada. A reocupação faria com que o futuro estado palestino volte a ter um só governo. Ficam menos complexas as negociações de paz e mais provável um resultado aceitável. O atual presidente de Israel, Shimon Peres, prevê uma paz dentro de três anos.
O Hamas é a Frente Islâmica de Resistência que não admite reconhecer a existência de Israel e quer uma Palestina islâmica como o Irã. São aliados à Jihad Islâmica e outros grupos menores igualmente fundamentalistas e com vocação terrorista. O Egito, Jordânia, Arábia Saudita, Bahreein, e outros países árabes muçulmanos têm seus problemas internos com organizações islamitas que, por conveniências políticas, não o condenam publicamente.
O Hamas é da linha que não agrada. E tem o apoio do Irã que quer ser a potência muçulmana dominante no Oriente Médio. É persa de origem, logo, não se inclui entre os descendentes de Ibrahim*(Abraão).O mundo árabe choraria lagrimas de crocodilo se o Hamas for derrubado.O Egito declarou ao Hamas que só promoverá um cessar fogo se for incondicional.Não quer fortalecê-lo face ao mundo árabe.
Aparentemente Israel cometeu três erros de apreciação no caso do ataque. O primeiro foi a fraqueza do preparo do meio diplomático internacional com ineficazes relações públicas. O segundo, foi esquecer que os palestinos de Gaza, governados pelo Hamas tenderiam a ser vitimados em ataques. E que a massa árabe é solidária com os palestinos, seus irmãos, o que determina atitude semelhante de seus governos.
O Hamas recebe uma solidariedade que não é dele. O terceiro, é que fechou o acesso da mídia internacional a Gaza. Nós, jornalistas, sempre nos viramos. O campo ficou livre para o al Jazira e para toda a mídia árabe. O que se viu na mídia foi cedido pela mídia árabe à mídia internacional. E guerras são temas ideais para imagens. E a sucessão de pequenas e grandes tragédias sem mocinhos, só vítimas...
Assisti inúmeras guerras em minhas décadas de jornalismo. Não esqueço que tem o cheiro das fezes do medo sob o qual pode-se perder o controle do corpo. Foi o que me tornou místico pois, num segundo, se está com alguém que fala e noutro, tem-se a sensação de que algo sai do corpo que esvazia. Como se a vida fosse esse algo invisível, intocável e incompreensível. Será possível que existe em si, independente do invólucro? Pergunto a cientistas e eles não sabem me responder. Mas, desde a primeira delas, guerra civil entre camponeses armados de foices e facões e soldados com suas armas, que tenho pesadelos. Foi antes da Televisão.
No fim da segunda-feira o Hamas, que lançava primitivos Qassams de pequeno alcance, passou a lançar mísseis direcionados de médio alcance. Matando e ferindo. Derrotá-lo, se complicou. Ao longo da fronteira entre Israel e Gaza, sem obstáculos naturais, eram visíveis concentrações de tropas em posição ofensiva.
Vai ser uma longa guerra que pode se espalhar. Já sinto o cheiro.