Taxa "básica" do mercado volta a nível mais baixo, mas bancos antecipam inadimplência grande e "spreads" disparam |
OS JUROS "básicos" no mercado continuam a despencar.
Trata-se, é claro, de taxas negociadas com base nos contratos entre instituições financeiras, que são o "piso" do mercado (DI). Como a diferença entre essas taxas e as cobradas de consumidores e empresas são gigantescas no Brasil, em geral o grande público não toma conhecimento delas -não sabe, não quer saber ou tem raiva quando sabe.
Mas, em teoria e em certas situações, os juros da praça dizem algo a respeito da meta da taxa de juros do Banco Central, a taxa "básica" da economia, aquela que o BC (Copom) define: a Selic. No mínimo, as taxas "básicas" da praça financeira dão uma dica do que o mercado espera ou "aceita" da parte do BC.
Pelo andar da carruagem, e desde que não surjam buracos na estrada, o mercado deve chegar a janeiro esperando que o BC baixe a Selic em meio ponto percentual. De resto, desde o início do mês as taxas nos contratos de juros futuros de vencimento mais longo estão menores que as dos juros mais "curtos", o que indica expectativa de baixa de juros.
Dado o contexto, tal expectativa pode basear uma estimativa razoável. Os juros futuros estão caindo; os dos contratos mais "curtos" (janeiro e fevereiro) estão entre 0,3 ponto e 0,4 ponto abaixo da Selic; a média das expectativas de inflação para os próximos 12 meses caiu de uns 5,5% para 5% no último mês; enfim, a economia deu uma desacelerada brusca no trimestre final de 2008. O risco maior fica por conta de desastres extras lá fora e da hipótese de um repique inflacionário, dentro de uns três meses, devido ao repasse da desvalorização do dólar, repasse de dimensão imprevisível, de costume.
A taxa "básica" real de juros já voltou ao patamar de baixa histórica, "acredite se quiser", perto de 7% (vide gráfico). Na praça, o custo médio de captação dos bancos caiu de outubro para novembro. Voltou ao nível de julho, antes da explosão da crise. Mas tal redução de custo não foi repassada ao tomador de empréstimos. Na interpretação mais benévola, os bancos se preparam para um baita aumento da inadimplência (que é custo), o que já começou entre pessoas físicas. No caso das empresas, a inadimplência ainda está comportadíssima, inferior à do início do ano. A diferença entre o custo do dinheiro para os bancos e o dos empréstimos (o "spread") subiu brutalmente para pessoas físicas e continua em alta para empresas.
Caso o BC chancele em janeiro a queda dos juros na praça haverá um refresco no custo do crédito (pode subir menos) -refresco muitíssimo marginal. Com mais desemprego e empresas lucrando menos ou nada, os bancos devem continuar tão ou mais seletivos quanto agora e ainda podem cobrar um preço maior devido ao aumento esperado da inadimplência. Na contenção da crise, o máximo que se pode esperar do crédito é que não atrapalhe muito.