Desde a queda do Estado Novo de Getúlio Vargas, alavancado com a vitória dos Aliados na Segunda Guerra Mundial, que o nosso modelo de restauração democrática foi remontado num bipartidarismo de fato, confrontando blocos: do lado do governo do presidente Dutra, o velho Partido Social Democrático, o PSD de sólidas estacas fincadas no controle da absoluta maioria das prefeituras municipais, a legenda dos prefeitos, da maioria dos vereadores, com bancada majoritária nas duas Casas do Congresso.
Do outro lado do campo, no gramado impecável do brilho oratório da sua bancada de bacharéis, a UDN carpia derrotas nas urnas presidenciais, mas inflava de orgulho com as tribunas lotadas nos dias de duelos entre alguns dos maiores tribunos de todos os tempos: Afonso Arinos, Carlos Lacerda, Aliomar Baleeiro, Bilac Pinto, Oscar Dias Correia, Adauto Lúcio Cardoso, Otávio Mangabeira, Mário Martins, Flores da Cunha e, um pouco mais tarde, a turma da bossa nova: José Sarney, Aluísio Alves, Ferro Costa e mais uma dúzia.
Mas, além dos pólos nítidos de governo e oposição, várias siglas médias e nanicas, de um lado e do outro, completavam a arrumação do quadro partidário: o Partido Libertador do santo Raul Pilla, parlamentarista de raízes gaúchas que marchava no passo da oposição, ao lado do Partido Republicano, de Artur Bernardes, mais mineiro do que nacional, acompanhavam a UDN. O PSD fechava um leque de poderosos aliados: o Partido Trabalhista Brasileiro, o PTB para o jogo de damas de Getúlio barrando a expansão dos comunistas.
Nas campanhas eleitorais, salvo algumas surpresas municipais, o PSD marchava para as urnas mais levianas que moças de programa com a tranqüila certeza de que elegeria a maioria dos governadores, dos prefeitos e no Senado e na Câmara dos Deputados. Um ou outro ovo gorado não mudava o panorama.
Este quadro partidário, com todas as suas notórias deficiências das urnas emprenhadas e outros truques de grosseira falsificação, sobreviveu com muitos retoques até a ditadura seguinte, fardada e sem compromissos com o regime democrático. O AI-2 de 27 de outubro de 1965, baixado pelo general-presidente Castello Branco, nega todos os compromissos do esquema militar com a democracia e extingue os partidos para impor o bipartidarismo de proveta e restabelece as eleições indiretas para a escolha do presidente da República.
Até o sepultamento da Redentora, em 1982, com a eleição indireta de Tancredo Neves pelo Colégio Eleitoral, o país atravessou a turbulência de agitações estudantis, das passeatas e dos distúrbios de rua.
Custou muito remontar o cenário de uma democracia formal, com eleições diretas para presidente, governadores e prefeitos.
Alguns extravagantes fenômenos eleitorais pegaram a maioria conservadora distraída e comendo o mingau pela beirada e elegeram Fernando Collor de Mello para presidente em 1990, para uma Presidência que não foi além de 29/09/1992.
Uma repetição menos patusca dos sete meses do governo de Jânio Quadros – de 31/01/1961 a 25/08/1961.
É a maior frustração da história deste país. Com toda as tintas de um planejado e fracassado golpe de traição ao povo e ao Brasil.
Jânio é a figura menos séria de tempos sisudos Não deixou boas lembranças. A renúncia inexplicável, com jeito de chilique, foi um divisor de água. Depois de Jânio e por muito tempo ficou difícil levar a sério os fenômenos eleitorais. Recaída só com Collor de Mello, em outro modelito.