A inflação está claramente em queda no Brasil e, nisso, mostra que o principal receio do Banco Central não está se cumprindo. Ou seja, a alta do dólar não está sendo repassada para os preços. A implicação imediata dessas premissas é a de que o juro pode cair, provavelmente de maneira mais acentuada do que calculam os analistas.
Ontem saiu o IPCA-15. Esta não é propriamente a medida mais importante da inflação. É apenas a evolução do custo de vida que conta não propriamente a evolução dos preços no mês calendário. Mas conta a evolução do custo de vida no período de 30 dias terminado no dia 15 de cada mês. Daí a explicação para esse 15 que aparece na sigla.
O IPCA de novembro já havia mostrado uma certa desaceleração da inflação. Agora, 15 dias depois, a desaceleração vai sendo acentuada. Nesse período, os preços subiram apenas 0,29%, bem menos do que vinha sendo projetado pelos analistas, sugerindo que o IPCA de dezembro pode vir ainda mais baixo.
Cada segmento da sociedade tem sua inflação diferente das demais. A inflação de um torneiro mecânico é diferente da de um intelectual, que gasta uma parcela maior do seu orçamento em livros, programas culturais, cursos de especialização e tanta coisa mais. Por isso, há uma infinidade de siglas para aferir o tamanho da inflação no Brasil, cada uma com sua metodologia, atendendo a determinado segmento: classes médias, classe trabalhadora, mercado atacadista, população acima de 60 anos e assim por diante. O IPCA mede o custo de vida da população média e é a referência para efeito de definição da política monetária (política de juros), que se encarrega de meter a inflação para dentro da meta definida pelo governo.
O Banco Central vinha puxando os juros porque temia duas coisas: que o consumo continuasse acima da capacidade de oferta da economia, fator com potencial para atirar a inflação para cima; e os efeitos (pass-through) da alta do dólar no câmbio interno sobre os preços.
A oferta de mercadorias aumentou porque as exportações caíram e essas sobras estão sendo canalizadas para o mercado interno. E, de novembro para cá, o consumo despencou e já não pressiona os preços. Dois fatores determinam esse comportamento do consumidor: a redução do crédito e o adiamento das compras diante da percepção do consumidor de que a recessão e a crise colocam em risco seu emprego. Além disso (e talvez também por causa disso), o comércio e a indústria já não estão repassando a alta do dólar para os preços porque sabem que os deixariam com encalhe de mercadoria.
Por aí se vê que se reforçam os fatores para que o Banco Central derrube os juros na próxima reunião do Copom agendada para os dias 20 e 21 de janeiro. Mas a inflação poderia cair ainda mais se a Petrobrás reduzisse os preços dos combustíveis a níveis compatíveis com os do mercado internacional. Os preços da gasolina estão calibrados para o petróleo a US$ 120 por barril (hoje, estão a US$ 35) e só não caem porque a Petrobrás mantém uma política nem um pouco transparente de preços. Veja, ainda, o Confira.
Dá para dizer que a Petrobrás hoje é um obstáculo a uma queda maior da inflação e é obstáculo para que os juros caiam mais rapidamente.
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