O ex-ministro da Fazenda Rubens Ricupero, profundo conhecedor da economia brasileira, antevê com confiança o futuro do Brasil, mas relaciona uma série de dificuldades, que vão além do cenário de crise na economia internacional. Personagem destacado na implantação do Plano Real, ex-secretário geral da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad), Ricupero vê como problemas brasileiros o baixo nível da educação pública, "essencial para a melhoria da qualidade de nossas instituições públicas", e, no cenário de turbulência econômica atual, o déficit nominal no orçamento do País, sinônimo de falta de dinheiro para cobrir seus próprios gastos, com o agravante da baixa poupança interna, na faixa de 17% do Produto Interno Bruto (PIB).
Nesta entrevista à Gazeta Mercantil, ele fala também da dependência que o País tem da exportação de commodities, como os produtos agrícolas, dos juros elevados, do custo da intermediação bancária, dos problemas de infra-estrutura e da reforma trabalhista. "A história vai censurar o presidente Lula por não ter tratado da reforma", afirma. Diplomata aposentado, diretor da Faculdade de Economia da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), em São Paulo, Ricupero entende que o Brasil deve investir em sua imagem de potência mundial em meio ambiente e destaca que, diante da crise, o País tem uma "vantagem enorme" em relação a outras nações. Aponta como grande diferença a operação de bancos muito sólidos. Segundo o ex-ministro , o crescimento brasileiro em 2009 não ultrapassará em muito os 2%, na melhor das hipóteses. Ricupero considera que a crise nos Estados Unidos e no mundo deve durar até o final do ano novo. "Mas hoje não é possível eliminar a possibilidade de um resultado pior", ressalva.
Leia a entrevista de Rubens Ricupero:
Gazeta Mercantil - Qual sua maior preocupação com a crise econômica internacional, a partir dos Estados Unidos, que já irradia seus efeitos negativos para o Brasil?
Fico preocupado, se forem confirmadas as previsões mais pessimistas de que a crise econômica será longa, superior a cinco anos, como aconteceu com o Japão, com a estagnação que aconteceu na década de 1990. Mas espero um cenário mais positivo, que dure até o fim do próximo ano, 2009. E que seja relativamente moderada nos Estados Unidos, com crescimento de 1% a 2% no ano, recuperando-se mais vigorosamente em 2010. Porém, não é possível hoje eliminar a possibilidade de um cenário pior.
Gazeta Mercantil - Como o senhor avalia a reação do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, diante da crise?
No início, foi uma tentativa de negar a realidade sobre a gravidade da situação. Depois, houve uma evolução e o governo tomou algumas medidas muito corretas, a exemplo da oferta de linhas de crédito para exportações, do uso de reservas para empréstimos a empresas com dívidas a renovar, socorro aos setores agrícola, imobiliário e automobilístico. No entanto, a reação oficial parece ainda insuficiente, tanto na avaliação da gravidade das conseqüências para a economia, como a queda de produção e a pressão sobre as taxas de câmbio, como na falta até o momento de uma decisão clara de reduzir os gastos correntes do governo, sobretudo os aumentos com pessoal e viagens etc. O governo e os parlamentares não revelam ainda um clima de premência e austeridade, quando os cortes de gastos são necessários e urgentes.
Gazeta Mercantil - Apesar do cenário global negativo, o Brasil terminará este ano com crescimento do PIB superior a 5%. Qual sua expectativa para o próximo ano?
Infelizmente, acho que teremos um crescimento muito baixo, que não ultrapassará em muito os 2%, na melhor das hipóteses. É possível que a crise tenha um impacto mais grave no Brasil no primeiro semestre do ano novo, pois a queda da economia mundial está sendo muito rápida.
Gazeta Mercantil - O Brasil beneficiou-se adequadamente do período de crescimento da economia mundial?
O País, na verdade, só começou a crescer em 2003, na fase final do período de expansão mundial. A conjuntura favorável ocorreu no momento em que o Brasil mudava de governo (de Fernando Henrique Cardoso para Luiz Inácio Lula da Silva). Nós aproveitamos uma pequena parte.
Gazeta Mercantil - É um consolo o fato de o Brasil ter, na economia, condições relativas melhores que outros países - inclusive o Japão e os europeus - para enfrentar a crise?
Sem dúvida, sem dúvida. É um grande fator positivo concreto. Ter um sistema bancário que não foi afetado, como é o caso brasileiro, é uma diferença tangível para melhor em relação às grandes economias, que deveriam dar exemplo, como os Estados Unidos e o Reino Unido. Temos uma vantagem enorme com o nível de nossas reservas (superiores a US$ 200 bilhões) e, a grande diferença, bancos muito sólidos.
Gazeta Mercantil - O senhor afirma que o Brasil só pode competir com os gigantes na área da agricultura. Não temos outros espaços no comércio exterior?
A minha afirmação não é absoluta. A política cambial do Banco Central tornava impossível uma melhoria do valor agregado das exportações, condenando o País, como no passado, a ter mercado externo somente para produtos com competitividade natural alta, diante da demanda chinesa, a exemplo dos agrícolas e ferro, as commodities. Não há registro na história de nenhum país em desenvolvimento que tenha dado salto de qualidade em exportações com elevado valor agregado das manufaturas, sem que tivesse praticado uma política de câmbio desvalorizado. O Brasil teve uma política de câmbio valorizado, o oposto do que fizeram China, Japão, Coréia. Cada vez mais a pauta de exportações passou a ser dominada por commodities, que também são importantes, mas mais vulneráveis em momento de crise econômica.
Gazeta Mercantil - Como o senhor analisa o câmbio hoje?
O câmbio brasileiro preocupa em razão de suas violentas oscilações, com o dólar acumulando uma desvalorização de quase 30% nas últimas semanas. Mas já não é mais valorizado, como antes. Além da questão do câmbio, que está sendo corrigida, temos um custo de investimento muito alto, dependente de taxa de juros muito elevada, e a intermediação bancária, a mais onerosa do mundo - ainda nem começamos a resolver esses assuntos. Há também a elevada carga tributária, de aproximadamente 40% do PIB, a burocracia muito pesada, os problemas de infra-estrutura nos transportes, na operação de portos e na área de seguros. Para termos uma pauta de exportações de valor agregado crescente, precisamos resolver isso tudo.
Gazeta Mercantil - Qual a importância, no cenário da crise, das economias dos países que formam o Bric (Brasil, Rússia, Índia e China)?
Sou reticente no uso da expressão bloco para os países do Bric. A Rússia está numa situação econômica dificílima, a Índia também enfrenta sérios problemas. A China é o único país que encontra espaço muito generoso para adotar medidas favoráveis à sua economia. Tem, por exemplo, uma taxa de poupança interna de 44% do PIB, enquanto no Brasil ela é de aproximadamente 17%. Os chineses, então, têm vastas reservas de recursos internos. O Brasil não. Só cresceu nos últimos anos com o crescimento do consumo com bom aporte de poupança externa, investimentos diretos e em bolsa, que diminuem com a saída de capitais em razão da crise. Não temos a capacidade para compensar isso. Tampouco dispomos de espaço de política fiscal, porque temos um déficit nominal no orçamento, se eliminarmos a idéia do chamado déficit primário, que desconsidera o pagamento dos juros. O Brasil não tem dinheiro para atender a todos os seus gastos e pagar os juros da dívida. Os Estados Unidos podem, por exemplo, aumentar sua dívida interna porque têm a moeda de referência no mundo, o dólar. Podem emitir papel, que seus títulos serão comprados.
Gazeta Mercantil - Ao lado de cuidar da economia, quais outras áreas deveriam merecer atenção especial do governo?
O presidente da Vale, Roger Agnelli, pediu recentemente a flexibilização das leis trabalhistas e sindicais. A história futura vai censurar o presidente Lula por não ter tratado desse assunto. Nenhum outro governante teve condições, como ele, que nasceu politicamente no movimento sindical, de fazer uma reforma trabalhista inteligente, que conciliasse a proteção dos direitos dos trabalhadores e o grau de competitividade que a economia exige. O que temos hoje é uma legislação de origem fascista italiana, atrasada, que emperra muito a economia. Ao mesmo tempo, nossos parlamentares têm um comportamento populista e demagogo diante do tema.
Gazeta Mercantil - O senhor agora atua no ensino superior. Estudo recente mostra que, na última etapa da educação básica, de cada dez alunos matriculados, somente seis concluem os estudos e estão aptos a obter uma graduação maior. Como o senhor avalia nossa educação?
A educação, infelizmente, merece uma nota muito baixa. Ao lado dela, o País precisa melhorar a qualidade de suas instituições públicas, incluindo a Justiça, que é demorada e ineficiente, o Congresso e o Executivo. Temos ilha de eficiência num oceano de desperdícios. A qualidade da educação é um problema grave em longo prazo. As escolas primárias e secundárias são muito ruins. O problema hoje não é mais a quantidade; é qualitativo, embora o atual ministro da Educação, Fernando Haddad, venha se esforçando para melhorar a escola pública. Hoje, quando o jovem chega ao ensino superior, vemos que só um pequeno grupo é capaz de escrever, falar e compreender o que lê. Assim, os nossos recursos humanos, no mercado de trabalho, são de baixa qualidade, o que é gravíssimo. Todo país que tem uma posição importante no mundo resolveu essa questão. Tudo gira em torno da educação, que é essencial também para a melhoria da qualidade de nossas instituições públicas.
Gazeta Mercantil - Qual sua percepção sobre o futuro brasileiro em meio a tantas dificuldades?
Em curto prazo, temos condições relativamente melhores que muitos outros países. Nosso sistema financeiro é sólido, temos recursos naturais que se valorizam no mundo - as descobertas de petróleo no pré-sal vão fazer a diferença. Além disso, temos um grau elevado de democracia e estabilidade política, mesmo com o baixo desempenho de nossas instituições públicas. O Brasil será beneficiado pelo bônus demográfico, com o crescimento moderado da população. Podemos crescer menos economicamente, que no passado, para ter igual resultado. Vejo o futuro com confiança. Não temos, mesmo em comparação com os países do Bric, problemas raciais e religiosos - estamos em paz com nossos vizinhos há 138 anos. Os problemas de nossas instituições e da educação são perfeitamente solúveis.
Gazeta Mercantil - Qual o grande potencial do País?
Tenho insistido muito que o Brasil é uma potência mundial ambiental, e o governo deveria dar maior atenção a isso. Está aqui a maior floresta tropical do mundo; a maior reserva de biodiversidade biológica do planeta; a maior reserva de água doce, que ganha cada vez mais importância. Temos também uma matriz energética relativamente limpa porque temos as usinas hidrelétricas. O Brasil, além de tudo isso, é o único país que tem no mundo uma experiência de 35 anos, em escalas gigantes, na área de biocombustível, desde o carro a álcool. A experiência dos demais ainda se encontra, praticamente, em nível de laboratório. Não haverá solução dos problemas do mundo sem a participação brasileira, mas temos de resolver o controle do meio ambiente, evitar o desmatamento na Amazônia, estabelecer um zoneamento para seu uso e acabar com a exploração predatória.
Gazeta Mercantil - Qual sua maior preocupação com a crise econômica internacional, a partir dos Estados Unidos, que já irradia seus efeitos negativos para o Brasil?
Fico preocupado, se forem confirmadas as previsões mais pessimistas de que a crise econômica será longa, superior a cinco anos, como aconteceu com o Japão, com a estagnação que aconteceu na década de 1990. Mas espero um cenário mais positivo, que dure até o fim do próximo ano, 2009. E que seja relativamente moderada nos Estados Unidos, com crescimento de 1% a 2% no ano, recuperando-se mais vigorosamente em 2010. Porém, não é possível hoje eliminar a possibilidade de um cenário pior.
Gazeta Mercantil - Como o senhor avalia a reação do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, diante da crise?
No início, foi uma tentativa de negar a realidade sobre a gravidade da situação. Depois, houve uma evolução e o governo tomou algumas medidas muito corretas, a exemplo da oferta de linhas de crédito para exportações, do uso de reservas para empréstimos a empresas com dívidas a renovar, socorro aos setores agrícola, imobiliário e automobilístico. No entanto, a reação oficial parece ainda insuficiente, tanto na avaliação da gravidade das conseqüências para a economia, como a queda de produção e a pressão sobre as taxas de câmbio, como na falta até o momento de uma decisão clara de reduzir os gastos correntes do governo, sobretudo os aumentos com pessoal e viagens etc. O governo e os parlamentares não revelam ainda um clima de premência e austeridade, quando os cortes de gastos são necessários e urgentes.
Gazeta Mercantil - Apesar do cenário global negativo, o Brasil terminará este ano com crescimento do PIB superior a 5%. Qual sua expectativa para o próximo ano?
Infelizmente, acho que teremos um crescimento muito baixo, que não ultrapassará em muito os 2%, na melhor das hipóteses. É possível que a crise tenha um impacto mais grave no Brasil no primeiro semestre do ano novo, pois a queda da economia mundial está sendo muito rápida.
Gazeta Mercantil - O Brasil beneficiou-se adequadamente do período de crescimento da economia mundial?
O País, na verdade, só começou a crescer em 2003, na fase final do período de expansão mundial. A conjuntura favorável ocorreu no momento em que o Brasil mudava de governo (de Fernando Henrique Cardoso para Luiz Inácio Lula da Silva). Nós aproveitamos uma pequena parte.
Gazeta Mercantil - É um consolo o fato de o Brasil ter, na economia, condições relativas melhores que outros países - inclusive o Japão e os europeus - para enfrentar a crise?
Sem dúvida, sem dúvida. É um grande fator positivo concreto. Ter um sistema bancário que não foi afetado, como é o caso brasileiro, é uma diferença tangível para melhor em relação às grandes economias, que deveriam dar exemplo, como os Estados Unidos e o Reino Unido. Temos uma vantagem enorme com o nível de nossas reservas (superiores a US$ 200 bilhões) e, a grande diferença, bancos muito sólidos.
Gazeta Mercantil - O senhor afirma que o Brasil só pode competir com os gigantes na área da agricultura. Não temos outros espaços no comércio exterior?
A minha afirmação não é absoluta. A política cambial do Banco Central tornava impossível uma melhoria do valor agregado das exportações, condenando o País, como no passado, a ter mercado externo somente para produtos com competitividade natural alta, diante da demanda chinesa, a exemplo dos agrícolas e ferro, as commodities. Não há registro na história de nenhum país em desenvolvimento que tenha dado salto de qualidade em exportações com elevado valor agregado das manufaturas, sem que tivesse praticado uma política de câmbio desvalorizado. O Brasil teve uma política de câmbio valorizado, o oposto do que fizeram China, Japão, Coréia. Cada vez mais a pauta de exportações passou a ser dominada por commodities, que também são importantes, mas mais vulneráveis em momento de crise econômica.
Gazeta Mercantil - Como o senhor analisa o câmbio hoje?
O câmbio brasileiro preocupa em razão de suas violentas oscilações, com o dólar acumulando uma desvalorização de quase 30% nas últimas semanas. Mas já não é mais valorizado, como antes. Além da questão do câmbio, que está sendo corrigida, temos um custo de investimento muito alto, dependente de taxa de juros muito elevada, e a intermediação bancária, a mais onerosa do mundo - ainda nem começamos a resolver esses assuntos. Há também a elevada carga tributária, de aproximadamente 40% do PIB, a burocracia muito pesada, os problemas de infra-estrutura nos transportes, na operação de portos e na área de seguros. Para termos uma pauta de exportações de valor agregado crescente, precisamos resolver isso tudo.
Gazeta Mercantil - Qual a importância, no cenário da crise, das economias dos países que formam o Bric (Brasil, Rússia, Índia e China)?
Sou reticente no uso da expressão bloco para os países do Bric. A Rússia está numa situação econômica dificílima, a Índia também enfrenta sérios problemas. A China é o único país que encontra espaço muito generoso para adotar medidas favoráveis à sua economia. Tem, por exemplo, uma taxa de poupança interna de 44% do PIB, enquanto no Brasil ela é de aproximadamente 17%. Os chineses, então, têm vastas reservas de recursos internos. O Brasil não. Só cresceu nos últimos anos com o crescimento do consumo com bom aporte de poupança externa, investimentos diretos e em bolsa, que diminuem com a saída de capitais em razão da crise. Não temos a capacidade para compensar isso. Tampouco dispomos de espaço de política fiscal, porque temos um déficit nominal no orçamento, se eliminarmos a idéia do chamado déficit primário, que desconsidera o pagamento dos juros. O Brasil não tem dinheiro para atender a todos os seus gastos e pagar os juros da dívida. Os Estados Unidos podem, por exemplo, aumentar sua dívida interna porque têm a moeda de referência no mundo, o dólar. Podem emitir papel, que seus títulos serão comprados.
Gazeta Mercantil - Ao lado de cuidar da economia, quais outras áreas deveriam merecer atenção especial do governo?
O presidente da Vale, Roger Agnelli, pediu recentemente a flexibilização das leis trabalhistas e sindicais. A história futura vai censurar o presidente Lula por não ter tratado desse assunto. Nenhum outro governante teve condições, como ele, que nasceu politicamente no movimento sindical, de fazer uma reforma trabalhista inteligente, que conciliasse a proteção dos direitos dos trabalhadores e o grau de competitividade que a economia exige. O que temos hoje é uma legislação de origem fascista italiana, atrasada, que emperra muito a economia. Ao mesmo tempo, nossos parlamentares têm um comportamento populista e demagogo diante do tema.
Gazeta Mercantil - O senhor agora atua no ensino superior. Estudo recente mostra que, na última etapa da educação básica, de cada dez alunos matriculados, somente seis concluem os estudos e estão aptos a obter uma graduação maior. Como o senhor avalia nossa educação?
A educação, infelizmente, merece uma nota muito baixa. Ao lado dela, o País precisa melhorar a qualidade de suas instituições públicas, incluindo a Justiça, que é demorada e ineficiente, o Congresso e o Executivo. Temos ilha de eficiência num oceano de desperdícios. A qualidade da educação é um problema grave em longo prazo. As escolas primárias e secundárias são muito ruins. O problema hoje não é mais a quantidade; é qualitativo, embora o atual ministro da Educação, Fernando Haddad, venha se esforçando para melhorar a escola pública. Hoje, quando o jovem chega ao ensino superior, vemos que só um pequeno grupo é capaz de escrever, falar e compreender o que lê. Assim, os nossos recursos humanos, no mercado de trabalho, são de baixa qualidade, o que é gravíssimo. Todo país que tem uma posição importante no mundo resolveu essa questão. Tudo gira em torno da educação, que é essencial também para a melhoria da qualidade de nossas instituições públicas.
Gazeta Mercantil - Qual sua percepção sobre o futuro brasileiro em meio a tantas dificuldades?
Em curto prazo, temos condições relativamente melhores que muitos outros países. Nosso sistema financeiro é sólido, temos recursos naturais que se valorizam no mundo - as descobertas de petróleo no pré-sal vão fazer a diferença. Além disso, temos um grau elevado de democracia e estabilidade política, mesmo com o baixo desempenho de nossas instituições públicas. O Brasil será beneficiado pelo bônus demográfico, com o crescimento moderado da população. Podemos crescer menos economicamente, que no passado, para ter igual resultado. Vejo o futuro com confiança. Não temos, mesmo em comparação com os países do Bric, problemas raciais e religiosos - estamos em paz com nossos vizinhos há 138 anos. Os problemas de nossas instituições e da educação são perfeitamente solúveis.
Gazeta Mercantil - Qual o grande potencial do País?
Tenho insistido muito que o Brasil é uma potência mundial ambiental, e o governo deveria dar maior atenção a isso. Está aqui a maior floresta tropical do mundo; a maior reserva de biodiversidade biológica do planeta; a maior reserva de água doce, que ganha cada vez mais importância. Temos também uma matriz energética relativamente limpa porque temos as usinas hidrelétricas. O Brasil, além de tudo isso, é o único país que tem no mundo uma experiência de 35 anos, em escalas gigantes, na área de biocombustível, desde o carro a álcool. A experiência dos demais ainda se encontra, praticamente, em nível de laboratório. Não haverá solução dos problemas do mundo sem a participação brasileira, mas temos de resolver o controle do meio ambiente, evitar o desmatamento na Amazônia, estabelecer um zoneamento para seu uso e acabar com a exploração predatória.