Foi um momento raro, em que todos foram ricos porque o arco-íris não era de ninguém, era de todos |
EXISTEM situações e fatos que aproximam ou afastam as pessoas. Das que afastam, uma das mais clássicas é a morte de um ente querido, sobretudo quando há uma herança a ser dividida.
Supondo que sejam três herdeiros, e que os bens sejam difíceis de dividir, tipo: um terreno em Cabo Frio, um apartamento valendo uns R$ 300 mil, um outro em torno de R$ 55 mil -se achar comprador- mais um sítio avaliado entre R$ 60 mil e R$ 180 mil -com propriedades rurais, nunca se sabe. O normal é que tudo seja vendido e o que for apurado dividido por três -e é aí que começa a briga.
Se um dos herdeiros estiver precisando muito de dinheiro, vai querer que tudo seja vendido por qualquer preço, para botar a mão no que é dele, e rapidinho. Mas o outro, que está bem de vida, não tem pressa, e se faz o tipo homem de negócios, vai querer vender só depois da crise, para que os imóveis se valorizem. Aí, já viu.
Outro fato que faz com que duas amigas que se adoravam se afastem é quando uma delas arranja um namorado. Ficar sozinha, enfrentar o fim de semana sem nada para fazer, enquanto a outra está passando o dela muito bem acompanhada, debaixo de um bom edredom, é impossível de suportar. E quando isso acontece entre uma amiga e um amigo, pior ainda. Era tão bom quando os dois passavam noites inteiras tomando um vinhozinho e desfilando teorias do tipo "depois dos 40 a gente fica mais seletivo, por isso é que não se encontra ninguém" -e por aí vai.
Em compensação, existem as circunstâncias que aproximam as pessoas. A luta política, por exemplo, ou melhor ainda: uma revolução. Nessa hora as almas ficam mais solidárias, mais generosas -e os corpos também-, e se encontram com maior facilidade. Bem maior, aliás, do que num barco fazendo um cruzeiro pela Grécia. Mas é bom deixar claro: só enquanto estiverem do lado que está perdendo. Se a situação virar e o grupo político que estava pronto para matar ou morrer pela justiça social for vitorioso, começa a luta pelo poder.
Uma situação que também faz com que as pessoas confraternizem calorosamente é a noite do Réveillon. Às 11 e meia os corações começam a se aquecer, e à meia-noite você pode estar dando um beijo no dono da barraquinha de coco e desejando, a ele e ao mundo, um feliz Ano-Novo com toda a sinceridade do mundo. São bons momentos, esses, mas que só acontecem uma vez por ano, com data e hora marcadas. Mas uma vez eu presenciei um instante mágico, totalmente inesperado, que uniu todos os que estavam por perto.
Eram 5h30 da tarde, e de repente surgiu no céu um arco-íris completo, perfeito, lindo; um arco-íris como nunca ninguém viu na vida um tão bonito. Nas ruas, as pessoas mais humildes se dirigiam às mulheres mais elegantes, as mulheres mais elegantes aos camelôs, os camelôs aos corretores da Bolsa, os corretores da Bolsa aos contínuos, todos sorrindo felizes, e apontando: "Você viu o arco-íris?"
Foi um momento raro, em que todos foram ricos porque o arco-íris não era de ninguém, era de todos.
E por alguns minutos se sentiu o que é a verdadeira igualdade e fraternidade entre os homens.