Entrevista:O Estado inteligente
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domingo, dezembro 07, 2008
Augusto Nunes-SETE DIAS
A crise chegou? Sorria, Brasil
"Você é feliz?", perguntou o jornalista a Tonia Carrero. "Sou", fez uma ligeiríssima pausa a grande atriz. "Várias vezes ao dia". Bela, talentosa, vencedora, rica, bem-sucedida o que estaria faltando a essa rainha dos palcos? Nada. Ocorre que Tonia pensa. Quem tem a cabeça em bom estado, e não concede férias ao cérebro, sabe que não existe a dor que nunca passa, mas não se pode ser feliz o tempo inteiro. É assim com as pessoas. É assim, por conseqüência, com os países. Não no Brasil, ressalvam os resultados da pesquisa divulgada na quinta-feira pelo Datafolha. O governo Lula é considerado ótimo ou bom por 70% dos entrevistados o maior índice obtido por um presidente desde o fim da ditadura. O levantamento também garante que 61% estão plenamente satisfeitos com a situação econômica e 78% acreditam que a vida vai ficar ainda melhor em 2009. "Os brasileiros ainda não sentiram os efeitos da crise econômica", acha Mauro Paulino, diretor do Datafolha. Segundo a pesquisa, 72% sabem, bem ou mal, que problemas financeiros andam tirando o sono de muita gente. Longe daqui. Já faz algum tempo, Lula deu por resolvidos problemas acumulados em cinco séculos de incompetência, avisou que logo cuidaria do pouco que restava, comunicou que nunca antes neste país houve um governante tão formidável e ordenou ao Brasil que fosse feliz todos os dias. Quem tem motivos para viver em estado de graça no paraíso que Deus poupou de catástrofes naturais e Lula blindou contra desastres econômicos? Só os napoleões de hospício, os que babam na gravata e os que acordam e dormem torcendo pelo insucesso do ex-operário genial. A seqüência de pesquisas avisa que a tribo hoje não passa de 7% e caminha para a extinção. Em contrapartida, a grande maioria acatou a decretação da felicidade permanente e resolveu ficar mais feliz sempre que se conjugam um claro sinal de perigo e uma maluquice do Grande Pastor. A marca dos 70% foi alcançada ao fim dos três dias em que Lula jurou que haverá emprego para todos e a Vale demitiu 1.300. Lula explicou que a crise vai fortalecer o Brasil, embora a inflação tenha ficado mais musculosa. Deve-se presumir que, graças à medonha conjunção dos astros ocorrida na quinta-feira, a próxima pesquisa acusará outro salto no índice de popularidade. Excitado com a cavalgada do dólar, uma das muitas evidências de que a marolinha quer ser tsunami quando crescer, Lula fundiu a indigência intelectual com o apreço pela vulgaridade e foi à luta. "Quando o mercado tem uma dor de barriga, e nesse caso foi uma diarréia braba, quem é chamado? O Estado", berrou no meio do improviso. Em seguida, incorporou um médico examinando o doente em estado grave para justificar o otimismo inabalável. "O que você fala? Dos avanços da medicina ou olha pra ele e diz: meu, sifu?". Sabe-se agora que o doutor Lula acha que o Brasil sifu. Só não conta para não apavorar o doente. Se reincidir nessas metáforas numa semana ruim, os brasileiros passarão da felicidade à euforia. E Lula chegará aos 100%.
Esse secretariado
é de meter medo
Abalados pela nomeação de Jandira Feghali para secretária das Culturas, milhares de cariocas quase foram a nocaute com as duas pancadas desferidas por Eduardo Paes. Levou-os às cordas a criação de uma Secretaria do Envelhecimento Saudável e Qualidade de Vida chefiada por Cristiane Brasil, filha de Roberto Jefferson e mãe de idéias de alta periculosidade. E continuam grogues com a promoção de Chiquinho da Mangueira a secretário de Esportes. Falta só um Babu para que, concluída a formação do secretariado, o prefeito eleito do Rio seja obrigado a lidar com algum processo por formação de quadrilha ou bando.
Três cardeais e
um milagreiro
O silêncio dos cardeais Fer- nando Henrique Cardoso, José Serra e Aécio Neves sugere que a sereníssima trindade tucana não decifrou por inteiro o mistério da Paraíba, protagonizado pelo irmão Cássio Cunha Lima. Sempre mais ansiosos, os representantes do baixo clero do PSDB decidiram que o erro do bispo nordestino foi fechar os olhos à trama forjada por outras igrejas. Se a trinca avalizar a absolvição do suspeito, ficará estabelecido que ocorreu na diocese de João Pessoa não uma compra de votos no atacado, mas o milagre da multiplicação dos cheques. Nesse caso, o suposto pecador é mais que um inocente. É meio santo.
Natal do perdão
esquece ministro
Líder do movimento Im- punidade para Todos, fundado para lutar pela uniformização do tratamento dispensado aos fora-da-lei engravatados, o escritor Wilson Gordon Parker não entende por que o Natal do perdão esqueceu Paulo Medina, ministro do Superior Tribunal de Justiça reduzido a réu pelo STF. Em uma semana, Paulinho da Força foi resgatado pelo bando multipartidário de comparsas, Daniel Dantas soube que não cumprirá uma pena bem mais branda que a merecida, Cássio Cunha Lima conseguiu ficar no velho esconderijo. Por que Medina ainda não foi premiado com o habeas corpus preventivo?
O poeta dos mares vira bicho em terra
O diplomata Arnaldo Carrilho exibe alternadamente a alma lírica e o coração beligerante. Em 2005, escalado para ajudar o Brasil a obter uma vaga no Conselho de Segurança da ONU, suspendeu o descanso no consulado em Sydney e redescobriu o arquipélago de Kiribati. "O casarão do bispo é espampanantemente volumoso", informa o relatório transformado pelo autor num monumento à poesia em prosa. Com o presidente, trocou idéias sobre "os clássicos do cinema que passeiam pela região, desvinculados de estereotipias folclorizantes e paternalistas à maneira hollywoodiana". Uma nativa lhe disse em inglês que o achou muito bonito. Só não conseguiu o voto de Kiribati. Em 2006, designado para servir a pátria junto à Autoridade Palestina, o sensível cabo eleitoral do Pacífico pousou na zona conflagrada ansioso por barulhos. Enquanto circulou pela região, Israel correu o risco de sumir do mapa. Carrilho jurou que nem o Hamas é terrorista, exigiu que as tropas invasoras sumissem dos territórios ocupados e pregou a extinção sumária do Estado judeu. Neste novembro, Carrilho foi escalado para inaugurar a embaixada brasileira na Coréia do Norte. O Senado aprovou a indicação sem lhe perguntar o que pretende fazer por lá. Talvez sugira a edição do primeiro guia turístico em português. Talvez proponha um ataque nuclear à Coréia do Sul.
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