Entrevista:O Estado inteligente

sábado, setembro 20, 2008

Auto-Retrato Steve Martin

Lucas Jackson/Reuters
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• Trecho do livro


Um dos grandes nomes da comédia americana, Steve Martin, 63 anos, tem o livro Nascido para Matar... de Rir (Editora Matrix) lançado nesta semana no Brasil. Relato sobre sua formação artística, a obra também traz revelações íntimas – fala, em especial, de sua relação difícil com o pai. Martin, que em 2009 será visto no cinema interpretando pela segunda vez o personagem Inspetor Clouseau, da série A Pantera Cor-de-Rosa, falou ao repórter Sérgio Martins.

Além de ser um relato sobre seu período de formação como comediante, Nascido para Matar... de Rir é um ajuste de contas com seus pais. De onde veio a necessidade de expor sua história íntima? A intenção inicial era apenas recordar meu início na comédia. Logo ficou claro que não daria para tocar nesse assunto e ignorar minhas relações familiares. Se meus pais tivessem sido normais, eu nem seria um comediante. No fim das contas, o livro virou uma espécie de exorcismo. Pus tudo para fora e não quero me aprofundar nesse assunto novamente.

Seu pai foi um fracassado? Meu pai era incapaz de demonstrar afeto pelos filhos. Creio que essa dificuldade nasceu da frustração – ele queria ser ator, mas teve de se contentar com um emprego de corretor de imóveis para sustentar a família. E você deve saber que nós, americanos, temos problemas para aceitar o fracasso. Durante toda a vida, tive sérios conflitos com meu pai. Somente à beira da morte ele reconheceu que eu tinha talento. Foi bom saber que meu pai gostava de mim.

O livro tem revelações embaraçosas. O senhor ainda toca banjo?Toco banjo muito bem. Gosto de bluegrass, que é uma música country com influência do jazz e do blues, e acabo de gravar um disco de composições próprias, no qual canto e toco banjo. Mas não uso mais roupa de caubói, como costumava fazer. Nos anos 60 e 70, a gente queria ser vanguarda, buscava sempre o novo e o inusitado. Mas me vestir de caubói foi desnecessário. Eu me arrependo de ter usado aqueles trajes para tocar banjo.

O senhor jura que nunca usou drogas? É verdade. Quando atuei emSaturday Night Live, nos anos 70, todo mundo usava drogas – eu era o único careta. Felizmente, agia de modo tão estranho que meus colegas sempre achavam que eu estava doidão. Experimentei maconha quando tinha 21 anos. Tive um ataque de pânico e nunca mais toquei naquilo. Fui tão maconheiro quanto o roteirista Dalton Trumbo, que fumava maconha como quem fuma charuto. Passou anos assim, até que um dia sua filha Mitzi, minha ex-namorada, descobriu e lhe explicou que a erva só faria o efeito desejado se ele tragasse a fumaça.

Quem é o melhor Inspetor Clouseau: o senhor ou Peter Sellers? Eu seria louco se dissesse que sou o melhor. Aceitei fazer A Pantera Cor-de-Rosa porque ali há muita comédia física, que eu adoro.

Desde o início o senhor optou pela comédia física, no lugar de um humor mais cerebral. Por quê? Porque era a referência que eu tinha de comédia. Quando criança, assistia aos filmes de Jerry Lewis na televisão. Quando decidi me tornar um comediante, foi muito natural seguir essa vertente de humor. Que continua vicejando. Dois dos maiores comediantes da atualidade, Jim Carrey e Mike Myers, são especialistas em comédia física. Nada mau, não?

O senhor soa muito sério. Comediantes são pessoas sérias na vida real? Não, comediantes são até engraçados. É que eles, como qualquer ser humano, sofrem de variações de humor. Eu mesmo sou uma pessoa agradável e muito engraçada quando estou entre amigos. Mas tenho uma enorme dificuldade em conversar com jornalistas.

 

"Se meus pais tivessem sido normais, 
eu nem seria um comediante"

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