O empresário Eike Batista diz que deve reduzir seus investimentos em siderurgia por causa dos problemas causados pelo uso de carvão vegetal; diz que, se a Funai não autorizar a remoção dos índios de Peruíbe, vai abandonar o projeto do porto. Seu próximo negócio: produção de madeira certificada da Amazônia. Envolvido em várias controvérsias ambientais, Eike garante que pensa o Brasil do futuro.
Eike Batista é um empreendedor nato, gosta de correr riscos, capta bilhões no exterior, compete por prazer.
Está em várias áreas: prospecção de petróleo, mineração, siderurgia, hotelaria, energia, restaurantes, portos.
Suas empresas, EBX, MMX, várias, todas com x no nome, poderiam ser o novo capitalismo, mas o xis da questão com Eike Batista é que ele está envolvido em várias controvérsias ambientais e defende a ajuda do Estado aos empresários, como o modelo coreano dos anos 70.
Os 23 minutos da entrevista que gravei com ele na Globonews foram poucos para tanta polêmica. Uma delas é o carvão usado por sua siderúrgica no Pantanal. Na última semana, o Ibama multou cinco carvoarias que produziam carvão ilegal e que fornecem para empresas de Corumbá, entre elas, a de Eike. Ele disse que não soube do fato, mas garantiu: — Só compramos carvão certificado de Mato Grosso.
As pessoas esquecem que, quando se está desmatando, o errado é tacar fogo e tudo virar cinzas, poluir rios. Nas áreas que estão sendo desmatadas, é preciso fazer o carvão vegetal, para ter um uso efetivo. A nossa produção de ferro-gusa de Corumbá está lastreada em eucalipto que está sendo plantado em 500 hectares.
Ele disse que, enquanto o eucalipto cresce, usa madeira da região.
— O projeto foi concebido baseado no potencial existente de área de madeira certificada na região, se não, não faríamos o projeto. É um negócio pequeno, tínhamos jazida lá, e a produção de gusa é velha demanda da região. O gusa se faz com carvão vegetal. Estamos recebendo madeira hoje dessa fronteira agrícola que está sendo desmatada.
Perguntei se é, então, sócio do desmatamento. Ele respondeu que é sócio da madeira tirada de forma legal, mas informou que está quase desistindo do negócio.
— Achamos que essa área cria tanto problema e é tão pequena no contexto, que vamos inverter isso.
Eike selou, nesta última semana, as pazes com o governo boliviano e hoje até justifica ter sido expulso da Bolívia. Comentou que, se fosse estadista, faria a mesma coisa.
— O presidente Evo assumiu depois de 400 anos de exploração, de muita corrupção.
É natural que quisesse romper com o passado e começar do zero. É um pensamento revolucionário.
Ele contou que foi atingido porque seu projeto siderúrgico estava na área controlada por um inimigo político de Evo Morales, mas que ouviu agora do vice-presidente boliviano, Álvaro Linera, que é bemvindo ao país. Mesmo assim, vai desistir do projeto.
— Por causa de todos esses ataques que sofremos pelo carvão, não me interessa mais fazer essa unidade.
Vou reduzir a presença na siderurgia.
Outra polêmica: ele está construindo uma termelétrica a carvão mineral no Ceará, e o temor é a poluição causada por essa fonte de energia.
— É importante esclarecer que é uma nova forma de geração térmica a carvão. A queima limpa do carvão, que eleva o custo do projeto. Em vez de gastar 1.500 dólares o megawatt, são 2.500 dólares para pôr todos os filtros e cumprir exigência do mais alto padrão — afirma.
Ele repetiu, na entrevista, que olha e pensa “o Brasil daqui a 100 anos, o Brasil para os meus filhos”. Quis saber, então, por que escolhe setores tão velhos.
— Estamos aqui gastando um monte de energia. De onde vem essa energia? É um erro achar que energia solar e eólica são viáveis. O custo vai valer a pena em 2010, 2011. A energia nuclear voltou a ser aceita. A inteligência humana vai encontrar uma solução para seqüestrar o carbono emitido por carvão. Uma empresa espanhola está desenvolvendo um projeto de um catalisador, há a idéia de um tanque com algas que seqüestram carbono.
Eike contou também que vai investir na Amazônia, em produção de madeira certificada, em áreas públicas arrendadas. Não quis dizer o local exato.
Em Peruíbe, São Paulo, ele tem o projeto de um porto, mas um grupo de 52 famílias de índios se instalou no local.
Eike ofereceu aos índios a troca por um hotel fazenda, onde há uma plantação de palmito, mas tudo depende da autorização da Funai.
— Se a Funai não deixar, não fazemos o porto.
O empresário aproveita o mercado de capitais daqui e do exterior.
— Conseguimos captar, antes de os projetos estarem funcionando, em escala de bilhão.
Mesmo assim, concorda com os subsídios aos empresários brasileiros.
— Os coreanos criaram a Samsung, a Hyundai através dos “chaebols” (conglomerados).
Se o Brasil quiser dominar o mundo, ser líder, precisa dessa força do Estado, faz sentido refazer este modelo, a guerra é muito bruta.
Eike está otimista e diz que estão no Brasil 93% dos seus investimentos.
— É o melhor país do mundo, a plataforma do Brasil tem capacidade de gerar muita riqueza.
Garante que seus projetos são todos ambientalmente corretos, pois, do contrário, não conseguiria financiamento.
— Para você estar hoje na Bolsa de Valores, tem que ser assim. Tem cliente do mundo inteiro, fundo de pensão, você é vigiado em 360 graus, não dá para fazer o errado. Eu, que viajo pelo Brasil, fico envergonhado.
Na época da queimada, viajo quase uma hora de avião no meio da fumaça, entre Campo Grande e Corumbá.
Entrevista:O Estado inteligente
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