A polêmica união entre PT e PSDB em Belo Horizonte, para apoiar o candidato à prefeitura de um terceiro partido, o PSB, pode ser indicativo de uma ampla mobilização nacional para um projeto consensual de país, ou, se rejeitada, sinal da cristalização de uma disputa pelo poder que iguala desiguais e (des)norteia nossa vida política. É interessante notar que em ambos os casos os partidos políticos entram nessa história da mesma maneira: desfigurados, sem definições programáticas, cinicamente pragmáticos.
Se a aliança, pelo menos de maneira indireta, for liberada pela executiva nacional do PT, a candidatura de Marcio Lacerda à prefeitura de Belo Horizonte será apoiada não apenas pelos dois principais partidos políticos do país, como também por uma penca de outros, que podem literalmente dar-lhe a hegemonia da disputa, inviabilizando qualquer outra candidatura.
Até mesmo o PMDB estaria aceitando fazer parte desse condomínio político capitaneado pelo governador de Minas, Aécio Neves. Tamanha miscelânea partidária também é um sintoma da debilidade de nosso sistema democrático.
Da mesma maneira, no nível federal, o governo Lula, com base na mesma liderança que Aécio exerce em nível estadual, compõe um ministério hegemônico e extremamente heterogêneo. Os dois casos, no entanto, têm diferenças substanciais.
O governo Lula coopta os partidos com a intenção de manter um controle inquestionável do poder, e as diretrizes governamentais baseiam o projeto personalista de lulismo, com os partidos aliados aceitando o papel de coadjuvantes aos quais cabe apenas dividir o butim do Estado.
Embora baseado no mesmo esquema de cooptação generalizada, o projeto do governador de Minas acena com uma união nacional para colocar em prática um projeto de país, e já ensaia esse movimento no próprio Estado e na relação aberta com o PT através do prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, que obteve agora vitória no diretório estadual a favor da aliança.
Foi praticamente um empate técnico — 29 a 26, com três abstenções —, mas quem conhece os mecanismos de poder do PT em Minas sabe que essa vitória apertada significa mais do que os números indicam.
Dois pesos pesados do petismo mineiro, os ministros Patrus Ananias, do Desenvolvimento Social, e Luiz Dulci, da secretaria-geral da Presidência, cabalaram fortemente votos contra a aliança.
O prefeito Pimentel, cuja força política está na regional de Belo Horizonte, mostrou que já não é tão minoritário como se pensava na executiva estadual do partido.
O que só torna as questões políticas internas mais delicadas.
Pimentel, candidato ao governo de Minas em 2010 dentro desse espírito de conciliação, incomoda os demais caciques, tanto do PT quanto do PMDB mineiros.
Essa liderança ascendente de Pimentel e mais a força política do governador Aécio Neves estarão sendo avaliadas e julgadas pela direção nacional do PT quando chegar a hora de decidir em última instância pela aprovação da aliança PTPSDB em Minas.
Se, ao contrário, o PT nacional reafirmar o veto a um acordo que envolva o PSDB e o governador Aécio Neves, temendo seu poder de aglutinação com vistas a 2010, o partido estará selando sua marca registrada, a de não viabilizar alianças políticas.
E não se diga que apenas atrapalha uma união com o PSDB, por considerá-lo seu adversário preferencial. O PMDB, que jogaria o papel de aliado preferencial, também não consegue viabilizar alianças com o PT nas principais cidades do país. E em São Paulo, a vitrine tanto do PT quanto do PSDB, a situação é mais exemplar ainda desse isolamento petista.
A base partidária do governo federal se esfacelou em apoios os mais diversos, mas evitou se aliar com a candidata petista Marta Suplicy mesmo que ela demonstre nas pesquisas eleitorais que tem todas as condições de sair vencedora da disputa.
O prefeito Gilberto Kassab, do DEM, com o apoio do governador tucano José Serra, está fazendo uma limpa geral nos partidos, e até mesmo Geraldo Alckmin, candidato em litígio dentro de seu próprio partido, conseguiu fechar um acordo com o PTB.
A última esperança de Marta é o chamado Bloquinho, que une aliados históricos de Lula, como o PSB, PDT e PC do B, que não querem saber do PT.
A má vontade do PSB pode ser aplacada pela compreensão de que, para o partido, é importante o apoio do governador Aécio Neves para garantir a eleição de Marcio Lacerda à prefeitura.
Uma saída possível é a executiva nacional aprovar a união do PT com o PSB, e delegar ao partido socialista, como cabeça de chapa, a formação das alianças eleitorais na capital mineira.
Seria também uma indicação de que o PT respeita os interesses de seus aliados.
Mas, assim como no diretório estadual a decisão foi apertada, a Executiva Nacional estará sob diversas pressões, e o que sair desse choque de interesses pode antecipar a maior ou menor abertura a alianças em 2010.
Com as mesmas dificuldades de atuar num ambiente político-partidário carcomido por interesses personalistas e práticas nada republicanas, enquanto a maneira de fazer política do presidente Lula se aproxima cada vez mais do caudilhismo latino-americano, a do governador Aécio Neves aponta para uma visão moderna de Estado. Os dois estão juntos, no entanto, na tentativa de obrigar o PT a se abrir a alianças políticas.
Com a inflação ameaçando sair do controle, o PSDB vai aproveitar a data de 15 anos de implantação do Plano Real para fazer uma festa ao seu maior patrimônio político.
Amanhã, a Câmara de Vereadores do Rio, numa iniciativa da vereadora Andrea Gouvêa Vieira, dará a Medalha Pedro Ernesto aos economistas que fizeram parte da primeira equipe do ex-presidente Fernando Henrique no Ministério da Fazenda — André Lara Rezende, Edmar Bacha, Gustavo Franco, Pedro Malan e Pérsio Arida. O expresidente, em viagem à China, não estará presente.
Entrevista:O Estado inteligente
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