Entrevista:O Estado inteligente

sábado, maio 10, 2008

Milionárias vendem as jóias de família

Famílias ricas vendem quase tudo

Quem dará mais pelas jóias da viúva de
Roberto Marinho e da mãe de Athina Onassis?


Sandra Brasil

Fotos divulgação
Lily, com Roberto Marinho: o colar em formato de gola, que usava mais para agradar ao marido, estará no leilão em Genebra, assim como o conjunto de águas-marinhas (à dir.), o de safiras e o broche de coral em forma de carneiro

O que fazer quando os colares de esmeraldas são tantos que você até se confunde? Quando as águas-marinhas dignas de uma rainha, literalmente, perdem o encanto? Ou quando seu estilo não combina de jeito nenhum com um pingente de diamante de 38 quilates? Caso algum dia a leitora venha a ter esse tipo de problema, a resposta é fácil: leve os preciosos excedentes a leilão. Claro que precisa ser algo um tanto mais refinado do que as queimas de móveis ao estilo família rica vende tudo. Quando famílias muito ricas vendem alguma coisa, só existem dois lugares aonde podem ir: a Sotheby’s ou a Christie’s, as duas mais famosas casas de leilão do mundo. No dia 15, na Sotheby’s de Genebra, na Suíça, será leiloada mais ou menos metade da portentosa coleção de jóias que Lily Marinho ganhou de seus dois ricos e apaixonados maridos, Horácio de Carvalho, morto em 1983, e Roberto Marinho, que morreu em 2003. Aos 87 anos, ela já transcendeu a loucura por coisas brilhantes e enormes, inclinação nunca demonstrada pela jovem Athina Onassis, de 22 anos, única herdeira da mitológica família de armadores gregos e responsável por outro leilão de jóias com sobrenome importante. Quarenta valiosíssimas peças que pertenceram a sua mãe, Christina Onassis, serão leiloadas em 11 de junho na Christies’s de Londres. Casada com o paulistano Álvaro de Miranda Neto, ela compartilha com o marido uma paixão mais arrebatadora do que a que nutre pelas jóias: os cavalos. Em Genebra, a expectativa é que as 64 jóias de Lily arrecadem entre 5 e 8 milhões de francos suíços, ou mais de 10 milhões de reais. Em Londres, as jóias Onassis devem levantar o dobro: 8 milhões de libras, ou 25 milhões de reais.

Lily montou sua coleção ao longo das seis décadas em que esteve casada com dois dos mais poderosos empresários brasileiros. Carvalho, dono do jornal Diário Carioca, de duas dezenas de fazendas e de uma mina de ouro, incentivava a mulher, que havia conhecido em Paris. "Uma vez ele ligou para perguntar que jóia eu queria ganhar. Respondi: um anel de esmeralda. Ele chegou com dois conjuntos de colar e brincos de brilhantes, um com esmeraldas, o outro com safiras. Achei difícil escolher, e ele falou para ficar com os dois", conta. Viúva, protagonizou com Roberto Marinho, das Organizações Globo, uma história de amor tardia, mas embevecida e pontuada por preciosidades mais impressionantes ainda – ele não gostava que ela usasse jóias compradas por Carvalho. "Tive dois maridos que, além de bondosos, eram muito generosos. Eu era feliz e sabia", brinca. Entre as jóias que ganhou de Marinho e que agora vão a leilão, sua preferida é o par de brincos de brilhantes (mais de 11 quilates cada um), avaliados em 3,5 milhões de reais. O broche de coral em forma de cabeça de carneiro enfeitado com diamantes e uma esmeralda tem valor mais sentimental. Ela viu e gostou da peça numa viagem a Paris. Marinho fez de conta que não percebeu, pediu a uma amiga para comprar e a surpreendeu com o presente, já de volta ao Brasil. Estará à venda por 20.000 reais. "Em outra ocasião, em Nova York, ele deixou em cima do meu guardanapo um par de brincos de ouro e brilhantes assinados pela italiana Marina B", rememora Lily. Já o colar de ouro com brilhantes em formato de gola (30.000 reais), outro presente de Marinho, ela usou muito pouco: "Não combinava com meu estilo. Mas o Roberto nunca soube que eu não gostava". Dos agrados do primeiro marido, Lily tem carinho especial pelo colar de safiras com diamantes (115.000 reais) e pelo conjunto de colar, anel e brincos de águas-marinhas (135.000 reais) inspirado no que Assis Chateaubriand, então embaixador do Brasil em Londres, deu de presente à rainha Elizabeth. Com uma diferença para o lado da modéstia: "O dela tinha mais pedras e acompanhava uma coroa".

Eric Ryan/Getty Images
Christina e seu diamante de 38 quilates: a peça mais cara da coleção, que inclui ainda rubis e safiras

"Tenho mais uns três anos de vida com boa saúde. Vou vender tudo porque não quero briga entre os meus herdeiros: um filho e quatro netos de mães diferentes", diz, com o realismo possível no mundo encantado onde sempre viveu, brutalmente marcado quando seu único filho com o primeiro marido morreu num desastre de carro, aos 26 anos. O casal adotou João Baptista, hoje com 43 anos, residente em Miami. "Todo mundo tem defeito. Os do João Baptista são gostar de mulher e gastar dinheiro", avalia, com o mesmo realismo. Além das jóias na Sotheby’s de Genebra, levou a leilão em Nova York um retrato seu pintado pelo holandês Kees van Dongen ("Quer saber a verdade? Horácio, Roberto e eu nunca gostamos dele") e vai leiloar também nesta semana, no Rio de Janeiro, 2.000 peças, entre quadros, móveis, porcelanas, cristais, pratarias e lustres, estimados em 15 milhões de reais. A segunda metade das jóias, em que estão menos brilhantes e mais pedras, como a esmeralda, a sua preferida, ainda não foi avaliada, mas também será leiloada. Ela pretende ficar com pouca coisa – "Umas vinte peças de menor valor, para usar no dia-a-dia". Para completar, pôs à venda as últimas duas fazendas e o apartamento dúplex da Avenida Atlântica. "Um banco vai administrar todo o dinheiro, para que nada falte para meu filho e meus netos", planeja.

Simples, quieta, avessa a festas, maquiagem e enfeites, Athina Onassis é o exato oposto da milionária coberta de jóias. O tesouro legado pela mãe também não guarda boas lembranças: a deprimida e infeliz Christina Onassis morreu na banheira de um quarto de hotel em Buenos Aires aos 37 anos, oficialmente vítima de edema pulmonar. A pequena Athina foi morar com o pai e com a família paralela que ele tinha com uma bela sueca. A estrela do leilão das jóias da família Onassis brilhou em várias recepções no colo de Christina: o excepcional diamante de 38 quilates, avaliado em 7,2 milhões de reais. Também ofuscam a vista um colar Van Cleef & Arpels de rubis e diamantes (130.000 reais), outro de diamantes com pendente de safira (500.000 reais) e um buda de jade da Fabergé (1 milhão de reais) usado na decoração do iate de Aristóteles Onassis, o grego milionário de modos rudes que fez história ao se casar com Jacqueline Kennedy. Tudo isso é relevado no catálogo do leilão em que a coleção Onassis é anunciada como a "evocação de um mundo de glamour associado a um dos nomes mais emblemáticos do século XX".

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