É de conhecimento comum entre os políticos o aforismo que diz que, em política, só há dois fatos importantes: o fato consumado e o fato novo. Parecia fato consumado o fim da CPMI do Cartão Corporativo diante da constatação generalizada de que a ministra Dilma Rousseff havia se saído tão bem no seu depoimento, na Comissão de Infra-Estrutura do Senado, que não havia mais condições políticas de prosseguirem as investigações.
Foi o que disse o presidente do Senado, Garibaldi Alves, logo após as dez horas de depoimento.
É certo que a ministra não se saíra bem do ponto de vista objetivo, já que, mais uma vez, não conseguira explicar o caso do dossiê, e mantivera uma versão estapafúrdia de que um quinta-coluna da oposição havia manipulado o banco de dados para produzir um falso dossiê para comprometê-la.
E também é verdade que ficara evidente que o Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC, é mais um factóide do que realmente um plano estratégico de desenvolvimento do país. Todas essas ressalvas foram devidamente registradas aqui na coluna.
Mas, como os representantes da oposição, com raras exceções em alguns momentos, não conseguiram fazer com que prevalecesse essa percepção, a ministra tivera uma vitória política formidável, que certamente a fortaleceu dentro do governo e como possível candidata à sucessão de Lula.
Aí surgiu o fato novo, que a oposição não conseguira criar durante o depoimento da ministra, mas que a TV Globo levou para todo o país no “Jornal Nacional” na noite seguinte, menos de 24 horas depois.
Revelando que estava identificado o funcionário do Gabinete Civil que vazara o dossiê, a notícia mudou o curso do debate, a começar pelo fato de que, com a confirmação da sua existência, fica a ministra entre duas posições: ou foi traída por um assessor, ou está mentindo.
Na primeira hipótese, seria preciso que José Aparecido Nunes Pires, da Secretaria de Controle Interno da Casa Civil, tivesse intencionalmente montado um dossiê com os dados sobre os gastos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para divulgálo com o objetivo de criar embaraços para sua chefe atual. Por que faria isso? Sendo um militante petista com vastos serviços prestados ao partido, José Aparecido só poderia estar desempenhando alguma missão política de um determinado grupo partidário, qual seja prejudicar a ministra Dilma Rousseff, apontada como possível candidata do partido à sucessão de Lula. O quinta-coluna seria, portanto, não oposicionista, mas petista mesmo, mais um episódio de fogo-amigo dentro do PT.
O ex-ministro José Dirceu, que levou José Aparecido para dentro do Palácio do Planalto, garante que não tem nada a ver com o episódio, mas há controvérsias. No governo há quem acredite que ele está, sim, metido na manobra, incomodado com a visibilidade da sua sucessora e, mais ainda, tentando inviabilizar sua eventual candidatura.
Neste caso, o governo teria obrigação de vir a público denunciar o servidor e providenciar sua punição. Mas tudo parece se encaminhar para uma solução entre amigos, com o funcionário retornando ao Tribunal de Contas da União e com a garantia de que sua carreira não será prejudicada.
Mais uma vez, aquele que tem condições de revelar o que aconteceu nos bastidores recebe do partido e do governo as garantias de que nada sofrerá se ficar calado.
E a s s i m d e v e a c o n t e c e r quando ele for depor na CPMI do Cartão Corporativo.
Mas e se a ministra Dilma Rousseff estiver mesmo mentindo desde o início e o dossiê foi confeccionado a mando dela, para contra-atacar a oposição, que denunciava o uso abusivo de cartões corporativos pelo governo Lula e havia conseguido a demissão de uma ministra? Essa possibilidade foi deixada em aberto pela própria ministra, segundo relato de Elio Gaspari, não desmentido: “Quem ouviu a ministra Dilma Rousseff no jantar do Iedi de 20 de fevereiro, numa sala reservada do restaurante DOM, em São Paulo, não teve a menor dúvida: ela informou que o governo estava coletando dados para incriminar o governo de FFHH na farra dos cartões corporativos. Como já se passou mais de um mês, não é possível assegurar qual foi a palavra exata da comissária.
Pode ter sido ‘coletando’, ‘juntando’ ou ‘levantando’.
O tom era policial. Quando Dilma mostrou seus poderes aos 30 industriais reunidos no DOM, a companheira Erenice Alves Guerra já havia reunido sua tropa de elite no Palácio do Planalto”.
Fora o fato de que o senador Agripino Maia, mesmo tendo sido desastrado em sua pergunta, estaria correto no receio de que a ministra mentisse mesmo na democracia, o vazamento do dossiê seria, assim, uma traição à ministra, com a mesma intenção anterior de prejudicá-la, mas neste caso com uma diferença fundamental: o dossiê existia, fora mandado fazer com a intenção precípua de intimidar a oposição.
O petista histórico José Aparecido, orientado por alguém ou por conta própria, viu na sua divulgação antecipada uma oportunidade de prejudicar Dilma. E por isso aproveitou-se do conhecimento com um assessor do senador oposicionista Álvaro Dias para alertá-lo para a estratégia que estava sendo montada no Gabinete Civil.
Há ainda uma outra hipótese, a meu ver a mais frágil: o e-mail enviado por Aparecido ao assessor de Álvaro Dias já era, em si, a chantagem. Ao enviar a mensagem “olha o texto”, ele não estaria denunciando o dossiê, mas mandando um recado à oposição sobre o que o Gabinete Civil já havia levantado contra o ex-presidente tucano.
Em todas as hipóteses, o que menos importa é se o senador Álvaro Dias foi ou não a fonte para a divulgação do dossiê. Só seria relevante se o funcionário que o tivesse vazado fosse mesmo um tucano infiltrado no governo.
Nesse caso estaria configurada uma ação clandestina de sabotagem ao governo por parte de um oposicionista.
Como quem vazou o dossiê foi um “petista histórico”, não há possibilidade de haver dúvidas: ou foi fogo-amigo, ou foi chantagem política.
Ou os dois. Cabe agora à Polícia Federal, ao final do inquérito, definir as responsabilidades de cada um.
Entrevista:O Estado inteligente
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