Duas questões rondam a economia neste momento: A crise de crédito no mercado americano acabou? O ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga usou uma imagem médica: “A crise está controlada por cortisona, mas não houve cura.” A segunda questão: o que fazer diante da inflação que sobe aqui e em vários países do mundo? O que a gente aprendeu é que não deve ser tolerante com a inflação.
Uma questão está ligada à outra. O surto inflacionário mundial dificulta a saída da crise de crédito que atingiu as economias mais desenvolvidas.
Armínio acha que, ao contrário de outras vezes, depois de controlada a crise, não haverá retomada fácil do crescimento mundial; não se poderá pisar no acelerador: — No day after, haverá uma pressão inflacionária a enfrentar.
Ele avalia que, nos Estados Unidos, foram controlados os riscos imediatos, mas não os de longo prazo.
— O déficit em conta corrente está contido, mas não caiu, a economia estava muito alavancada, começa a reduzir o grau de alavancagem, mas não há ainda a garantia de que foram eliminados os piores cenários.
Por isso, Armínio acha que o crescimento será baixo, mesmo após passar a parte mais aguda da crise, em dois ou três trimestres.
— Dificilmente haverá a retomada daquele crescimento mundial que vigorou nos primeiros cinco anos do governo Lula.
Com este pano de fundo, o Brasil enfrenta velhos dilemas: como conter os riscos inflacionários? Como garantir o crescimento? Nas duas últimas semanas, entrevistei o atual presidente do BC e o ministro da Fazenda.
Ambos garantem que o país não pode ser tolerante com a inflação, mas Guido Mantega e Henrique Meirelles claramente divergem sobre o que é não ser tolerante. Isso está nas entrelinhas do que dizem, e nas explicações que dão sobre o momento atual.
Mantega acha que a demanda agregada é o “nosso tesouro”, não deve ser ameaçada.
Acredita que os juros não serão eficazes para o tipo de inflação que vivemos, com um choque de oferta externo, e diz que eles podem reduzir a demanda agregada. É fácil entender que Mantega se sente ameaçado de perder “o tesouro” se o Banco Central continuar subindo os juros.
E como está a demanda, afinal? Esta semana saiu um número de produção industrial menor que as previsões, mas números de setores impressionam.
Dois deles, principalmente: produção e venda de automóveis e construção civil. Com os juros mais baixos, mais prazos de pagamento e o aumento da renda, cresceu muito a procura por casa e carro.
Os dados da indústria automobilística são espantosos: comprou-se entre janeiro e abril 1/3 a mais de carros, caminhões, entre outros, que no mesmo período do ano passado. E isso depois de um 2007 já muito bom. O setor diz que este primeiro semestre herdou a aceleração do último semestre de 2007, mas que a tendência é desacelerar e terminar o ano com um crescimento de “apenas” 17% a 20%. Ano passado foi 35%.
Desde 2003, a produção dessa indústria aumentou 62% e o licenciamento, 78%.
Isso mostra que está aumentando mais o que é destinado ao mercado interno.
O setor está aquecido e, neste ambiente, fica mais fácil repassar pressões internacionais de preço de matériasprimas, como a do aço.
Outro setor que traz ânimo à economia é um que ficou parado muito tempo: a construção civil. O país está enfrentando seu enorme déficit habitacional. Hoje, diz o presidente do Sinduscon-Rio, Roberto Kauffmann, existem 80 mil famílias no Rio com capacidade de comprar imóveis entre R$ 80.000 e R$ 120.000. Depois dos condomínios que lotaram a Barra, agora vêm os projetos na Baixada Fluminense e em bairros da periferia. Luis Largman, diretor de RI da Cyrela, conta que, no ano passado, foram lançados no Brasil cerca de 300 mil imóveis residenciais, mas a demanda, calcula, é de 1 milhão. O empréstimo imobiliário equivale a 2,5% do PIB brasileiro, e é de 9% no México e 13%, no Chile.
O diretor do Sindicato da Indústria do Cimento José Otavio Carvalho admite que foi no segundo semestre do ano passado que os sinais do aquecimento ficaram evidentes: “faltavam vergalhão, mão-de-obra, andaime”, e cimento.
Os preços do cimento deram um salto em vários estados, sobretudo nos da Região Centro-Oeste, em Minas e em São Paulo. Num ambiente assim, é fácil repassar as altas de preços.
Este ano, o projetado para o cimento era um crescimento de 11%, depois de 10% em 2007. No primeiro trimestre, já foram 13,6%, e a indústria ainda não chegou no momento de pico. José Otavio diz que a maior demanda ocorre em julho, agosto e setembro, quando chove menos e tem menos feriados. Um dos desafios atuais para a indústria do cimento tem sido as dificuldades logísticas. Para tirar o produto das fábricas, são necessários de 8 mil a 10 mil caminhões de frete por dia. Faltam caminhões e os fretes têm subido. Outra pressão nos custos vem do coque de petróleo, usado nos fornos.
Em 2007, ele aumentou 50% e continua em alta.
A venda de imóveis, acredita o diretor da Cyrela Luis Largman, deve crescer o dobro ou o triplo do PIB neste e nos próximos 2 anos. Ele admite que a pressão maior dos custos tem sido repassada ao comprador, na medida do INCC.
Neste ambiente e com este pano de fundo, o governo começa a dar passos em direções opostas. A Fazenda prepara pacotes de estímulo às companhias brasileiras.
Aumentará os gastos para transferir recursos às empresas através do Fundo SoberanoBNDES e da Política Industrial.
Fará isso com o intuito de aumentar as exportações e reduzir o déficit externo que começa a surgir. O Banco Central, temendo o risco inflacionário e a demanda aquecida, continuará elevando os juros. Diagnósticos e sinais opostos dentro do mesmo governo num momento de crise externa e desafios internos. Isso aumenta o risco de errarmos numa época perigosa.
Entrevista:O Estado inteligente
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