Entrevista:O Estado inteligente

sábado, junho 16, 2007

A Velocidade da Luz, de Javier Cercas

Farsas e traumas

Verdade e ficção se embaralham em um
romance espanhol sobre a Guerra do Vietnã


Moacyr Scliar

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Trecho do livro

O catalão Javier Cercas, de 45 anos, celebrizou-se com Soldados de Salamina, um best-seller na Espanha. Neste livro, o escritor se colocou no meio da narrativa: o protagonista é um jornalista chamado Javier Cercas, que investiga um episódio da Guerra Civil Espanhola. Em A Velocidade da Luz (tradução de Antonio Fernando Borges; Relume Dumará; 208 páginas; 34,90 reais), a auto-referência segue presente. O personagem principal é um escritor espanhol que, a certa altura da história, fará sucesso com um livro sobre a Guerra Civil. Não se espere, porém, um exercício de narcisismo literário. Tal como Soldados de Salamina, o romance recém-lançado no Brasil se aprofunda nos dilemas morais de um conflito traumático – desta vez, a Guerra do Vietnã.

Ulf Andersen/Getty Images
Javier Cercas: ele gosta de ser personagem dos próprios livros


Professor de literatura, Cercas lecionou durante dois anos na Universidade de Illinois. O narrador de A Velocidade da Luz, do mesmo modo, deixa Barcelona para dar aulas em Illinois. É seu colega no departamento de letras Rodney Falk, um homem mais velho, inteligente e culto, mas áspero e enigmático – que o jovem escritor adota como guru. Rodney some, sem explicações. Seu colega espanhol descobre que ele era um veterano do Vietnã, mas nada sabe da conduta do amigo durante a guerra. Anos depois, quando os dois personagens voltam a se encontrar, o segredo se esclarece: no Vietnã, Rodney havia participado no massacre dos habitantes da aldeia de My Khe – que de fato ocorreu, perpetrado pelas mesmas tropas que participaram no mais famoso massacre de My Lay.

Mais próximo, no estilo, de americanos como Ernest Hemingway ou Paul Auster (influência que ele admite) do que de outros espanhóis, Cercas é um excelente narrador, que prende o leitor a cada página. Ao contar uma história ocorrida no Vietnã, seu personagem não se apresenta como o narrador que tudo sabe. Apenas relata a história que lhe foi contada e discute sua relação com a ficção, explorando a fronteira entre a verdade e a mentira. Um propósito que aparece já na primeira frase do livro: "Agora levo uma vida falsa, uma vida apócrifa, clandestina e invisível, embora mais verdadeira do que se fosse de verdade".

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