Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, junho 07, 2007

Panorama visto da Reitoria :EDITORIAL Estado

Panorama visto da Reitoria

Faça o que tiver de fazer para erradicar de uma vez por todas as
suspeitas de que pretendia, com os seus decretos na área,
"flexibilizar" a autonomia das universidades estatais paulistas, o
governador José Serra não poderá fazê-lo antes de uma preliminar.
Trata-se da remoção de um obstáculo que cresce e se expande sob
outras formas e em outros ambientes na mesma medida em que permanece
intocado para todos os efeitos práticos: a ocupação do prédio da
Reitoria da Universidade de São Paulo (USP), que completa hoje 28 dias.

Desde que a Justiça, em 20 de maio, concedeu à instituição o mandado
de reintegração de posse já tardiamente requerido, o governo parece
ter adotado a estratégia da paciência, como indica a conduta de
Serra, na expectativa de resolver o problema pelo diálogo. Uma
atitude em princípio compreensível, considerando as abrumadoras
implicações da alternativa do ingresso de força armada no campus para
desalojar os invasores da sua principal instalação administrativa e
símbolo maior. A última vez que policiais entraram na USP foi no ano
de 1969, de triste memória.

A opção pela estratégia da paciência teria sido sensata, fossem
outras a mentalidade e as intenções dos ocupantes, e não estivessem,
como sempre, apostando no quanto pior melhor os setores marginais da
comunidade acadêmica - atuantes notadamente no sindicato dos
funcionários -, que a eles se aliaram, oportunisticamente, para expor
o tucano José Serra ao maior desgaste político possível. Já se disse
que a insensibilidade do governador para as previsíveis reações das
direções universitárias aos decretos que entenderam ser lesivos à
instituição ressuscitou o que há de mais obscurantista e autoritário
no campus da USP. Dizemos ressuscitou porque as forças desse grupo
pareciam esvaídas por inanição.

Pois a cada dia que passa - e com o apoio também da minoria de
docentes grevistas, carbonários de avental branco - elas parecem se
robustecer no incentivo aos invasores da Reitoria a não arredar pé
das suas disparatadas exigências para pôr fim à ocupação. Não foram
uma nem duas as reuniões de autoridades com os alunos para uma
solução pacífica do impasse. E cada uma, além de desembocar numa
seguinte igualmente inócua, produziu dois adversos resultados que se
complementam. De uma parte, a desmoralização do governo. De que
adianta um secretário estadual afirmar que "eles têm de cumprir a
lei, antes de mais nada", se não a cumprem e fica por isso mesmo?

De outra parte, o saldo - por assim dizer - das negociações é o
robustecimento da convicção dos ocupantes de que o tempo joga a seu
favor: quanto mais tempo permanecerem entrincheirados, não só mais
arriscado será retirá-los com intervenção da PM, como mais
disseminado será o efeito da demonstração de sua resistência,
atingindo, como de fato já atinge, a Unicamp e a Unesp.

Esse fortalecimento, além do mais, pode encorajar os transgressores
da lei a fazer novas exigências. Amanhã eles poderão perfeitamente
dizer que só sairão depois que a Justiça se manifestar sobre a ação
em preparo sobre a alegada inconstitucionalidade dos decretos da
discórdia.

É claro que não se pode saber com certeza qual o momento ótimo para a
decisão de forçar os alunos a sair com o menor risco possível de
incidentes maiores. Mas claro está que já se passou daquele ponto,
provavelmente cristalizado no final da semana passada, quando era de
"fim de festa" o clima percebido pela imprensa no prédio da Reitoria.

A esta altura, a hipótese de vencer os invasores pelo cansaço,
mantendo a posição de discutir as suas reivindicações apenas depois
da desocupação espontânea, se torna menos provável a cada dia que
passa. Tendo chegado até aqui acumulando forças para prosperar na
ilegalidade, por que haveriam os alunos de aceder às exortações da
autoridade?

Além disso, eles estão sendo incentivados pela deplorável conduta de
professores que se dizem democratas e legitimam a invasão pela recusa
de se pronunciar sobre ela. A estratégia da paciência só se
justificaria se, numa avaliação realista, a demora para agir
prometesse resultados melhores do que uma rápida ação da polícia. Mas
esse não é o panorama visto da seqüestrada Reitoria da USP.

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