A reunião do G-8 na Alemanha exibiu, mais uma vez, o imenso impasse em que os líderes mundiais se encontram, e a crise de governança que paralisa a decisão no mundo. A ONU é um plenário grande demais e ineficiente; o G-8 um clube restrito demais e cuja escolha de participantes é arbitrária; a OMC continua no pântano de negociações inconclusivas e novos temas são atropelados por velhos vícios.
A reunião da Alemanha foi típica dos defeitos do arranjo internacional. Para ter alguma legitimidade, o G-8 tem que convocar outros cinco países. Antigamente, dizia-se que o grupo era dos oito países mais ricos do mundo. Hoje, falase dos sete países mais ricos mais a Rússia. Continua uma definição imperfeita, porque a China hoje já passou até o Reino Unido como tamanho do PIB, ainda que, em outra medida, a da renda per capita, esteja atrás do Brasil.
— Os cinco que estão chegando ficaram grandes demais para serem ignorados — lembra o embaixador Marcos Azambuja.
Ele comenta: — Não é possível uma reunião de cúpula sem China e Índia, os novos fenômenos.
Na América Latina, há dois países que também não podem ser deixados de lado: Brasil e México. A África não pode ficar ausente, e o país que mais bem representa o continente por seu tamanho é a África do Sul. E, mesmo este arranjo, ainda é incompleto porque deixa de fora os 55 países islâmicos, sem sequer um representante neste círculo mínimo para estabelecer algum tipo de conversação global.
A globalização impõe ao mundo o desafio de ter agora representações diferentes das habituais, herdadas de velhas ordens, como a colonial ou a imperialista. O que escapa aos manifestantes que esbravejam contra a globalização é que ela é uma inevitabilidade tecnológica, financeira e climática.
Não é para se render a ela, é entendê-la para se fortalecer. Há um imenso campo de conexões entre manifestantes e grupos de interesse contrários ao status quo, decididos a alterar rumos ou defender causas.
A luta não precisa ser abstrata contra a globalização, que é uma irreversibilidade, e, sim, a favor das idéias e interesses através de redes que só a globalização permite que existam. Veja-se a Amazônia: a mesma grande potência, os Estados Unidos, fornece forças para os dois lados em conflito neste campo de batalha. De um lado, a pressão das grandes exportadoras de soja criando incentivos para que as plantações invadam áreas que deveriam estar preservadas; de outro, as grandes ONGs ligadas a ambientalistas nacionais criando redes de pressão e ameaças de punições comerciais a desmatadores.
Dentro do clube fechado e insuficiente do G-8, os governantes de Alemanha, Inglaterra, França, Itália, Canadá, Japão assistiram à subversão provocada pelos governantes dos Estados Unidos e da Rússia. Eles subverteram a pauta e a atualidade. A reunião era para discutir um tema atual e inadiável: a ação dos grandes países para mitigar os efeitos da mudança climática.
Pois Estados Unidos e Rússia gastaram a maior parte do tempo num conflito do finado século XX sobre escudos antimísseis na Europa. Alguém que houvesse entrado em coma em 1980 acordaria naquela discussão completamente à vontade e atualizado, achando que o mundo parara para esperá-lo acordar.
São de outra natureza — e bem mais sérios — os desafios postos para os maiores países do mundo neste momento. Primeiro, o de construir fóruns que permitam desbloquear a agenda internacional a partir da constatação de que há novos atores no cenário. A arena governamental não é mais suficiente. Líderes fora da esfera governamental têm também compromissos de lapidar idéias em torno das quais possam se formar redes de pressão sobre governos democráticos.
Quando, finalmente, Estados Unidos e Rússia abandonaram a discussão sobre escudos antimísseis e desembarcaram no século XXI, de novo, mostraram ser prisioneiros do passado. Eles ainda acham que podem se recusar a aceitar metas de redução de emissão de gases poluentes, como se vigorasse a idéia de Estados nacionais agindo separadamente; como se ainda tivesse alguma veracidade a oposição entre crescimento e proteção ambiental.
É forçoso reconhecer que, com aquele seu arqueado passo texano, o presidente George Bush avançou um pouco. De governante que negava a existência do problema climático, que exaltava e financiava os cientistas céticos, ele admitiu que o aquecimento global é uma realidade.
Para daí fazer a coisa certa, só mesmo renunciando à sua própria natureza de líder cevado pela indústria do combustível fóssil.
O Brasil renuncia a ter um papel inovador nesta agenda nova quando repete o princípio de que nada pode ser imposto aos países em desenvolvimento. A estultice dessa idéia é que ela traz em si dois grandes equívocos. Primeiro, o de que o Brasil não deve servir de biombo para a China, que está a um passo de ser a maior poluidora e construiu sua matriz energética em torno do carvão. O Brasil, com suas virtudes ambientais, degrada seu patrimônio em tal companhia. Segundo, porque é desconhecer que a meta que nos compete não impedirá desenvolvimento algum. Nada temos a perder, a não ser os desmatadores ilegais, que hoje grilam e queimam a Amazônia usando para isso trabalhadores sob condições degradantes. Nada temos a perder em buscar o desmatamento zero, a não ser o nosso subdesenvolvimento.
É nossa a causa. E, por nossa sorte, é também a causa mundial moderna.
Entrevista:O Estado inteligente
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