Entrevista:O Estado inteligente

sábado, maio 12, 2007

FERNANDO GABEIRA

Esse Congresso

FOI UMA DAS piores semanas da Câmara. Infelizmente, estive dentro de um dos episódios, por assim dizer, desagradáveis. Aconteceu quando eu criticava a forma como os deputados se deram o aumento. Afirmava que isso só seria possível em um contexto de corte de gastos. Havia estudos sérios e possibilidades para economizar.
Em seguida, afirmei que não devolveria o dinheiro do aumento, como fiz com o concedido no período Severino. Isso porque não estava convencido de que a Câmara gastava bem. E terminei dizendo que tinha dúvidas quanto ao investimento que levou um avião cheio de deputados ao Uruguai.
Não sabia exatamente o número. Ao expressar esta dúvida e outras num ponto do plenário, o fiz a um deputado. Ele foi ao microfone e apresentou minhas dúvidas como se as tivesse formulado como verdades definitivas.
Foi o suficiente para que o presidente me classificasse de desonesto intelectualmente, algo que é muito comum quando os petistas falam de mim. A maioria do plenário se irritou ostensivamente. Um macaco velho sabe que, quando questiona uma viagem, apenas os que a fizeram protestam.
Os restantes, ou por ignorarem os critérios de escolha, ou por duvidarem dele, ficam tranqüilos. O problema era o aumento de salário. Mas a viagem dos deputados ao Uruguai pode ser questionada, sem necessariamente nos destruirmos. Não posso imaginar a França mandando um avião de deputados para Bruxelas.
Considerado o número, em torno de 40 parlamentares e poucos assessores, é mais barato um avião da FAB. O problema é o número. Se há 18 titulares e 18 suplentes, porque mandar estes últimos? Não trazemos suplentes ao assumir.
Eles se ambientam quando chamados a ocupar o cargo. Era um parlamento nascendo. Mesmo assim, o que o fortalece não é o número, mas as idéias sobre a integração. Os deputados pagaram suas despesas pessoais. Talvez o melhor seja projetar discussões mais brandas no futuro. Como devem fazer os canadenses e os franceses. Em ambos os Parlamentos, há comissão especial para definir viagens e obter delas o máximo de resultado.
Pessoas certas para as tarefas certas é um estímulo à produção de bons relatórios.
Assim que cicatrizarem as feridas, será possível discutir uma proposta. Não há sentido permanecer no Parlamento sem tentar melhorá-lo. Uma política de abertura para o mundo, sobretudo com o dinheiro público, significa humildade para aprender e capacidade de interiorizar as boas idéias. Vamos sair em busca de semanas diferentes da que passou.


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