Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, janeiro 02, 2007

Voto com ressalva LUIZ GARCIA

Se vocês insistem, meu voto para mulher do ano, categoria internacional, vai para Condoleezza Rice.

Ainda são lamentavelmente poucas as mulheres com importância real nas altas esferas do poder mundial.

Consigo lembrar Indira Gandhi e Margaret Thatcher; se a memória me falha, não terei esquecido mais do que uma ou duas. Negra, é certo que nenhuma teve tal importância.

Depois de comandar o Conselho de Segurança Nacional, a atual secretária de Estado do país mais forte do planeta administra notável influência no time que alimenta discursos e decisões do presidente George Bush. Infelizmente, nem sempre para o bem: Condi é capitã do time que defende a “democratização” do Iraque e do Oriente Médio em geral, em oposição àqueles que colocam como prioridade a “estabilização” da região.

Neste segundo time está o ex-secretário de Estado James Baker. Ele recentemente comandou a elaboração de um relatório sustentando a prioridade de negociações com países como Irã e Síria (que certamente não são democracias), buscando a paz na região. Outro dia, numa conversa com jornalistas de Washington, a sucessora de Baker falou grosso contra ele.

Os Estados Unidos, disse, sempre tiveram mais êxito quando combinaram sua força e seus princípios. O que significa não negociar com ditadores, o que, para ela, produziria uma impressão de estabilidade. Não adianta, argumenta a secretária de Estado, conversar com os governos não democráticos do Iraque e do Irã: se eles acharem que lhe interessa a paz no Iraque, trabalharão para isso de qualquer maneira. Caso contrário, cobrarão “um preço exorbitante” para ajudar. Ou seja, Washington teria de cruzar os braços enquanto sírios engolissem o Líbano e iranianos avançassem em seus projetos nucleares.

Parece fazer sentido. Mas nem tanto, quando se leva em conta que Washington deixa a pregação democrática de lado quando escolhe seus aliados na região: por exemplo, ditaduras como as do Egito e da Arábia Saudita. As coisas se complicam mais ainda quando os EUA falam em estimular líderes considerados moderados entre xiitas, sunitas e curdos no Iraque. Pelo que se sabe, não há hipótese de moderação na rivalidade entre os três grupos.

Simplificando, o grande erro de Condi e do governo a que ela serve há seis anos continua sendo o de entender a democracia como um sistema que pode ser imposto a ferro e fogo, quando a História ensina que ela é plantinha frágil (palavras de Winston Churchill) a ser semeada e regada com carinho e paciência. À força, não cresce.

Condi e quem mais mora na Casa Branca ou a freqüenta nestes tempos confusos não entendem isso. Mas estar errada — sincera e patrioticamente errada — não diminui a importância do fato de uma mulher negra ter chegado à posição que ela atingiu no país mais poderoso do mundo.

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