Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, janeiro 02, 2007

Itamaraty também anuncia 'mais do mesmo' por Rubens Barbosa

"As perspectivas da diplomacia brasileira no segundo mandato de Lula"


O Ministro Celso Amorim, depois da eleição, declarou que “a política externa brasileira não irá mudar” no segundo mandato do Presidente Lula. Ele classificou de “mito as afirmações de que o Brasil passaria a dar mais ênfase nas relações com os países desenvolvidos”. “A grande prioridade é a América do Sul e a Africa”, acrescentou.

A troika, integrada também por Samuel P. Guimarães e Marco A. Garcia, manterá uma visão de mundo, contrapondo países em desenvolvimento (pobres) aos países desenvolvidos (ricos).

A partir dessa visão ideológica equivocada, a ação diplomática continuará a buscar contribuir para a transformação do mundo e para mudar a geografia política e comercial global. Deverão ser mantidas as prioridades no tocante às relações Sul-Sul e à politização das negociações comerciais. A política externa continuará a ser vista como elemento importante do projeto nacional desenvolvimentista

Persistirão as duas grandes linhas dos últimos quatro anos, o reforço ao regionalismo e a ação propositiva na arena internacional, complementadas por ações para ampliar as relações com a China, a Rússia, a India, a Africa do Sul (IBAS), a Africa e os países do Oriente Médio.

Foram abertas muitas frentes, que exigirão atenção e continuidade, em especial aquelas que representaram inovações como, em especial, o G-20, que alterou o “power politics” das negociações comerciais agrícolas, a constituição da Comunidade Sul-Americana de Nações (CASA), o acordo comercial Mercosul-Grupo Andino, a criação do IBAS, o envio de tropas para o Haiti e a campanha global para obter um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas (apesar de o tema não estar na Agenda das potências que decidem, como os EUA e a China).

Mantidas as prioridades dos últimos quatro anos, as relações com os vizinhos sul-americanos vão continuar a enfrentar ressentimentos e resistências em virtude de algumas das políticas seguidas pelo Brasil até aqui.

As relações com a Argentina (“estratégicas”), com a Venezuela (diferença de agendas), com a Bolívia (nacionalização das refinarias da Petrobrás e preço do gás) e mesmo com o Paraguai (revisão do Tratado de Itaipu e preço da energia) e o Uruguai (desgaste bilateral e frustração com Mercosul) vão apresentar crescente nível de complexidade que gestos de generosidade não serão suficientes para superar. Como o Itamaraty não está conseguindo interpretar corretamente e acompanhar as mudanças no cenário político regional, o Brasil perdeu a iniciativa e atua reativamente, o que – se persistir no segundo mandato - será grave do ângulo do interesse nacional.

A clara prioridade que o Governo brasileiro atribui à construção da CASA, contrasta com a baixa atenção, apesar da retórica oficial no tocante ao Mercosul, e cria, de certa forma, um problema de sobreposição de esforços. O Mercosul continuará à deriva, com crescentes dificuldades internas, agravadas pela complexidade do processo decisório em virtude da ampliação do número dos países membros – com o apoio de Brasilia - antes de resolver as disputas entre eles e os descumprimentos do Tratado de Assunção.

A diplomacia presidencial continuará e o Governo seguirá acreditando que o aumento das exportações e a mudança do eixo do comércio exterior derivam das viagens oficiais e da política externa.

Na área das negociações comerciais, a prioridade do Itamaraty à Rodada Multilateral de Doha será preservada, mas os resultados provavelmente ficarão para 2009, depois das eleições nos EUA. As negociações hemisféricas continuarão adormecidas (talvez para sempre, se depender do Brasil e dos EUA) e os entendimentos entre o Mercosul e a UE se arrastarão, esperando maior objetividade dos dois lados e o resultado de Doha.

As relações políticas e econômico-comerciais com as maiores e mais dinâmicas economias globais (UE, EUA e Japão) continuarão a ter baixa prioridade nos próximos quarto anos, ao contrário do que faz a China. A novidade poderá ser maior aproximação com a Ásia e mais uma reunião de Cúpula.

Mais do mesmo, inclusive quanto aos reduzidos resultados para o Brasil, seria o resumo correto para os próximos quatro anos.


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