O indulto dos aloprados O PT anuncia o seu novo presidente: é o mesmo do caso do dossiê fajuto Ricardo Brito Ricardo Stuckert/PR
| Roberto Stuckert Filho/Ag. O Globo
| Berzoini foi reconduzido à presidência do PT em festa com os mensaleiros Paulo Rocha e Professor Luizinho: maior distância de Lula |
O deputado Ricardo Berzoini se autoconcedeu um indulto de Ano-Novo. Em um almoço festivo na semana passada, em Brasília, Berzoini reassumiu o cargo de presidente do PT, do qual havia se afastado após a prisão, em setembro, de um grupo de petistas que tentava comprar um dossiê fajuto contra os tucanos durante a campanha eleitoral. Ligados ao comitê de campanha de Lula e subordinados diretamente a Berzoini, os criminosos foram pegos quando carregavam malas de dinheiro vivo. O presidente Lula criticou os companheiros pela operação desastrada e chamou-os de "aloprados" – sinônimo de amalucados, adoidados, desatinados. Na cerimônia de posse da semana passada, Lula deu um jeito de escapar dos cumprimentos de Berzoini. O gesto é simbólico do crescente abismo que separa Lula do partido que o elegeu duas vezes à Presidência da República. As investigações da Polícia Federal constataram que Berzoini não só sabia das atividades de seus amalucados como deu sinal verde para a ação. O presidente do PT não foi sequer indiciado. As investigações policiais livraram o petista aceitando a alegação dele de que não sabia que a compra do dossiê era uma operação comercial. E sobre a origem do 1,7 milhão de reais apreendido com os seus petistas aloprados? Berzoini não sabe do que se está falando. Claro, dinheiro não é com ele. Ficou óbvio que Berzoini autorizou seus aloprados a obter o dossiê, e, se eles usaram dinheiro sujo para comprá-lo, inocente é quem acredita que isso foi feito sem que o chefe soubesse. Na festa do indulto se reuniram cerca de 300 pessoas, entre sindicalistas, militantes dirigentes e mensaleiros, como os ex-deputados Paulo Rocha e Professor Luizinho. Ricardo Berzoini não exibia nenhum constrangimento. Muito pelo contrário. Reconduzido ao cargo apenas um dia depois da posse de Lula, ele circulava entre as mesas do restaurante escolhido para a festa e era saudado como vítima de uma tremenda injustiça. Os dois principais candidatos à presidência da Câmara, os deputados Aldo Rebelo, do PCdoB, e Arlindo Chinaglia, do PT, também dividiram a mesa com Berzoini em sinal de solidariedade. Mas nem todos os petistas avalizaram o indulto a Berzoini. "Sua presença na presidência facilitará a vida dos que insistem em colocar o PT nas páginas policiais", escreveu o secretário de Relações Internacionais do partido, Valter Pomar. "No mínimo, o presidente Berzoini foi omisso nessa história do dossiê", disse o deputado Walter Pinheiro, do PT da Bahia. O deputado Carlos Sampaio, do PSDB de São Paulo, sub-relator da CPI dos Sanguessugas, vai encaminhar nesta semana ao procurador da República, Antonio Fernando de Souza, um relatório de vinte páginas em que detalha, segundo afirma, as evidências que a Polícia Federal desprezou contra o presidente do PT. De acordo com ele, além de tudo o que já se sabe sobre a participação de Berzoini na compra do dossiê, a análise dos extratos das ligações telefônicas entre os envolvidos revela que o deputado estava no centro das negociações. Para o tucano, Berzoini seria o elo entre os petistas envolvidos na operação e Freud Godoy, o assessor especial do presidente Lula, apontado pelo ex-policial Gedimar Passos, outro aloprado subordinado a Berzoini, como chefe imediato da operação clandestina. Depois de envolver o assessor de Lula, o ex-policial, que foi preso com a mala de dinheiro sujo, alegou que acusara Freud sob tortura. O campo jurídico pertence às versões, e não aos fatos – com imensas variações, isso é assim em todo o mundo. Mas no Brasil, sob o PT, criou-se uma realidade paralela, um mundo virtual que embaralha o certo e o errado, o criminoso e a vítima, sempre em benefício dos amigos dos amigos do amigão. |