editorial |
O Estado de S. Paulo |
15/1/2007 |
A Ouvidoria Agrária Nacional escondeu da população brasileira os dados a respeito dos conflitos agrários no País após o primeiro trimestre do ano passado, quando houve uma verdadeira explosão nos índices de invasões de terras. Só até novembro, ocorreram 259 invasões, 17% mais do que nos 12 meses de 2005. Mas a divulgação desses dados, por parte do órgão governamental encarregado de fazer tais estatísticas, foi estrategicamente interrompida, durante a campanha, para não prejudicar a candidatura à reeleição do presidente Lula. É verdade que os próprios “movimentos sociais” dedicados aos esbulhos e depredações, entre os quais se destacam o Movimento dos Sem-Terra (MST) e o Movimento de Libertação dos Sem-Terra (MLST), também deram decisiva contribuição a essa estratégia de esconder a violência, pois nas proximidades das eleições deram oportuna trégua em suas operações de ocupação de fazendas, destruição de cercas, vandalismos praticados contra sedes, matança de animais, colocação de empregados em cárcere privado e truculências assemelhadas. Prova disso é que em outubro - justamente o mês eleitoral - ocorreu o menor número de ocupações. Terminado o processo eleitoral, voltaram as invasões de terras a plena carga, passando de 8 ocupações em outubro para 27 em novembro. Notória é a existência de um acordo tácito - e às vezes nem tanto - entre esses “movimentos sociais” e o governo, uma espécie de pacto de ajuda mútua em que nenhuma parte prejudica a outra. Apesar de toda a retórica radical do líder emessetista Stédile, por vezes atacando duro o governo Lula e seu “tímido” programa de reforma agrária, e da fúria do companheiro Bruno Maranhão, o comprometedor amigo do presidente que liderou os vândalos do MLST na invasão e depredação da Câmara dos Deputados, certo é que Lula sempre contou com esses correligionários. Por sua vez, seja pelo prestígio da recepção presidencial a esses líderes (com colocação de boné e tudo), seja pelas verbas públicas concedidas a entidades ligadas a tais organizações (que não têm existência legal!) e até pela leniência com que tolera grupos de “sem-terra” atuando na plena ilegalidade, o governo Lula tem sido, aí, muito generoso. O relatório da Ouvidoria Agrária Nacional - agora liberado - indica que o mês com maior número de conflitos, entre janeiro e novembro do ano passado, foi o de março, com 69 registros. Além do MST e do MLST também as federações de trabalhadores rurais - a maioria delas ligada à Central Única dos Trabalhadores (CUT) - e os moradores dos antigos quilombos, que pretendem ampliar a área de suas terras, são mencionados como os principais agentes das invasões e ocupações no campo. Na conclusão, o relatório indica que ocorreram 78 mortes, das quais apenas 7 teriam sido decorrentes de conflitos agrários. Mas isso não “bate” com dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT) - entidade da Igreja Católica que também produz relatórios sobre a questão agrária -, segundo os quais, no ano passado, os conflitos agrários resultaram em 30 mortes. Segundo os dados da Ouvidoria, em 2002, último ano do governo FHC, houve 103 invasões no campo. Em 2003, primeiro ano do governo Lula, esse número subiu para 222. Em 2004 deu-se um grande salto, com as invasões chegando a 327. Em 2005 houve um recuo e no ano passado chegou-se ao segundo maior número de invasões, que atingiram 259. Muito bem. E daqui para a frente, no segundo mandado de Lula, o que ocorrerá? Os movimentos de sem-terra sempre subestimam - quando não contestam claramente - os planos governamentais de reforma agrária. Dizem sempre que as invasões se destinam a pressionar o governo, para que este acelere o assentamento de famílias no campo. Mas haverá, de fato, alguma relação entre o ritmo em que o governo desenvolve seu programa de reforma agrária e o índice de invasões no campo? Decerto haveria, se a questão fundiária não fosse mero pretexto para operações e mobilizações de entidades cujo objetivo principal é mudar a ordem política e econômica.
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Entrevista:O Estado inteligente
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segunda-feira, janeiro 15, 2007
Violência escondida
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