Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Vontade política


EDITORIAL
O Globo
15/1/2007

TEMA EM DISCUSSÃO: Favelização

Embora o Rio, por características próprias - topográficas e de formação histórica -, tenha parte de sua imagem ligada a favelas, este não é um problema apenas carioca. Rara cidade brasileira de algum porte não conta com bairros carentes, sem infra-estrutura adequada.

A causa comum do processo de favelização de todas as regiões é a conjugação de um processo muito rápido de urbanização, a partir da industrialização, com a incúria do poder público. Reconheça-se, por justiça, que os ciclos de crise econômica, com inflação e juros em alta, deram sua contribuição ao problema por inviabilizar qualquer programa mais amplo de habitação de baixo custo.

Mas é no Rio, pela própria maneira como a cidade foi se constituindo, que a favelização se tornou mais visível. Aqui, a periferia também está no centro. Ao contrário de São Paulo, por exemplo, onde em poucas regiões, como a do Morumbi, há algo semelhante ao Rio, com favelas dentro de um bairro de renda elevada. Estima-se que 20% da população do Rio, de cerca de 5,5 milhões de pessoas, sejam de favelados - ou 1,1 milhão de cariocas. É uma cidade informal que continua a avançar sobre a cidade legal, a que recolhe impostos, cumpre normas e regras.

Repete-se na região da Barra e de Jacarepaguá um modelo histórico de degradação: de 1991 a 2000, a população de favelados na região aumentou em 123%, enquanto a parcela de habitantes do asfalto, da cidade legal, expandiu-se apenas 69%.

Pela dimensão que o universo das favelas atingiu, criou-se uma dinâmica própria a conspirar para que tudo fique na mesma: políticos preservam as comunidades interessados nos seus votos; milícias de policiais, e traficantes, exploram esses locais; o poder público costuma se eximir de conter o avanço da ocupação irregular de vastas áreas - e o círculo se fecha.

Com a inflação sob controle, os juros em queda e a existência de um sistema de financiamento para imóveis populares, há condições objetivas para se enfrentar a questão. A dúvida é se existirá efetiva vontade política.

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