Entrevista:O Estado inteligente

sábado, janeiro 20, 2007

Stephen Kanitz


Previsões para 2007

"Estas são as minhas previsões para 2007; cobrem de mim no ano que vem"

Viver é prever. Preveja mal a sua vida e viverá pior ainda. Se você não é capaz de prever o futuro, escolha com cuidado os "gurus" a quem dará ouvidos. Saiba quem acerta e quem sistematicamente erra. Por isso, todo ano guardo as previsões feitas no início do ano para poder comparar com os resultados efetivos no final. Estas são as minhas previsões, recortem-nas para poder cobrar de mim no ano que vem.

Ilustração Atômica Studio


Previsão nº 1.
A carga tributária deste país aumentará e ultrapassará 42% do PIB no fim de 2007. Depois continuará subindo até 53% em 2010, sufocando ainda mais nossa economia.

Previsão nº 2. Os gastos do governo continuarão a aumentar ano após ano até 2035. Cortes de gastos serão sempre de curto prazo e temporários.

Previsão nº 3. As taxas de juro não diminuirão de 13,25% para 10,75%, como muitos prevêem, um corte de quase 20% que poderia gerar crescimento.

Previsão nº 4. O Brasil continuará a ser muito mal administrado. Trilhões de reais de dinheiro público serão "administrados" por pessoas que nunca estudaram administração, nunca fizeram um MBA nem sabem o que é "regime de competência" e "regime de caixa". Por isso, serão enganadas, roubadas e ludibriadas por pessoas mais espertas do que elas.

Para quem não acompanhou a safra de previsões deste ano, a maioria previu o contrário: 1. Que a carga tributária chegou ao seu limite. 2. Que o governo não terá coragem de aumentar ainda mais os seus gastos. 3. Que os juros cairão 30%. 4. Que haverá um "choque de gestão" neste país.

Previsão nº 1. Felizmente, ou infelizmente, minha previsão número 1 já se concretizou, em menos de quinze dias. A carga tributária do Brasil já é superior a 42% do PIB. Esses 38% de "carga tributária" que se publicam por aí são, na realidade, a "receita tributária do governo", algo bem diferente da "carga tributária", que é o peso para quem paga impostos neste país. Como somente 90% das pessoas e empresas pagam impostos no Brasil, a "carga tributária" é de 42%, mas a "receita do governo" é de apenas 38%, isso supondo um mercado informal de somente 10%. Mas o erro não pára aí. Digo que a carga tributária é superior a 42% porque há muitos impostos referentes a 2007 que o governo só arrecadará em 2008, 2009 e daí em diante, como ganhos de capital, rendimentos de fundos de ações, imposto sobre herança, valorização imobiliária, multas de impostos atrasados e os próprios impostos atrasados. É a diferença entre "regime de caixa" e "regime de competência", que ninguém estudou e ninguém calcula. Não tenho uma verba de pesquisa econômica para fazer o cálculo preciso, bem que gostaria. Só posso adiantar minha estimativa de que nossa carga tributária verdadeira já é de 53%, incluindo os impostos a recolher.

Previsão nº 2. Não haverá reforma previdenciária para valer nem aqui nem nos Estados Unidos. Como o número de aposentados não vai parar de crescer até 2035, e como são direitos adquiridos que ninguém pretende tirar, muito menos abrir mão deles, os impostos terão de subir.

Previsão nº 3. As taxas de juro cairão 30% só para aqueles que acreditam na "escola nominalista" de economia. Se juro real é o verdadeiro juro, o juro nominal é uma grande mentira, para enganar investidores, órfãos, viúvas e jornalistas econômicos. O juro real poderá cair, sim, de 9% para 8,2%, o que não gera nenhuma fuga em massa de títulos públicos para projetos empresariais que promovem crescimento. E só saberemos dessa queda "real" no fim de 2008. Quem é "realista" vai esperar para ver.

Previsão nº 4. Apesar de termos 1,5 milhão de formados em administração pública e privada, nosso governo continua a ser gerido por gente sem a devida formação profissional em administração, no exercício ilegal da profissão de administrador público. É fácil identificá-los porque usam a palavra "gestão", e não "administração", termo criado por intelectuais franceses, que não são conhecidos por seus dotes administrativos, pelo contrário. Isso é um desperdício e um insulto ao 1,5 milhão de administradores formados e competentes que temos e que só querem uma chance de um dia mudar definitivamente este país. Se você anda desanimado com o futuro do Brasil, há esperança de que esse dia virá. É a nossa única chance para um crescimento duradouro e sustentável.


Stephen Kanitz é formado pela Harvard Business School
(www.kanitz.com.br)

Arquivo do blog