no domínio da luz
Novas células solares abrem caminho para
a era da energia farta, barata e renovável
Rafael Corrêa
A energia solar é uma das grandes esperanças para livrar o mundo da poluição causada pelas usinas termelétricas ao produzir eletricidade, mas por enquanto ela é uma alternativa cara, usada principalmente em pequenas comunidades com projetos subsidiados por governos. A partir de agora, está mais próximo o dia em que se poderá utilizar a energia do Sol para produzir eletricidade em larga escala. A empresa americana Spectrolab, uma subsidiária da Boeing, anunciou a criação de uma célula fotovoltaica capaz de transformar em eletricidade 40,7% dos raios solares que incidem sobre ela. Nas células convencionais usadas hoje nas usinas, esse aproveitamento é de apenas 22%. Isso significa que a nova célula é duas vezes mais eficiente. A novidade é o primeiro passo de uma revolução no setor energético. Usinas equipadas com a nova célula gerarão eletricidade ao preço de 8 a 10 centavos de dólar por quilowatt/hora, praticamente o mesmo que se paga hoje pela força gerada por termelétricas. "Considerando a evolução da pesquisa em energia solar, a invenção da nova célula é o equivalente a correr 1 milha (1.609 metros) em menos de quatro minutos", disse a VEJA Larry Kazmerski, diretor do Centro Nacional para Fotovoltaicos do Departamento de Energia americano, referindo-se ao recorde esportivo alcançado pelo inglês Roger Bannister em 1954 e que se acreditava inatingível.
As células fotovoltaicas produzem eletricidade absorvendo a energia da luz na forma de fótons e transformando-a em corrente elétrica. As células convencionais são feitas de silício, o mesmo material usado nos chips de computador. O grande achado da nova célula é utilizar diferentes tipos de material, em camadas sobrepostas. Cada camada absorve a energia de uma determinada cor do espectro da luz solar. Dessa maneira, a supercélula aproveita mais de cada raio que incide sobre ela com relação à célula convencional. A tecnologia é semelhante à usada para alimentar as baterias das sondas espaciais Mars Rovers, que há três anos pesquisam o solo marciano.
Se toda a energia que o Sol despeja sobre a Terra fosse aproveitada por células fotovoltaicas, bastaria uma hora de exposição para gerar a eletricidade consumida no mundo em um ano inteiro. Atualmente, apenas 0,01% da eletricidade usada no planeta vem do Sol. A produção de energia solar cresce à razão de 25% ao ano, mas essa expansão é praticamente restrita a três países, Alemanha, Estados Unidos e Japão. A nova célula pode ser o impulso que faltava para disseminar o uso dessa energia. O início de sua produção está previsto para 2008, e os primeiros lotes serão utilizados por companhias envolvidas em projetos de geração de eletricidade em larga escala. Um deles será instalado na província de Victoria, na Austrália, e terá a capacidade de gerar 154 megawatts de eletricidade, o suficiente para abastecer 45.000 casas. Para produzir a mesma quantidade de energia, uma usina termelétrica lança na atmosfera 400.000 toneladas de dióxido de carbono, o equivalente às emissões de 80.000 carros ao longo de um ano. "A célula supereficiente é uma tecnologia inovadora que abre caminho para toda uma nova geração de usinas solares", diz Kazmerski. "Em pouco tempo veremos células ainda mais potentes, capazes de converter 50% da energia solar em eletricidade", completa ele.Fotos Marcelo Kura-, Oce-Brasil, Marcelo Zochio, Liane Neves, Caca Bratke, divulgação