Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Os trapalhões Ricardo Noblat



Artigo - X
O Globo
15/1/2007

"Não sou mais dirigente, não sou deputado, não sou ministro, mas sou o Zé Dirceu". (José Dirceu à revista Rolling Stones)

Aldo Rebelo (PCdoB-SP), presidente da Câmara e candidato à reeleição, foi do paraíso ao inferno em sete dias. Abandonado por Lula viu o PMDB e o PSDB caírem no colo do seu adversário Arlindo Chinaglia (SP), candidato do PT. Nesta semana, a Executiva Nacional do PSDB deverá revogar o apoio a Chinaglia. E Aldo trocará o inferno pelo purgatório.

Na última terça-feira dia 19, reunidos no Rio para discutir o combate ao crime organizado, os governadores Sérgio Cabral (PMDB), José Serra (PSDB-SP), Aécio Neves (PSDB-MG) e Paulo Hartung (PMDB-ES) conversaram também sobre a eleição do próximo presidente da Câmara dos Deputados. Cabral disse que simpatiza com a candidatura de Aldo à reeleição, mas que aguarda um sinal de Lula para se manifestar. Hartung revelou que está com Aldo e não abre. Aécio defendeu o voto em Aldo. E Serra, embora tenha se mostrado simpático a Aldo, falou que era preciso levar em conta o princípio da proporcionalidade no preenchimento dos cargos de direção na Câmara. Ali, portanto, Serra piscou primeiro. Havia piscado há mais tempo.

Engenheiro civil de 51 anos, três vezes deputado estadual, Arnaldo Jardim foi eleito no ano passado deputado federal pelo PPS de São Paulo com 187.427 votos. Deve parte dos votos a Serra, seu mentor. Ao procurá-lo na passagem do ano para desejar feliz 2007, Jardim ouviu de Serra que o princípio da proporcionalidade não poderia ser desprezado para a eleição do futuro presidente da Câmara. Segundo tal princípio, o partido dono da maior bancada (PMDB) indica o presidente. O partido dono da segunda maior bancada (PT) escolhe outro cargo de direção. E assim por diante. O PSDB tem a terceira maior bancada. Convidado para participar de uma reunião de deputados interessados em bancar uma candidatura alternativa às de Aldo e Chinaglia, Jardim preferiu viajar de férias à Bahia. O PPS enxergou aí a sombra de Serra.

Foi no mesmo dia da reunião dos governadores no Rio que o PMDB anunciou seu apoio à candidatura de Chinaglia. Na véspera, Aécio havia telefonado para o deputado Ciro Nogueira (PP-PI), um dos cabos eleitores da candidatura de Aldo. Queria saber se Aldo renunciaria à reeleição diante da orfandade em que Lula lhe deixara. Ouviu de Ciro que era mentira. De Narcio Rodrigues (PSDB-MG), Aécio ouvira que era verdade, sim. Narcio é membro da Comissão de Orçamento da Câmara graças a Chinaglia, líder do governo. Faz tudo que Aécio manda. Mas Chinaglia prometeu a Narcio a primeira vice-presidência da Câmara, caso se eleja. E Narcio fechou com ele.

Entre Ciro e Narcio, Aécio ficou com Narcio — afinal, é sempre útil ter um aliado na primeira vice-presidência da Câmara. Então liberou o PSDB mineiro para votar em Chinaglia, mesmo assim defendeu Aldo durante a reunião de governadores no Rio e, em seguida, foi esquiar nos Estados Unidos. De lá, no fim de semana, diante da reação de parte do PSDB contra o apoio da bancada do partido a Chinaglia, Aécio mandou dizer que não liberou ninguém para votar no candidato do PT. E que seus aliados na executiva nacional do PSDB votarão nesta semana para anular a decisão tomada pela maioria da bancada ouvida por telefone pelo líder do partido na Câmara, Jutahy Magalhães Jr (BA). Somente ontem Jutahy disse quantos deputados ouviu e quantos votaram em Chinaglia e em Aldo.

Mas como Narcio em relação a Aécio, Jutahy nada faz sem o aval de Serra. No processo de consulta à bancada do PSDB, ele pediu ajuda a Narcio (logo a quem?) e a dois deputados que seguem a orientação de Serra — Sebastião Madeira (MA) e Eduardo Gomes (TO). Esgotada a ação de telemarketing, Serra garantiu junto a Aécio a indicação do seu pupilo Antonio Carlos Pannunzio para suceder Jutahy como líder do PSDB. Saldo da trapalhada protagonizada pelos dois governadores: a imagem do PSDB ficou pior na foto, e Aldo agora respira sem a ajuda de aparelhos — embora Chinaglia tenha subtraído dele a condição de favorito para se eleger presidente da Câmara.

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