Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Desastre no metrô



EDITORIAL
Folha de S. Paulo
15/1/2007

A tragédia nas obras da estação Pinheiros não pode abalar a confiança que a população deposita na rede subterrânea

O COLAPSO nas obras da futura estação Pinheiros do metrô paulistano não deve ser subestimado. Foi o maior acidente já registrado desde que a rede subterrânea começou a ser implantada, em 1968. Suas conseqüências são trágicas para todas as vítimas do desabamento -as pessoas soterradas e seus familiares, bem como as famílias que perderam, provisória ou definitivamente, as suas residências.
A imagem da cratera de 80 metros de diâmetro, com os caminhões tragados para o seu centro e uma grua de 50 toneladas ameaçando desabar, ficará na memória. Funcionará como um lembrete de que as lições desse desastre precisam ser devidamente absorvidas por construtores e autoridades, a fim de que outros acidentes não se repitam.
Não é o momento, evidentemente, de precipitar-se em busca de causas e responsáveis pelo acidente. É preciso dar tempo para que uma detalhada e complexa investigação independente seja realizada. As expectativas a esse respeito estão depositadas na apuração do reputado Instituto de Pesquisas Tecnológicas.
Foi infeliz, porque no mínimo precipitada, a nota das empreiteiras que constroem a Linha 4 do metrô ao identificar nas chuvas fortes a possível causa do colapso. Outras obras de engenharia tão complexas quanto a escavação do túnel próximo ao rio Pinheiros já enfrentaram condições climáticas e geológicas adversas -até mesmo em São Paulo-, mas não sucumbiram.
Neste momento as energias das autoridades municipais e estaduais devem concentrar-se nos esforços de emergência. O resgate das vítimas, o conforto às famílias impossibilitadas de habitar suas casas e as providências para impedir o agravamento do desastre -retomando, o mais depressa possível, o fluxo de veículos nas pistas da marginal Pinheiros- são prioritários.
O metrô é o meio de transporte coletivo em que a população paulistana deposita mais crédito. Com apenas 60 km de extensão (Londres conta com mais de 400 km), a rede subterrânea vem tomando passageiros dos transportes de superfície. Essa adesão popular não está relacionada apenas à rapidez e à eficiência do metrô. Funda-se também no histórico de segurança associado à operação cotidiana dos trens e às obras de expansão da malha.
A confiabilidade do metrô está sendo agora colocada em questão. Agir com responsabilidade e rapidez nas tarefas emergenciais em torno do desastre na estação Pinheiros é um modo de impedir que essa tragédia abale a imagem do metrô de modo duradouro. Apurar as falhas -quer de projeto, quer de execução, quer de fiscalização- que levaram ao colapso e, com base nelas, reformar procedimentos futuros também é uma ação necessária.
Multiplicar a minúscula malha metroviária nos próximos anos é imperativo para evitar que se concretizem os prognósticos catastróficos acerca do trânsito de São Paulo. Mas é preciso assegurar que essa desejada pulverização de canteiros de obras ocorra sob o mais estrito e atualizado protocolo de segurança.

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