Nos 10 anos da morte do jornalista, sua viúva e seu ex-editor falam em Bravo! das inclinações políticas de um provocador
Antonio Gonçalves Filho
Às vésperas dos dez anos da morte do polêmico jornalista e colunista do Estado, Paulo Francis (1930-1997), a revista Bravo! de janeiro traz textos assinados por dois profissionais da área que conviveram intimamente com ele, sua viúva Sonia Nolasco e o ex-editor do Caderno 2, José Onofre. Anunciando a publicação de um romance inédito de Francis, Jogando Cantos Felizes, Sonia Nolasco adianta que se trata de um livro político sobre uma família brasileira rica. Os personagens centrais são o patriarca, ligado à indústria francesa, e o filho mais velho, que descobre seu potencial revolucionário em pleno maio parisiense de 1968.
Onofre fala de Francis como o inverso desse filho nada pródigo de seu romance, lembrando como o jornalista se distanciou da esquerda. Localiza até a data dessa mudança drástica de orientação política: 1994, com a publicação do livro de memórias Trinta Anos Esta Noite. Catorze anos antes, Francis lançara outro volume memorialista chamado O Afeto Que se Encerra, que, segundo Onofre, dá os primeiros sinais de sua nova visão política, reforçada mais tarde pelo colapso da União Soviética (1991) e a força crescente dos tigres asiáticos. O livro, que estava fora de catálogo, será relançado em fevereiro pela Editora Francis, que já colocou no mercado outros títulos do jornalista: Cabeça de Papel, Cabeça de Negro, Trinta Anos Esta Noite e as novelas de Filhas do Segundo Sexo.
Além de Francis, outro autor que tem a obra relançada é Manuel Bandeira (1886-1968). Comemorando os 120 anos de seu nascimento, a editora Cosac Naify programou a reedição de dez livros do poeta. O jornalista Renato Pompeu assina a matéria de capa da revista, lembrando que os primeiros livros de Bandeira foram bancados pelo autor, incluindo aí A Cinza das Horas e Carnaval.
Ainda na esteira das comemorações, os 80 anos de nascimento do compositor e inventor da bossa nova Antonio Carlos Jobim (1927-1994) são lembrados com uma lista de 11 álbuns fundamentais sobre sua obra, de Chega de Saudade (João Gilberto, 1959) ao trabalho do japonês Ryuichi Sakamoto com o violoncelista brasileiro Jacques Morelenbaum (Casa, 2002). Faltam, claro, muitos títulos indispensáveis na lista da Bravo!, em especial de músicos americanos (Michael Franks, Gary McFarland, John Pizzarelli) profundamente marcados pela bossa nova e por Jobim, fonte inesgotável para representantes de todas as gerações.
O último texto do jornalista cultural Federico Mengozzi, morto na terça-feira, ocupa seis páginas da revista e comenta as nove mostras simultâneas programadas para a Pinacoteca do Estado este mês. Mengozzi presta sua homenagem ao segundo museu mais antigo de São Paulo e um dos mais visitados (40 mil pessoas por mês), destacando nove obras fundamentais de seu acervo de 6 mil peças.
Na área de cinema, o crítico Ricardo Calil analisa o fenômeno Iñárritu, o cineasta mexicano que conquistou o público com dois filmes insólitos, Amores Brutos e 21 Gramas. A nova provocação do diretor Alejandro González Iñárritu chama-se Babel (Globo de Ouro de melhor filme), já em cartaz. Calil analisa a estrutura de seus filmes, que compara a trípticos da pintura, seus temas e a estética do mexicano, que abusa de filtros e monta os filmes sempre buscando dissonâncias visuais.