Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, janeiro 17, 2007

O partido que virou suco por Lucia Hippolito -

Esta disputa para a presidência da Câmara dos Deputados pode vir a ser o dobre de Finados que faltava para mostrar que, ou o PSDB se reinventa ou vai afundar na irrelevância.


Aquele PSDB que se apresentava como um partido moderno, a opção pela social-democracia, um conjunto de homens e mulheres que tinham um projeto para o país. Aquilo tudo virou suco.


E não é de hoje. O PSDB está padecendo de obsolescência precoce. Talvez tenha chegado cedo demais ao poder, talvez não tenha sido tempo de construir uma sólida identidade. Identidade que se desmanchou no ar desde a perda do governo federal em 2002.


A derrota de Serra para Lula deixou o PSDB à deriva. O partido perdeu a eleição e perdeu o rumo. Perdeu a própria identidade. Passou os primeiros anos do governo Lula meio perdido, sem saber se votava a favor das reformas porque eram bandeiras do partido ou porque não sabia fazer oposição.


Veio a crise do mensalão, e os tucanos passaram a se torturar em dúvidas hamletianas sobre atacar ou não o presidente Lula. Como não sabem fazer oposição, não despiram os punhos de renda e não quiseram partir para a briga.


Apanhados em relações espúrias com o valerioduto, os tucanos preferiram não punir os seus.


Caminharam a reboque dos escândalos, deixando para a imprensa o papel de investigar, descobrir fatos, correr atrás de denúncias. De camarote, o PSDB aguardou que todo o trabalho da imprensa resultasse num Lula em frangalhos, humilhado e derrotado – e a presidência da República cairia em colo tucano por gravidade, sem que suas Excelências tivessem que se coçar.


Bem feito! Deu tudo errado. O PSDB perdeu a bandeira da estabilidade econômica para Lula, que dela se apropriou sem a menor cerimônia. Os tucanos não defenderam os oito anos em que estiveram no poder e se deixaram constranger pela acusação de privatistas irresponsáveis, que “venderam o patrimônio do povo brasileiro”.


Sem identidade, sem discurso, sem projeto para os próximos quatro anos, sem rumo, o PSDB mais parece uma caricatura do PMDB: um grupo de caciques regionais – aliás, cacique demais para pouco índio – tratando de seus interesses provincianos.


O PMDB é um partido da federação. O PSDB não. Não tem cacife para isso. Não tem tamanho, não tem bancada, não tem vereadores, prefeitos e deputados em número suficiente para falar grosso como partido federativo.


Ao protagonizar este papelão, de sair oferecendo apoio ao candidato do governo sem respeitar as instâncias partidárias, lideranças regionais do PSDB desrespeitaram a decisão dos eleitores, que ao partido destinou a oposição no plano federal.


Mesmo que venha a apoiar outras candidaturas à presidência da Câmara, o PSDB já pagou um mico histórico.


Vamos combinar uma coisa: o PMDB sempre foi e sempre será o melhor PMDB.


O resto é uma triste caricatura.

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