Panorama Econômico |
O Globo |
16/1/2007 |
O Equador está bem. Não está enfrentando nenhuma crise provocada pelo perverso neoliberalismo ou por exploração das multinacionais, tipo Petrobras. O país está crescendo a 4%, com inflação baixa, bom superávit comercial e aumento da arrecadação por causa do petróleo. Mesmo assim, ontem foi dia de discursos radicais, promessas de calotes e de estatização na América do Sul na posse do novo presidente do país. O presidente Rafael Correa está ameaçando dar o calote na dívida externa, que vem caindo nos últimos anos, como proporção do PIB, como mostra o gráfico abaixo. Isso nem Hugo Chávez, nem Evo Morales estão fazendo. O mercado já pôs no preço do país a ameaça, e o risco-Equador bateu em 826 pontos. Isso é muito mais que outros países da região. A medida de risco, divulgada pelo JPMorgan com base nas transações dos títulos dos países, não refletiu qualquer preocupação com a retórica histriônica de Hugo Chávez ou com seu sonho de vitaliciedade. Pelo contrário, quando se olha para o risco-país, parece que, para o mercado financeiro, a virtude não compensa. A Argentina deu um calote anos atrás, congelou tarifas, e o risco é hoje 207 pontos acima dos juros americanos. Na Venezuela, Hugo Chávez ameaça estatizar empresas privatizadas, encampar investimentos em petróleo, fechar canais de televisão que o criticam, mudar a Constituição para se eternizar no poder e acabar com a independência do Banco Central. Mesmo assim, seu risco é 206. O Brasil cumpriu contratos, pagou antecipadamente a dívida externa, reduziu a vulnerabilidade externa, mantém superávit primário há oito anos, não está ameaçando nem o capital estrangeiro nem o credor, e o risco é 192. Um economista do mercado me disse ontem que acha que o novo presidente do Equador, Rafael Correa, está ameaçando com o calote porque ficou com ciúmes do calote muito bem sucedido da Argentina. No JPMorgan, que divulga o cálculo que é uma das medidas do risco-país, o economista Fábio Akira admite que o Brasil melhorou muito em alguns indicadores. - Hoje a dívida externa total do Brasil é equivalente a 92% do que é exportado num ano; em 1992, era de 472%. O problema é que a dívida total, externa e interna, aqui, é muito alta. Segundo a S&P, no Brasil, a dívida bruta é de 62% do PIB; no México, é 24%; na Venezuela, 33% e na Argentina, 56%. Dados meramente contábeis não contam toda a história. Exemplo: a Argentina tem uma dívida menor que a do Brasil porque deu o calote. Assim é mais fácil que fazer o ajuste externo e interno para cumprir os compromissos. É óbvio que qualquer negócio na Venezuela é mais arriscado que no Brasil. O país vizinho está no meio de uma aventura autoritária que, por princípio, torna incerto qualquer contrato. No mercado, diz-se que Hugo Chávez fala muito, mas tem mais retórica que fato e que ele, no fundo, é um pragmático. O que assusta mesmo é a palavra moratória na boca de Rafael Correa e, por isso, o risco do Equador subiu desde a eleição. Parece incompreensível que países que hostilizam investidores, quebram contratos, dão calotes, paguem o mesmo preço nos seus papéis que outros que têm uma atitude mais conservadora. Mas é fácil de entender. Há dois motivos: o mercado financeiro tem uma visão contábil de risco, mais que uma visão que agregue outras variáveis; segundo, a liquidez internacional continua alta e, em momentos assim, nada preocupa. Quando mudar o quadro de liquidez, qualquer deslize provocará tremores. No discurso de posse, o presidente do Equador visitou velhas fantasias dos anos 80 - auditoria na dívida, arbitragem internacional para ver se a dívida é legítima e a frase "a Pátria não está à venda". Curiosa foi a frase sobre o Banco Central: "Por acaso não é corrupção a existência de bancos centrais inteiramente autônomos cuja opulência é um insulto à pobreza?" O que ele quer com isso é mais acesso aos fundos do petróleo. O Brasil foi prejudicado pela onda estatizante e populista da Bolívia, e pode perder de novo no Equador. Na Venezuela, a Odebrecht está construindo o metrô de Caracas com financiamento brasileiro. Ótimo negócio para Chávez. A Petrobras aceitou a pressão, no ano passado, e assinou a mudança do contrato que deu maioria do capital dos seus empreendimentos à PDVSA. O melhor negócio da temporada é afetar os interesses das empresas brasileiras, porque o governo do Brasil acha tudo legal. |
Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, janeiro 16, 2007
Míriam Leitão - Retórica e fato
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