O Globo |
16/1/2007 |
O PSDB custou a se dar conta de que o que está em jogo na disputa da presidência da Câmara é a força do PT, é a capacidade petista de se reorganizar depois de tantas crises, de tantos escândalos. São os dois grandes partidos que disputam o poder no país há muitos anos, que provavelmente voltarão a disputá-lo em 2010 com vantagens teóricas para os tucanos, que têm dois candidatos fortes, os governadores José Serra, de São Paulo, e Aécio Neves, de Minas Gerais, e o PT não tem nenhum. Mas o PT está mostrando uma capacidade de organização interna e de angariar apoios na base aliada, mesmo a despeito do Planalto, muito maior do que o PSDB tem demonstrado até aqui de se organizar na oposição. O PT, que há poucos dias parecia desidratado pela ação do próprio Lula, agora tem a chance de dar a volta por cima. Até mesmo o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini, tido muito mais como uma força da burocracia do partido do que um quadro estratégico, assumiu uma posição de modéstia que não lhe é peculiar e admitiu dois pontos essenciais dessa disputa: que o presidente Lula sempre foi muito maior do que o partido, e que o PT não tem a pretensão de indicar o sucessor de Lula, podendo aceitar um candidato de outro partido aliado. Para quem está dependendo de apoios para eleger seu candidato Arlindo Chinaglia à presidência da Câmara, nada melhor do que posar de favorável à pluralidade. Mas o PSDB ainda tem tempo de recuperar o terreno perdido na disputa política. Talvez o candidato independente seja até mesmo o tucano Gustavo Fruet, que se dispõe a concorrer desde que o chamado "grupo independente" mostre ter um apoio sólido na Câmara. Os coordenadores do grupo acham que, se o candidato alternativo for do PSDB, a empreitada terá êxito, pois a bancada tucana não poderia se colocar contrária a um seu colega. Seria uma tentativa de fazer com que se torne realidade aquele protesto do ex-presidente Fernando Henrique pelo apoio formal da bancada do PSDB à candidatura petista do deputado Arlindo Chinaglia. Os números revelados pelo líder Jutahy Magalhães Júnior confirmam que ele foi precipitado na adesão, pois só metade da bancada tucana apóia Chinaglia. A situação é a mesma no PMDB, e tudo indica que as lideranças partidárias mais ligadas ao funcionamento das bancadas no dia-a-dia do Congresso forçaram uma solução rápida para garantir posições na burocracia da Câmara para seus protegidos, com o apoio, no caso do PSDB, de dois governadores importantes, o de Minas, Aécio Neves, e o de São Paulo, José Serra. Mas, na verdade, as bancadas estão muito divididas, e com a entrada em campo do ex-presidente Fernando Henrique, protestando contra esse apoio, a situação pode virar, especialmente porque o voto é secreto, e nenhum dos partidos tem condições de garantir a totalidade dos votos nessa situação. Se esse apoio ao candidato petista representasse um movimento político mais amplo, de aproximação institucional entre PT e PSDB, mesmo depois de todos os embates, poderia ser avaliado politicamente como uma novidade no quadro politico-partidário e, analisado desse ponto de vista, ser criticado ou apoiado. Mas, pela reação da cúpula tucana, houve apenas um acerto de vagas na Mesa e nas comissões, colocando-se a burocracia acima das questões políticas mais amplas, que só agora começam a vir à tona. E essas indicam a impossibilidade dessa união, que já foi desejada por ambos os lados. Vai haver uma reunião da executiva nacional do PSDB e, ao mesmo tempo, o lançamento do candidato da terceira via, que conta com importantes deputados do PSDB, como o próprio Fruet e o ex-ministro da Educação Paulo Renato, eleito deputado federal. Nos próximos dias teremos a exata noção de quão sólida é a candidatura de Chinaglia, ou se num segundo turno a tendência pode mudar. Na verdade, essa candidatura do "grupo independente" não tem chances de ganhar, mas pode forçar um segundo turno, onde o atual presidente da Câmara, Aldo Rebelo, viraria o candidato da oposição, com o apoio que já tem no PFL, e a idéia é que o PSDB passasse a apoiá-lo, para derrotar o PT. A questão é saber se o PSDB tem unidade suficiente para levar a bom termo essa estratégia. É possível que, mesmo que o candidato do "grupo independente" não seja do PSDB, se parte dos tucanos apoiar um outro nome qualquer - o da ex-prefeita Erundina, do PSB, por exemplo - que a disputa vá para o segundo turno. O PSDB demorou muito para se articular, está precisando se renovar, renovar sua executiva. Seu presidente nacional, o senador Tasso Jereissati, está desgastado pelas disputas regionais no Ceará, e a idéia de antecipar a renovação da executiva nacional, para dar nova cara ao partido e tentar reorganizar as bases, é importante, porque o PSDB, no momento, está completamente perdido, sem rumo claro na oposição. Se o PT ganhar essa parada, ainda por cima com o apoio de dissidentes tucanos, o PSDB vai entrar num processo de divisão muito grave, que pode ter conseqüências futuras na própria estrutura partidária, com a saída de quadros importantes. Nesse caso, se o líder Jutahy Júnior estiver mesmo sintonizado com a maioria da bancada e não houver receptividade à candidatura alternativa por parte dos tucanos, o "grupo independente" lançará um anticandidato, que pode ser tanto o deputado Chico Alencar, do PSOL, quanto Fernando Gabeira, do PV, apenas para marcar posição. O PT vencerá a disputa e estará reorganizado para ter papel central neste segundo governo Lula, com o apoio do PSDB, que não tem nenhuma estratégia política a respaldar-lhe o gesto. Apenas uma visão burocrática da política. |
Entrevista:O Estado inteligente
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