Panorama Econômico |
O Globo |
10/1/2007 |
Ban Ki-moon começou errando. Ao abrir os trabalhos como secretário-geral da ONU, o sul-coreano moderou no ponto em que não poderia moderar: na condenação à morte de Saddam Hussein. A ONU é contra a pena de morte, porque a maioria dos Estados membros a condena. Ele ainda não compôs seu "ministério", patina na escolha dos cargos-chaves na área política e de negociação de paz e, na avaliação publicada na imprensa internacional, pode ter errado em algumas nomeações. A ONU tem mais destaque hoje na mídia, é mais acompanhada pela imprensa internacional que antes. E as primeiras análises não o favorecem. Seus primeiros movimentos têm sido considerados erráticos. Mas o que mais inquieta é que Ban Ki-moon não conseguiu romper os impasses que estão paralisando as escolhas-chaves, como a de operações de manutenção de paz e a de assuntos políticos. A indecisão vem das intensas pressões dos países mais poderosos dentro da organização. Um fato animador: ele já nomeou duas mulheres para postos importantes. Uma delas é Asha-Rose Migiro, ex-chanceler da Tanzânia, indicada para o segundo posto. Outra é a mexicana Alicia Bárcena Ibarra, da burocracia da ONU. Ótimo para os latino-americanos, mas sua escolha surpreendeu. Ela fez carreira na área de meio ambiente e desenvolvimento, depois foi da equipe de Kofi Annan, quase foi indicada para uma diretoria que cuida da mulher e acabou assumindo o posto mais importante da área gerencial. Detalhe: ela nunca fez carreira na área administrativa. A escolha fica ainda mais complicada quando se sabe que uma das principais demandas feitas a Ban Ki-moon é que ele corrija os problemas de gerência da organização, que vão desde gastos excessivos, até a distribuição das compras de forma mais eqüitativa no mundo. A ONU hoje tem compras crescentes para sustentar, por exemplo, sua força de paz, que chega a quase 80 mil homens. Uma das críticas dos países em desenvolvimento é que as compras estão concentradas nos países ricos. Isso sem falar nas denúncias e suspeitas na área de compras; e do escândalo do programa petróleo por comida com o Iraque. Os casos de desperdício, concentração de fornecedores ou corrupção levaram a uma demanda pela adoção de modernos parâmetros gerenciais para o cargo de secretário-geral, mas, segundo o "Herald Tribune", os primeiros movimentos de Ban Ki-moon não confirmam a expectativa de uma reforma gerencial importante. Ainda que se requeira maior eficiência nos recursos, maior transparência nas decisões de compra, o fato é que a ONU não é uma empresa e exige do seu secretário-geral mais que as burocráticas declarações que ele tem feito. O primeiro erro de tom foi a fraca condenação da execução de Saddam Hussein. Ninguém duvida que ele era culpado por mortes, torturas, truculências, mas 132 dos 192 países membros são contra a pena de morte, a ONU sempre a condenou, e a morte de Saddam pareceu mais uma vingança tribal que o final de um julgamento justo. Ban Ki-moon, acabando de chegar, vacilou numa crítica meramente formal. Sobre a mais importante das reformas, a democratização do poder e do processo de decisão, ele também tem sido pouco convincente. A reforma do Conselho de Segurança não é apenas uma questão de interesse de alguns países candidatos. É muito mais que isso: é inevitável para que se construa um mundo mais eqüitativo e uma organização mais representativa. Hoje quase 50 países africanos, 33 países latino-americanos, os países asiáticos, excluindo a China, não têm voz no Conselho mais poderoso da ONU. Brasil, Alemanha, Japão, Índia, Nigéria e África do Sul são candidatos a novos assentos permanentes no Conselho. Aqui no Brasil, o tema divide opiniões dos analistas sobre se é ou não uma campanha que faça sentido para nós; país com tantas outras urgências. No Itamaraty explica-se que não é um capricho do atual governo, mas uma longa aspiração defendida por vários embaixadores que representaram o Brasil na organização desde os anos 60. No Itamaraty, diz-se também que estranho seria se o Brasil não se apresentasse como um candidato. Seja como for, a reforma em si é um imperativo de um mundo que mudou muito desde o pós-guerra. O novo balanço de poder e o processo de construção de uma governança internacional exigem reformas na ONU, e o grupo de trabalho formado para estudar o assunto já tomou posições majoritárias em favor da ampliação dos assentos permanentes e não permanentes. A defesa desse tema era uma constante no discurso de Kofi Annan e aparece de forma pálida no do seu sucessor. Kofi Annan, apesar de todos os problemas que sua administração teve, deixou claro que a instituição não apoiou jamais a desastrada invasão do Iraque. Ter sido atropelado pelos Estados Unidos produziu uma crise. Pior seria, dizem os diplomatas, se a ONU tivesse se curvado e aceitado a invasão. Apesar das críticas e das avaliações de que virou numa instituição fraca e inoperante, a ONU nunca teve tanta presença no debate sobre os rumos do mundo e tem, como sempre, uma pesada agenda: evitar a guerra nuclear provocada por conflitos com o Irã ou a Coréia do Norte; resolver dez conflitos na África e seu eterno sofrimento por fome e doenças; liderar a grande luta contra os desequilíbrios ambientais no planeta. Tudo o que se pode desejar é que o sul-coreano Ban Ki-moon tenha sorte. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, janeiro 10, 2007
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