Três países na mesma região; três histórias diferentes. No acumulado dos últimos quatro anos, o Brasil cresceu 11%; a Argentina, 39%; e a Venezuela, 27%. Eles haviam tido recessões fortes antes do salto; nós, não. A inflação aqui está controlada; lá é o fantasma que ronda as duas economias. Os três países subiram gastos públicos, e a Argentina melhorou sua situação fiscal, em parte, por causa do calote na dívida. O petróleo é o que segura a Venezuela.
Amanhã o presidente Lula vai divulgar o seu PAC, Plano de Aceleração do Crescimento.
A comparação com o desempenho dos outros dois países mostra que o Brasil precisa mesmo acelerar o crescimento. Mas Venezuela e Argentina estão acumulando desequilíbrios nada invejáveis. O desafio é crescer sem perder algumas das nossas vantagens.
A inflação na Venezuela está em níveis que, no Brasil, sabemos que não são sustentáveis. Em 2006, a alta de preços foi de 16%; a previsão para este ano é de 15,4% (veja gráfico). A Argentina teve 9,7% de inflação oficial, mas com controle de preços e muita inflação reprimida.
— Na Argentina, por causa do controle de preços, os custos têm aumentado e eles não são repassados.
São muitos produtos com preços controlados, até a carne. A pesquisa na qual eles se baseiam para medir inflação é antiga e não reflete na proporção certa o peso de alguns itens, como aluguel, por exemplo. Há estimativas que dizem que a inflação chegou a 17% ou 19% — diz o economista brasileiro Ricardo Amorim, que trabalha no WestLB em Nova York.
A Argentina teve melhoras importantes em vários indicadores depois do colapso, e isso é que mantém alta a chance de um Kirchner (ele ou a mulher) ganhar as eleições deste ano.
Houve crescimento todos os anos, o crédito está se expandindo — 40% no ano passado, 36% no ano anterior —; o desemprego caiu de 22,5%, em 2002, para 9,5%, em 2006; a massa salarial cresceu 25% ao ano.
As contas públicas melhoraram e as contas externas saíram de um déficit em conta corrente de 4,8%, em 2002, para 3,3% de superávit no ano passado.
Ao apresentar esses dados, num artigo publicado no site “Nueva Mayoria”, o economista Miguel Broda não deixa de apontar os problemas: a política monetária é expansionista, os juros são negativos, os gastos públicos aumentaram 5,6% ao ano, e a participação do gasto público no crescimento do PIB quadruplicou.
Na área externa, as exportações cresceram 38%, no mesmo ritmo da região, mas as importações apenas 3%, com medidas para segurar a queda do dólar e muito protecionismo, diz Broda.
— A Argentina tem também sérios problemas de investimento em infra-estrutura, principalmente energia — ressalta Amorim.
Já a Venezuela está atrelada ao que acontece com o petróleo. Os preços têm caído; se a queda continuar, o país terá problemas. Petróleo é 1/3 do PIB venezuelano e metade da receita do governo .
— A Venezuela tem um grande problema hoje de falta de investimento. Em 2006, houve saída líquida; as empresas estrangeiras não estão investindo lá, e as venezuelanas estão preferindo investir fora. A PDVSA tem investido pouco porque não tem recursos. Os gastos do governo cresceram absurdamente em 2006. Há dez anos, eles eram 20% do PIB; hoje eles gastam 34% — afirma Ricardo Amorim.
Um relatório da Goldman Sachs prevê que o crescimento nos dois países será menor nos próximos anos.
Mesmo prevendo que a Argentina cresça 7% em 2007, diz que isso só vai acontecer por estímulos fiscais e monetários fortes. Segundo o relatório, a inflação ficará em 12,7% mas com “controle de preços, subsídios fiscais, restrição de exportação de carne, leite e grãos para reprimir a inflação”.
Eles apontam dois riscos: a inflação pode acabar derrubando o crescimento, e o crescimento pode agravar o desequilíbrio energético.
O Brasil tem seus problemas, mas não tem alguns desses que rondam os vizinhos.
E nunca é demais lembrar que, felizmente, não temos aqui este anacronismo andante chamado Hugo Chávez.
Entrevista:O Estado inteligente
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