No final da década de 80, visitei o “The Wall Street Journal”. Lá perguntei ao editor-chefe por que eles nunca tinham pensado em mudar aquela primeira página que todo dia parecia ser a mesma. “Quem vende dois milhões de exemplares por dia tem que mudar?”, perguntou, coberto de razão e circulação.
Esta semana, o jornal conservador estreou cara nova.
O que mudou? Tudo. E tudo continuará mudando nas comunicações; na maneira de circular informação.
O “WSJ” quer reduzir o uso de papel e, por isso, fez uma página mais estreita.
Boa providência nestes tempos em que cortar desperdício de recursos, em geral, e de papel, em particular, faz todo o sentido, por motivos empresariais e ambientais. Quer atrair mais o leitor que, depois da internet, busca informação de forma mais rápida e mais atraente. No final de 2005, visitei novamente o “The Wall Street Journal”, e o problema que os editores enfrentavam era como cobrar pelo conteúdo on-line, lutando contra a idéia de informação sem custo que a internet havia disseminado.
Dilemas assim vão continuar acontecendo em toda a imprensa, mas o melhor caminho é seguir em frente, surfando a vertiginosa era da mudança que nos atinge a todos. Tempos revolucionários são mesmo desafiadores. Ano passado, a revista “The Economist” publicou uma reportagem de capa com o título: “Quem matou o jornal?” Ele está vivo e passa bem, mas seu mundo está mudando rapidamente. A circulação dos jornais tem caído em muitos países, mas o consumo de informação tem aumentado. As previsões sobre o fim dos jornais continuam sendo feitas como antigamente se imaginava que o rádio morreria por causa da televisão.
O jornalista Philip Meyer, no livro “The Vanishing Newspaper”, seguiu a tendência da queda do número de leitores para prever que o último jornal será editado em 2043.
Os dados são claros: os jovens lêem mais jornal na internet que em papel; o erro é achar que jornal é aquilo que sai impresso. A plataforma vai continuar mudando; o negócio de procurar, processar, oferecer, circular, comentar e interpretar a informação permanecerá existindo. O erro é fazer análise com categorias estáticas num mundo em vertiginosa t r a n s f o rm a ç ã o .
Hoje metade dos leitores do britânico “Guardian”, na sua versão na internet, está nos Estados Unidos, informa a “The Economist”. “Qualquer um que esteja procurando informação está mais bem equipado que nunca”, diz a revista. Por isso é que cada mídia aprende com a outra, e os jornais têm sites, blogs, podcasts. Um realimentando o outro.
Não tem que haver uma competição entre o on-line e o impresso quando está ocorrendo fusão, mudança, influência recíproca de um e outro formato.
Se há uma previsão que pode ser feita, é que o mundo da comunicação vai continuar mudando.
Passei uma parte da folga de fim de ano atracada com o livro “Pulitzer Prize Feature Stories”, organizado pelo jornalista e professor de jornalismo David Garlock. O livro traz todas as reportagens que ganharam o Pulitzer na categoria feature (matérias especiais) desde 1979, quando foi instituída a premiação para esse estilo. Quem lê conclui que a reportagem nunca vai morrer; qualquer que seja sua forma de apresentação.
O primeiro dos textos, “Mrs. Kelly’s monster”, foi escrito por Jon Franklin para o “Baltimore Evening Sun”, sobre uma cirurgia no cérebro. Qualquer pessoa poderia achar que o assunto não atrairia a atenção do público em geral.
Nem o editor avaliou bem, porque não fez chamada de primeira página e obrigou o autor a dividi-la em duas, para ser publicada com continuação. Jon Franklin teve que se esmerar para prender a atenção do leitor por 24 horas para que ele quisesse ler a seqüência.
Escrita há 28 anos, a reportagem ainda hipnotiza a atenção do leitor até a última linha.
Reportagem em forma de feature é um dos inúmeros estilos jornalísticos.
A forma de fazer uma reportagem na televisão é espantosamente diferente do que tratar o mesmo tema no jornal impresso.
A forma como a internet trata a notícia é totalmente outra. Rádio e revistas são dois produtos inteiramente diversos. São múltiplos os caminhos, formas, estilos e plataformas para se fazer a mesma coisa: buscar informação e oferecê-la aos consumidores.
Nada disso vai morrer, pelo contrário, nunca se consumiu tanta inform a ç ã o .
Na carta do diretor do “The Wall Street Journal” aos leitores explicando o novo desenho gráfico, L.
Gordon Crovitz diz que eles tentam unir “tradição e mudança”. O jornal, fundado em 1889, passou por uma mudança em 1940 e agora chegou à sua terceira versão. Internamente, é chamada de “Journal 3.0”.
A versão impressa procurará ser “o que a notícia significa”, com mais análise e avaliação das conseqüências do fato; a versão on-line será “o que está acontecendo agora e como será o jornal de amanhã”.
O “WSJ” tem hoje tiragem de 1,7 milhão, no ano passado teve um aumento de 10%, e tem 800.000 assinantes on-line. Eles estão convencidos de que os leitores estão demonstrando querer consumir cada vez mais jornal; seja na forma impressa, na versão on-line, ou em qualquer outra forma digital. E que, no mundo atual de “mudanças tecnológicas, complexidades globais, incerteza econômica, escândalos e dúvidas”, o fundamental é ter a confiança dos leitores.
O resto é apenas a forma como o produto é entregue. A embalagem.
Entrevista:O Estado inteligente
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