O Globo |
12/1/2007 |
A lógica que levou o PSDB a apressar a decisão sobre a presidência da Câmara é a da pequena política, a do resultado de curto prazo. A verdade é que os tucanos perderam a capacidade de produzir fatos políticos relevantes, e estão a reboque do governo petista desde que Lula se recuperou do declínio de popularidade, no início do ano passado, e partiu para a reeleição, apesar de todos os desvios éticos de que ele e seu partido foram acusados até as vésperas da eleição, com o episódio do dossiê exatamente contra os tucanos. O PSDB, nascido de um racha do antigo PMDB justamente pela questão ética, parece ter ficado, a exemplo do PT, cada vez mais semelhante aos partidos políticos que poluem o quadro partidário brasileiro. Os dois partidos, que, a seu tempo, representaram alternativas ideológicas e programáticas de evolução institucional, transformaram-se em grandes máquinas de fazer votos, e perderam tanto a agilidade para lances arrojados e criativos quanto pudores que os impeçam de atingir objetivos políticos formais, como agora na disputa pela presidência da Câmara. Assim é que o líder Jutahy Magalhães Júnior garantiu para seu grupo a presidência da Assembléia da Bahia, com apoio do governador petista eleito Jaques Wagner; o governador paulista José Serra garantiu a presidência da Assembléia com o apoio do PT paulista; e o governador de Minas, Aécio Neves, vai indicar alguém de sua confiança para a vice-presidência da Câmara. Para o PT, era fundamental assumir a hegemonia da coalizão governista, mesmo enfrentando o interesse do presidente Lula, que gostaria de sinalizar uma divisão de poderes mais equânime entre os aliados. Mais uma vez, porém, o Palácio do Planalto foi atropelado pela máquina partidária petista, que se impôs ao próprio Lula e agora buscará ganhar espaço também na formação do novo Ministério do segundo mandato e influir mais decisivamente nas políticas de governo. Mais uma vez o ex-ministro José Dirceu assume o comando político do PT, depois de ter recuperado o comando burocrático, com a recondução de Ricardo Berzoini à presidência. É o Campo Majoritário que continua dando as cartas no partido, como sempre deu, e agora fincando posição para poder apresentar seu candidato à sucessão de Lula e permanecer na disputa pelo poder, usando a máquina governamental mesmo à revelia do presidente, se é que não houve uma traição expressa de Lula a Aldo Rebelo, mas apenas uma autonomia petista que o Palácio do Planalto não soube, não pôde ou não quis refrear. Pelo lado do PSDB, os dois principais postulantes à Presidência da República, os governadores José Serra e Aécio Neves, preferiram guardar suas posições neste começo de uma longa disputa a tentar assumir posturas mais arrojadas de enfrentamento do PT, que deveria ser o adversário principal. Assim como no episódio do mensalão, quando erraram ao privilegiar uma estratégia de esvaziamento progressivo do governo Lula em vez de optar por uma ação mais direta de confrontação com o Palácio do Planalto, os tucanos agora preferiram não fazer marola, deixar tudo como está para ver como é que fica, cada um marcando seu espaço próprio, mas deixando que o PT saísse do córner para recuperar prestígio político com a presidência da Câmara. É verdade que o PSDB não partiu para o enfrentamento com o governo federal no caso do mensalão porque tinha o rabo preso no valerioduto, e também, como se viu na campanha eleitoral, não tinha unidade nem mesmo para defender pontos positivos de seus oito anos no governo, como as privatizações. Mostrou-se um partido amorfo, desorientado, com vergonha de assumir posições, com receio de ser acusado de elitista, mas sem encontrar a maneira de se tornar popular. E com receio da reação dos chamados "movimentos sociais". A desculpa do respeito à proporcionalidade para ocupar os cargos na Mesa da Câmara se esvai num exemplo histórico, e num outro, atualíssimo. Em 2001, a proporcionalidade indicava que o presidente da Câmara seria do PFL, e o PSDB atropelou seu parceiro para eleger o então deputado Aécio Neves, em combinação com o PMDB. Hoje, aceitando a vice-presidência oferecida pelo PT, os tucanos estão ferindo a proporcionalidade também, pois, a rigor, a presidência deveria ser do PMDB e a vice-presidência do PT, os dois maiores partidos da Câmara. Se valem esses arranjos políticos, valeriam outros, dependendo da vontade política de cada um. O PSDB preferiu se acomodar, em vez de assumir uma candidatura independente para marcar sua oposição, pelo menos no primeiro turno. Deu-se um conchavo entre os três maiores partidos da Câmara, com o uso de todos os recursos que a máquina pública oferece, inclusive liberação de verbas para aliados e pseudo-oposicionistas, igualando-os por baixo. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que é dos poucos que andam querendo fazer oposição e está preocupado em rejuvenescer o PSDB, passou a manhã de ontem ao telefone tentando reverter a tendência que se revelava majoritária, de apoio ao candidato petista Arlindo Chinaglia. Não conseguiu, e talvez perca até mesmo o pouco interesse que tinha em presidir o partido. Faz-se, assim, uma aproximação do PT com o PSDB pela via menos virtuosa, com todos os vícios da política brasileira, garantindo que as duas principais forças políticas do país se mantenham no jogo eleitoral sem perdas aparentes. Mas quem representa neste momento a opinião pública, ávida por mudanças na política brasileira, são os integrantes do grupo "independente". Podem até mesmo perder o ímpeto de lançar um candidato, sem capacidade de influir na definição do quadro, ou mesmo lançar um anticandidato só para constranger seus pares. Mas, juntamente com mais uns poucos, ganharam a condição de "consciência crítica" da Câmara para o resto da legislatura. |
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, janeiro 12, 2007
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