O Globo |
18/1/2007 |
A formalização do apoio do PP e do PTB a Arlindo Chinaglia, ao mesmo tempo em que o PSDB revê seu apoio, retira da candidatura petista à presidência da Câmara a característica de representar uma ampla gama suprapartidária, para isolá-la como fruto do fisiologismo com que o governo vem tratando sua relação com o Congresso. O apoio maciço das pequenas legendas envolvidas no mensalão, incentivado por cargos e liberação de emendas, reedita a manobra coordenada pelo ex-chefe do Gabinete Civil José Dirceu, para inchar as pequenas siglas e ampliar a base partidária do governo no Congresso. O fato de Dirceu estar claramente por trás das manobras do partido para fazer de Chinaglia o presidente da Câmara reforça a idéia de que os métodos de negociação política continuam os mesmos. "O esquema está operante de novo", teria dito o deputado do PP João Pizzolatti, numa das negociações de apoio a Chinaglia. A frase, embora não confirmada por ele, foi ouvida por outros deputados. Não há indícios, no entanto, de que algo como o "mensalão" esteja sendo distribuído novamente. Mas o fisiologismo predomina. Os próprios partidos de esquerda que historicamente marcharam juntos com o PT em todas as eleições de Lula à Presidência, e onde o governo foi buscar uma candidatura alternativa para superar o trauma que representou a eleição e o curto mandato de Severino Cavalcanti à frente da Câmara, hoje estão se sentindo atropelados pela máquina petista, que mais uma vez não abre espaços para uma coalizão partidária mais atuante. Desta vez, PSB e PCdoB subiram o tom das críticas à maneira como o governo vem sendo utilizado - mais uma vez o presidente Lula se exime de participação, embora a máquina governamental tenha se mobilizado a favor de Chinaglia - para transformar em fato consumado a candidatura petista. O PSB, que tem mais força política dentro da coalizão, já está se mobilizando em defesa de Aldo Rebelo, com um de seus principais dirigentes, o ex-ministro Roberto Amaral, falando claramente que a coalizão governista já está abalada pela incapacidade petista de abrir espaços para os demais partidos. Outro importante político do PSB que anda arredio com relação ao governo é o também ex-ministro Ciro Gomes, que já se colocou ao lado de Aldo contra o PT. Ciro já sofreu na carne um veto não explícito, mas claro, do PT quando foi cogitado para vice da chapa de Lula na eleição do ano passado. Não deve se impressionar, portanto, com a possibilidade de vir a ser uma alternativa à sucessão de Lula com o apoio do PT, como aventou indiretamente o presidente do partido, Ricardo Berzoini, num momento raro de aceitação retórica de diversidades partidárias, que não é exatamente a característica petista dentro da coalizão governista, desde o primeiro mandato de Lula. Um tucano que está apoiando Aldo Rebelo é o governador de Alagoas, Teotônio Vilela, em cuja fazenda criou-se o hoje presidente da Câmara. Os dois são como irmãos de criação, e atuam politicamente em conjunto. Mas há indicações de que Lula pode querer usar as dificuldades financeiras do estado para, através do governador, tentar um recuo de Aldo, o que pode azedar mais ainda a relação. A caracterização de "candidato dos mensaleiros" já transformou Arlindo Chinaglia na antítese do parlamentar que pode liderar uma recuperação moral do Legislativo diante da opinião pública. Conceitos emitidos por ele e seus aliados, de que a eleição zerou as dívidas e quem foi reeleito, mesmo tendo participado do mensalão, não tem mais contas a pagar, mostra bem que tipo de acordos virão por aí, e em que conceitos e valores está assentada a candidatura petista. Não é à toa que o deputado Severino Cavalcanti, expulso da presidência da Câmara por incompatibilidade moral com o cargo, circula novamente por Brasília defendendo a candidatura de Chinaglia, especialmente porque ele dará o aumento de 91% que o baixo clero reivindica, com o apoio, velado ou dissimulado, de grande parte do alto clero. Também não será com uma candidatura cevada a promessas de cargos no governo, e até mesmo ministérios, que Arlindo Chinaglia representará a independência do Legislativo diante do Executivo. Como o presidente Lula deixou ostensivamente para organizar o Ministério de seu novo governo depois da decisão da Câmara e Senado, em 1º de fevereiro, o candidato petista trabalha com a hipótese, bastante plausível, de que seus eleitores estarão em boa posição para pleitear vagas, e é o que tem indicado em suas conversas com potenciais apoiadores. O presidente Lula, que inicialmente tentou fazer com que Chinaglia recuasse de sua disposição de enfrentar Aldo Rebelo, agora mudou de idéia e tentou, através da chefe do Gabinete Civil, Dilma Rousseff, que Aldo desistisse. Não teve êxito em nenhuma das oportunidades, agora diz que ambos são como se fossem seus filhos, e lava as mãos sobre o resultado. Será o grande responsável pela cisão que certamente ocorrerá na base aliada, e mais uma vez tentará usar o Ministério para debelar a crise, tirando qualidade da equipe e marcando com o fisiologismo seu segundo mandato. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quinta-feira, janeiro 18, 2007
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