EDITORIAL |
O Globo |
18/1/2007 |
O encontro de chefes de Estado do Mercosul, hoje e amanhã no Rio, coincide com um momento-chave na vida política da América Latina e no comércio mundial. Para observadores mais atentos, a reunião poderá ajudar a entender aonde irá o bloco, e se ainda há chances de o Brasil ampliar a participação no comércio com múltiplos parceiros; ou se o destino do país é ficar preso a um grupo de segunda classe no mundo globalizado, prisioneiro de convicções ideológicas arcaicas e antidemocráticas. Haverá as fanfarras previsíveis para o caudilho venezuelano Hugo Chávez e seus pupilos Evo Morales e Rafael Correa, de Bolívia e Equador. Chávez terá, mais uma vez, palanque para encantar os desinformados de sempre com um discurso antiamericanista da década de 50. O ruído, no entanto, não esconderá o fato de que o Mercosul e todo o continente terão pela frente dias tensos, com um golpe em marcha contra o que resta de democracia na Venezuela, num modelo de Putsch em câmera lenta e com tinturas "constitucionais", também em fase de reprodução na Bolívia e no Equador. O Mercosul e a própria Organização dos Estados Americanos, a OEA, terão de fazer valer seu compromisso formal com a democracia, aprovando as devidas sanções aos países infratores da cláusula democrática. A evolução das negociações entre os blocos econômicos, depois de suspensa a Rodada de Doha, é outra ameaça ao Brasil e ao Mercosul. Em artigo publicado no "Wall Street Journal" do dia 8, Robert Zoellick, ex-secretário americano do Comércio e ex-subsecretário de Estado, propôs que os Estados Unidos reúnam em um único acordo comercial todos os países do continente com os quais já assinaram tratados de livre comércio. Em outras palavras, uma Alca sem o Mercosul. Do Nafta (México e Canadá) ao Chile, são treze países. Como assinalou Zoellick, hoje alto executivo em Wall Street, juntos, excluindo os Estrados Unidos, eles representam dois terços da população e do PIB das Américas. Se isso vier a acontecer - e as palavras de Zoellick, pelo trânsito que tem em Washington, devem ser levadas a sério -, o Mercosul atual, de viés terceiro-mundista, caixa de ressonância de bravatas "bolivarianas", estará em xeque-mate. Perderá ainda mais mercados e verá empresas migrarem para países com acesso preferencial ao mercado americano - uma tendência já observada no universo empresarial brasileiro. Entende-se por que o Uruguai está prestes a assinar um acordo prévio de comércio e investimentos com os Estados Unidos - possivelmente dia 27 -, apesar do choro e ranger de dentes em Brasília e Buenos Aires. O presidente Tabaré Vazquez tem origem na esquerda, mas entende quais são as regras do jogo mundial. Pode até aplaudir certos discursos, mas ideologias parecem não fazê-lo virar as costas ao maior mercado importador do planeta e deixar de defender os interesses verdadeiros dos uruguaios. O encurralamento do Mercosul, e do Brasil em particular, é tanto mais previsível quando se observam operações diplomáticas em outros continentes, também movidas por interesses concretos e não por palavras de ordem vazias. O chanceler Celso Amorim prepara-se para se encontrar nos Alpes gelados de Davos, na Suíça, com a sucessora de Robert Zoellick na representação comercial americana, Susan Schwab, com o comissário de Comércio da União Européia, Peter Mandelson, e o ministro de Comércio e Indústria da Índia, Kamal Nath. Entre os dias 24 e 28, todos aproveitarão o Fórum Econômico Mundial para tentar destravar a Rodada de Doha. Vale a tentativa, mas, convenhamos, parece mais um floreio de diplomatas, pois não há sinais claros, pelo menos até agora, de que as partes mudaram de posição. A torcida é para que tudo dê certo, apesar de a realidade ir em sentido contrário. Mas, enquanto o ministro brasileiro planejava a viagem, domingo, em Cebu, nas Filipinas, líderes do bloco de dez países do Sudeste da Ásia, o Asean - de Vietnã, Brunei, Camboja aos avançados Indonésia, Filipinas e Tailândia -, assinavam um acordo com o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, para começar a liberar o comércio entre eles. A negociação começou em 2002 e o acordo, a vigorar a partir de julho, fixa prazos para a abertura dos mercados. Representantes de Austrália e Nova Zelândia chegariam no dia seguinte para uma reunião especial com o Asean. O Japão, a Coréia do Sul e a Índia já mantêm conversações com o grupo. Note-se: a Índia - que o Brasil considera aliada fiel no G-20 - é muito mais pragmática. Ou seja, o G-20 esfarela-se na Ásia e os sonhos "bolivarianos" tendem a ser apenas isso: sonhos. Com a Ásia integrada e aberta à Índia, com os Estados Unidos formando a Alca sem Brasil e Argentina, e ainda acenando para a criação de um enorme mercado com a Ásia, que responderia por metade do comércio mundial, o futuro fica cada vez mais previsível. E ele não é risonho para Brasil e Argentina. A não ser que reuniões como a que se instala hoje no Rio e os acontecimentos recentes no continente e na diplomacia comercial pelo mundo façam despertar os diplomatas e homens de governo mais sensatos. A História está acelerando. E passa sem que parte da América Latina embarque nela. |
Entrevista:O Estado inteligente
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