Diz o senso comum que os bancos lucram muito por causa dos juros altos. Trata-se de um equívoco praticado tanto por ignorantes no assunto quanto por muitos que se consideram bem informados.
Em 2007, os juros devem cair de novo. A taxa Selic pode ficar abaixo de 12% ao ano, mas os lucros dos bancos tendem a ser maiores. E agora?
Nos Estados Unidos, onde a taxa básica média de juros alcançou apenas 5% em 2006, os três maiores bancos de investimento - o Goldman Sachs, o Bear Sterns e o Lehman Brothers - tiveram lucros recordes, superando as expectativas dos analistas. Esses bancos não vivem de emprestar dinheiro. Ganham comissões por operações de lançamento de ações e outros papéis, fusões e incorporações, derivativos, engenharia financeira e correlatos. E agora?
Dizer que os bancos lucram muito por causa dos juros altos equivale a afirmar que os supermercados se beneficiam de uma alta no preço dos alimentos. Os supermercados tendem a lucrar mais se o preço dos alimentos estiver em queda, a atividade econômica se expandir e a inflação baixar, pois venderão mais. Ganham na diferença entre o valor da compra dos produtos - acrescido de seus próprios custos - e o da venda.
A margem dos supermercados é o mesmo que o spread dos bancos que fazem empréstimos. A lógica é basicamente a mesma. Ambos ganham na diferença entre a compra e a venda de mercadorias, que, no caso dos bancos, é o dinheiro. Os juros altos beneficiam, na verdade, os poupadores, inclusive o capital dos bancos. Acontece que essa parte dos ganhos não é a fonte básica de seus resultados.
A pessoa que acredita que os juros altos beneficiam os bancos pode ser a mesma que aplica seus recursos em renda fixa. Por não entender como a coisa funciona, ela não vê que seus rendimentos podem vir dos juros dos títulos públicos, que constituem o lastro do respectivo fundo de investimento. Ou seja, é ela, nesse caso, quem ganha os juros altos.
Ao contrário do que se pensa, a queda dos juros tende a aumentar o lucro dos bancos. Juros mais baixos atraem mais tomadores de crédito, o que aumenta a escala. Como os bancos ganham no spread, quanto mais emprestam, mais lucram. Além disso, juros mais baixos reduzem a inadimplência e o prejuízo com os maus devedores.
Diz-se que os bancos são um cartel que dita as taxas de juros dos tomadores. Estudos recentes provam, ao contrário, que nosso sistema bancário exibe níveis de concorrência similares aos de países desenvolvidos. Além disso, o sistema é sofisticado em termos operacionais e tecnológicos. Está preparado para expandir o crédito e ganhar mais.
A relação entre o crédito e o PIB no Brasil, de 33,7%, é muito baixa quando comparada à de países como Chile e México. Essa relação pode chegar aos 50% mencionados pelo presidente Lula no discurso da nova posse, por conta da ampliação do crédito imobiliário nos próximos anos. Os bancos serão grandes originadores dessas operações. Vão ganhar mais.
Quanto menores forem os riscos inflacionários, mais os juros cairão e maior será a oferta de crédito na economia. Se for possível eliminar a esquisita cunha de tributos nas transações financeiras e melhorar a segurança jurídica, o spread diminuirá, reduzindo adicionalmente os juros.
A lucratividade dos bancos não é a maior do Brasil. Com a estabilidade macroeconômica e a redução da volatilidade, muitas empresas brasileiras emergiram como campeãs de lucros robustos e passaram a investir lá fora. Algumas alçam novos vôos e se tornam gente grande na economia mundial.
Os lucros permitem que os bancos se capitalizem e, assim, adquiram maior capacidade de financiar as empresas e os consumidores, investir em tecnologia e aumentar seu poder de competição no mundo globalizado. Um sistema financeiro hígido e eficiente na intermediação financeira é uma das principais condições para o crescimento sustentado.
O preconceito capitalista ainda presente em parte da sociedade brasileira e a dificuldade de muitos para entender a lógica econômica explicam por que a atuação dos bancos é vista com desconfiança. Uma análise serena e não ideológica dirá, entretanto, que seus lucros não fogem a padrões de outros países.
No governo, melhorou a supervisão bancária do Banco Central. Aqui fora, é preciso entender mais como funciona o sistema financeiro para evitar que se erre na crítica.
Entrevista:O Estado inteligente
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