Entrevista:O Estado inteligente

domingo, janeiro 14, 2007

Alberto Tamer China ensina, mas não aprendemos

As exportações da China totalizaram quase US$ 1 trilhão e suas reservas ultrapassam esse valor. Surpreende? Não. Estava previsto simplesmente porque a China, além de ser uma receptadora de investimentos externos (mais de US$ 700 bilhões, dos quais US$ 72 bilhões só no ano passado, enquanto nós...US$18 bilhões...), já se transformou numa grande montadora. Compra peças, partes de outros países, principalmente asiáticos, fabrica em seu território e exporta 'made in China' para o mundo. Até o Brasil, onde ela está ganhando espaço e expulsando nossos produtos, ajudada pela estúpida valorização do real.

E daí? devem estar perguntando alguns daqueles 'senhores' de Brasília. Você não vai querer comparar um país totalitário com esta maravilhosa, mesmo que empobrecida, democracia brasileira, vai? Sim, mas vou lembrar, enfiar na cabeça de vocês, que os EUA, a Grã-Bretanha, a Europa, 99,8% dos países da OMC também são democracias. E exportam mais de US$ 9 trilhões, e receberam a maior parte do US$ 1,2 trilhão que as empresas transacionais investiram no mundo todo para produzir, criar emprego, etc em 2006. E que nós, democracia como eles, fomos premiados com gloriosos US$ 18 bilhões!!!! Meu caro leitor, por favor, grave, grave isso! É oficial!!! E então? É a democracia que atrapalha o crescimento econômico cuja alternativa é a miséria? Ou é a burocracia, a incapacidade, a indiferença que domina Brasília, onde o assunto mais importante é quem será o presidente da Câmara desmoralizada. A democracia está condenada!!!

Sabem, tenho muita pena dos EUA,da Grã-Bretanha, da Alemanha, da Europa, todos democráticos, que recebem centenas de bilhões de dólares em investimentos e exportam outras centenas de bilhões, mas, coitadinhos, estão 'condenados' ao desterro comercial. Não são comunistas, como a China, coitadinhos... são magníficas democracias, como nós. Sim, democracias, mas lá, quem erra paga, quem rouba, vai para a cadeia.

Sabem, a China totalitária (eu já estaria preso lá...) e comunista (???) é economicamente mais aberta do que o Brasil. Veja quanto os capitalistas investem lá e aqui, quanto eles exportam e atraem trabalhadores preparados. Eles são mais espertos, sim!

Por que eles exportam US$ 1 trilhão, atraem US$ 72 bilhões, e nós apenas exportamos 14,2% do que eles exportam? É porque eles têm, no totalitarismo, o mesmo que nós poderíamos ter, mas não temos, há 30 anos, mesmo numa democracia, uma carga tributária decente, não 40% de fato, juros suportáveis, portos e estradas que eles têm e não param de construir, sempre voltadas para o mercado externo. A China é hoje um canteiro de obras e, nós, um deserto em terra livre. E nós estamos esperando o PAC, que entrou em férias....

Os chineses aprenderam que, com um pobre mercado interno, tinham primeiro de exportar para depois crescer. Nós, mais espertos e inteligentes, não. Não caímos nessa. Eles têm 1,3 bilhão de habitantes, 800 milhões dos quais vivendo de subsistência. Mas eles estão correndo desesperadamente. Nós estamos tranqüilamente parados numa terra magnífica, de imenso potencial há decadas (ou séculos?) desperdiçado.

Perdoe, de novo, leitor, mas esta é uma realidade, uma verdade que precisa ser dita, repetida muitas e muitas vezes. O colunista não é dono da verdade, não, os jornalistas também não, eles apenas mostram o que vêem, publicam o que ouvem dos economistas conscientes, este colunista, especialmente, foi convocado para ficar olhando o mundo e contando, no seu jornal, o que acontece lá fora e o que acontece aqui. Creio que estou cumprindo a minha tarefa. Cansado, desiludido, mas não desesperançado. Desesperançado, não!!!!! D.Quixote, talvez, mas sei escolher os meus moinhos de vento.

Vamos à verdade dos números? Os chineses exportaram no ano passado o equivalente a US$ 969,6 bilhões. E nós? US$ 137,4 bilhões. Nós temos até capacidade ociosa para produzir, mas não produzimos tudo simplesmente porque não consumimos, e não é possivel aumentar o consumo sem aumentar a renda e, para os que trabalham, a renda só aumenta com empregos melhores; e empregos melhores só podem ser criados com investimentos. Conclusão obviamente ululante: eles investem no país dinheiro que atraíram dos países e empresas imensamente ricas e produtivas. E nós as empurramos para fora porque elas são 'exploradoras', só querem nos impor as suas regras, roubar a nossa soberania. A Constituiçao declara que o mercado brasileiro é 'patrimônio nacional'.

E nós com a China? Vamos ao números do Ministério do Desenvolvimento: em 2005, o Brasil tinha um superavit comercial de US$ 1,5 bilhão com a China. No ano passado, esse saldo caiu para US$ 400 milhões. E segue despencando porque nos últimos meses os produtos chineses simplesmente avassalaram nosso mercado expulsando produtos que antes eram fabricados no Brasil.

OLHE SÓ O QUE EXPORTAMOS...

Para terminar, o fato muitíssimo mais grave. No ano passado, só exportamos matérias-primas e produtos primários para a China, de pouco valor agregado, que criam pouco emprego e importamos dela produtos industriais, acabados, que freqüentemente utilizaram nossas matérias-primas.

Concluindo, estamos nos transformando num país exportador de produtos primários e importadores de industrializados, até mesmo dos que já produzimos aqui. Chega? Acho que sim. Até a próxima coluna!

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