Ao chamar Fernando Henrique de 'irresponsável' ele revela 'dupla personalidade', segundo Goldman
Eugênia Lopes
As críticas feitas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso - de que teve 'uma atuação irresponsável' na questão do saneamento -, foram rebatidas ontem pelas lideranças oposicionistas. 'Lula continua no palanque', disse o vice-governador de São Paulo, Alberto Goldman (PSDB), para quem o presidente 'tem um problema de dupla personalidade: seu governo faz tudo o que o presidente condena'.
Goldman exemplificou: 'O presidente vive criticando e se manifestando contra as privatizações e ao mesmo tempo manda projetos nesse sentido para o Congresso.' Goldman citou ainda o empenho do governo nas parcerias público-privadas (PPPs), que prevêem a participação da iniciativa privada em empreendimentos estatais.
O ataque de Lula aos governos de Fernando Henrique foi feito anteontem, em solenidade no Palácio do Planalto. Embora tivesse prometido dois dias antes que não faria mais comentários sobre governos passados, afirmou - ao sancionar a nova Lei do Saneamento Básico - que era 'uma irresponsabilidade' a decisão de FHC, em janeiro de 1995, de vetar uma lei similar, que definia regras para o setor. Na época, Fernando Henrique alegou problemas jurídicos. O governo precisa 'trabalhar muito mais do que é previsível' para compensar as 'irresponsabilidades' dos antecessores, advertiu Lula.
'O PT se posicionou contra e fez de tudo para a que uma lei de saneamento não decolasse, como fez também no caso da reforma da Previdência no governo passado', lembrou o deputado Raul Jungmann (PPS-PE), que foi ministro da Reforma Agrária de FHC. Segundo ele, Lula faz comparações com o antecessor porque não fez nada até agora. 'O Lula não tem como se comparar consigo mesmo, como havia prometido, porque o Lula dois não existe: não apresentou um novo ministério e está de férias', provocou.
'É incompreensível o que o Lula critica', acrescentou Goldman. 'As PPPs nada mais são do que uma privatização. E há ainda ações na área de privatização, como as concessões feitas nas rodovias brasileiras'.
Para o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ), 'o que Lula fala não se escreve'. O presidente 'está comemorando o nada. Ele fala que tem terrorismo no Brasil, coisa que nunca existiu, e sai de férias', disse.
Na solenidade, o presidente Lula anotou que a legislação vai facilitar o repasse de recursos para Estados e municípios, acabando com a 'tortura' na liberação de verbas. A Lei do Saneamento foi aprovada em dezembro, antes do início do recesso parlamentar.
Em seu discurso, o presidente Lula aproveitou ainda para culpar de forma genérica os seus antecessores pelo caos urbano nas grandes cidades. ''As pessoas iam ocupando áreas desordenadamente, os prefeitos iam deixando, os governadores iam deixando, e os presidentes iam deixando', afirmou.