Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, janeiro 09, 2007

Luiz Garcia - O pra-dentro

O Globo
9/1/2007


Apresença federal na guerra ao crime organizado no Rio tem, de saída, importância psicológica notável: dá ao carioca a sensação de que não está só na briga antiga. Mas o que vai valer mesmo será o impacto concreto da ajuda. Precisamos de conseqüências visíveis, notáveis e rápidas na luta pela paz nas ruas.

No tempo de Garotinho - esse longo inverno moral e de gestão que atravessou os mandatos do próprio, da aliada Benedita e da senhora mulher dele - houve alguma conversa, mas nada de concreto. O governo estadual não queria ajuda, poderiam dizer os apressados, porque lhe seria insuportável ver gente de fora conhecendo os subterrâneos de sua peculiar política de segurança pública.

Por exemplo, os motivos da insistência da última governadora em manter Álvaro Lins na chefia da Polícia Civil, depois de saber que a Polícia Federal estava em sua cola devido a ligações com a máfia dos jogos eletrônicos.

Foi mesmo notável e significativo o prestígio de Álvaro no governo: já derrubara o secretário de Segurança Josias Quintal e recentemente ganhou uma parada contra o secretário Marcelo Itagiba, que, cheio de razões, pedira à governadora que o demitisse e, em episódio constrangedor, engoliu uma recusa.

Parece claro que a administração anterior não poderia mesmo conviver com a parceria federal: tinha, digamos, peculiaridades a esconder do pessoal de Brasília. O governo Sérgio Cabral, por enquanto, tem dado sinais fortes de que pode e quer. É razão para alívio da sociedade - por enquanto, antes de serem aferidos os resultados a longo prazo.

Num episódio já distante, tropas do Exército ajudaram diretamente no policiamento do Rio, até mesmo entrando em favelas. Foi bastante útil: mostrou a tolice de usar recrutas em operações complicadas e sérias.

Desta vez é diferente. Brasília oferece uma força profissional, adestrada para a missão. Ninguém torce contra. Podem acontecer, ou não, dramáticos resultados imediatos. Mas a importância maior da ajuda federal será a longo prazo: na logística, na digestão e na gestão de informações e em iniciativas distantes da crise imediata, como a proliferação de penitenciárias federais abertas a hóspedes estaduais e o combate ao contrabando de armas e drogas em todo o país.

No fim das contas, entretanto, a segurança do carioca e do fluminense continua sendo mesmo problema do governo estadual. O entrosamento com Brasília e com os estados vizinhos sempre será importante - mas, como alguém já disse, o pra-dentro é sempre mais importante do que o pra-fora.

Manter limpos e acima de qualquer suspeita os quadros estaduais é obviamente fundamental. Fará mais diferença do que dar-lhes armas modernas e viaturas decentes.

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