O Globo |
19/1/2007 |
Hora da honestidade, pessoal. Qual foi o fato mais importante do dia, da semana ou do mês? A agonia de Fidel, as eleições da Câmara, a situação no Iraque, a elevação do aquecimento global no único planeta de que dispomos no momento? Para cada uma dessas questões, pessoas de bom senso reservam pelo menos um pouco de sua atenção e de suas aflições. Mas dá para apostar que nada supera, como fator de alívio ou tensão, o que se passa no mundinho pessoal de cada um. Consolemo-nos: não é deficiência de espírito público, mas a força do instinto pessoal de sobrevivência, da busca individual de conforto. Mateus, primeiro os teus - e se não forem os teus, que sejam os meus. Assim, fazendo de conta que minhas venturas e desventuras sempre valem tinta, papel e paciência alheia, volto a usar como mote a visita de amigos do alheio e inimigos dos ausentes ao nosso apartamento. Com um álibi: nosso caso pessoal não interessa mais. A polícia está em ação, o condomínio se mobilizou para aumentar a segurança interna. Cada lado faz o melhor que pode. Mas o episódio abasteceu este leigo aqui com informações que permitem sugerir, com a humildade exigida aos leigos, pelo menos uma avaliação do esquema de trabalho nas nossas delegacias. O policial opera num sistema de 24 horas ininterruptas de serviço e 48 de descanso. Um período de trabalho e três de repouso. Matematicamente, é igual a um regime diário de oito horas de batente e 16 de folga. Na prática, não. Mortais comuns não conseguem trabalhar 24 horas seguidas. O trabalho noturno é obviamente indispensável - mas, para o leigo, parece que a solução racional seria dividir as equipes em noturnas e diurnas. Não tenho informação concreta a respeito, mas dizem que uma das vantagens do sistema atual seria a possibilidade de "bicos" nos dias de folga. Se for verdade, não parece ser a forma ideal de garantir ao profissional uma renda adequada. É ruim para ele e pior para a comunidade. O maior defeito do formato atual é evidente: a interrupção de investigações durante 48 horas. Mesmo existindo um sistema de passagem do bastão (e, pela minha reduzidíssima experiência, isso não acontece) parecem óbvios os riscos de redundância e perda de tempo. Existe sistema assim em outros países? Pelos filmes que vejo na TV (não tenho pudor de entregar as minhas fontes pessoais), não há. Enfim, e sem ofensa, não custa lembrar uma frase de Márcio Moreira Alves: "Se só existe no Brasil e não é jabuticaba, é besteira." |
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, janeiro 19, 2007
Luiz Garcia - E não é jabuticaba
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