O Estado de S. Paulo |
19/1/2007 |
Eles não elegeram Severino Cavalcanti, não absolveram mensaleiros e sanguessugas, não assistiram à distribuição de favores por parte de João Paulo Cunha na tentativa de se reeleger presidente da Câmara, não defenderam aumento de 91% nos próprios subsídios nem passaram pela experiência de ter Waldomiro Diniz como interlocutor na condução das relações entre o Palácio do Planalto e a Câmara. Isso não faz dos 244 deputados que assumem suas cadeiras na Câmara anjos de candura, mas, no mínimo, os credencia ao beneficio da dúvida. Assumindo pela primeira vez um mandato parlamentar ou retornando depois de um intervalo à Casa, de qualquer forma quase metade do colegiado que vai escolher o presidente no dia 1º de fevereiro não integrou a chamada “pior legislatura de todos os tempos” e desse grupo não têm sido destacadas as posições nas avaliações prévias publicadas na imprensa. Tradicionalmente, a tendência dos novos é seguir a orientação do partido, mas não se sabe qual a disposição dessa massa de gente: se chegam com fome de privilégios, atraídos justamente pelo lado pior do Parlamento, ou se desembarcam em Brasília envergonhados de não poder pegar um avião sem o risco de levar um desaforo para casa. Provavelmente haverá de tudo na turma de novatos. Os ávidos por se locupletar seguirão a regra da esperteza, do corporativismo, do fisiologismo, da submissão do mandato à prestação de serviços. Os outros chegam cheios de gás, na esperança de contribuir para recuperar a honra perdida da instituição. Mas como para todos os efeitos na média configuram uma incógnita, é prudente levar o fator calouro em conta antes de acreditar na definição antecipada do quadro. Novatos chegam ainda meio perdidos, sem relações pessoais de agrado ou desagrado e, sendo a eleição da Câmara uma disputa de homem a homem, são um terreno inexplorado a ser conquistado pelos candidatos. Foi diferente em 2005, quando Severino se elegeu no meio da legislatura, com todas as mágoas, satisfações, favores a dever e cobrar, vícios de toda sorte em pleno vigor. Os jogadores já conheciam suas posições e sabiam perfeitamente bem o que queriam ou deixavam de querer. Por isso mesmo, carece de legitimidade - e por que não dizer até praticidade - o acerto feito entre PT e PMDB para lotear a presidência em duas temporadas: os primeiros dois anos para os petistas e os dois seguintes para os pemedebistas. Sabem lá o que ocorrerá com os 244 calouros? Acreditam poder controlá-los, e toda a análise da disputa considera como verdadeiro o poder desse controle. Mas a própria realidade da eleição presente desmente a influência da estruturas e das cúpulas dos partidos sobre a vontade dos parlamentares. À exceção do PT, que está fechado com Arlindo Chinaglia, do PFL, que está inteiro com Aldo Rebelo, e das legendas com menos de 30 deputados, todos os demais estão divididos. No PMDB, o apoio a Chinaglia contou a metade dos votos da bancada; no PP, dos 41, votaram 22 e 19 ficaram com o PT. O PSDB diz que apóia Gustavo Fruet, mas seus 63 votos nem de longe têm a firmeza das rochas. E ainda há a possibilidade, forte, de haver segundo turno. Nele, recomeça tudo e nesse recomeço os 244 novatos podem ser cruciais, a depender do que pretendem fazer com seus mandatos. Encontro marcado “Papai” Lula não gostou de ver o “filho” Aldo Rebelo de conversa com Fernando Henrique Cardoso em Maceió. O encontro, relatado pelo próprio FH na nota de condenação ao apoio do PSDB a Arlindo Chinaglia, ficou marcado como uma risca de giz nas relações entre o presidente da Câmara e o Palácio do Planalto. Mais do que qualquer outro tucano, o ex-presidente da República é considerado no governo o maior adversário de Lula na luta política. A reunião, patrocinada pelo governador Teotônio Vilela, foi vista como absolutamente inadequada - para dizer o mínimo - para um aliado do presidente. Os mais venenosos chegam a classificar o gesto na conta das altas traições. Empurra Não se faz justiça aos fatos quando se atribui exclusivamente ao presidente Lula a responsabilidade pela ausência de entendimento entre os dois candidatos governistas à presidência da Câmara. A culpa é compartilhada na ciranda do empurra: Lula pediu definição aos partidos aliados, que jogaram a decisão para os presidentes do PT e do PC do B, que transferiram a decisão para os candidatos, que não arredaram pé. Se o presidente quisesse, poderia ter arbitrado a questão, já que ao cabo será ele quem sofrerá as conseqüências do ambiente conturbado pela sanha de desforra, caso venha a vencer o PT. Por considerar a personalidade conciliatória de Rebelo e o fato de pertencer a um partido de fora do eixo da luta política para valer fatores importantes para um cenário sem atritos é que Lula preferiria a reeleição do atual presidente. |
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, janeiro 19, 2007
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