editorial |
O Estado de S. Paulo |
5/1/2007 |
O presidente Lula preenche pela metade os requisitos mínimos exigidos de todo chefe de governo e, mais ainda, de todo chefe de governo cujas aspirações à hegemonia tenham o respaldo de uma ascendência reconhecida no âmbito da sociedade política porque não se esgota nem na autoridade inerente ao cargo ocupado nem mesmo na popularidade traduzida em votos. Tais requisitos, naturalmente, consistem em ter o governante uma visão o quanto possível límpida dos fins a alcançar e dos meios aos quais recorrer, pelos quais, no fim das contas, se traçará o perfil de sua gestão. Desse ângulo, Lula é um dirigente e um líder a meias porque sabe o que não quer antes de saber o que quer, quando uma coisa não se confunde com a outra - e, quando sabe onde quer chegar, não sabe ir até lá. Isso ficou patente na sua dificuldade em bater o martelo em relação às medidas destinadas a destravar a economia ou, ainda em oficialês, acelerar o crescimento. Já na primeira reunião com a sua equipe ele rejeitou uma proposta depois de outra - além de calar o auxiliar que ousara levantar a questão da reforma da Previdência - e desdenhou do conjunto apresentado como carente de ousadia. Vai sem dizer que ele próprio não iluminou o caminho dos interlocutores com um exemplo claro do que fazer para conciliar austeridade fiscal e inflação baixa com a demarragem do investimento público e o estímulo ao investimento privado. Mas o presidente que sabe o que não quer e apenas tangencia a equação entre fins e meios se dá a ver também no palco político. O espetáculo em cartaz - enfadonho como poucos para o público pagante - é o da sucessão na presidência da Câmara, pela qual se engalfinham os deputados Aldo Rebelo, do PC do B, atual ocupante do posto, e Arlindo Chinaglia, do PT de Lula. Até onde se pode confiar no noticiário que atribui ao presidente tais ou quais intenções e preferências, o seu candidato seria Rebelo, que o serviu com diligência como ministro político e com lealdade, sobretudo no caso do mensalão - no comando da Câmara. Mas isso não impediu a bancada petista de 83 deputados de respaldar a pretensão de Chinaglia, criando algo próximo a um fato consumado. Pouparemos o leitor da recapitulação das minudências da disputa e da descrição dos trunfos apregoados por ambos os candidatos. Registre-se apenas que a lógica do governo de coligação que Lula decidiu constituir combina escassamente com uma presidência petista na principal casa legislativa, pois é notório que a esmagadora maioria dos parlamentares dos nove partidos da futura base parlamentar do Planalto, além do PT, aderiram a Lula, mas nem por isso se tornaram menos refratários aos seus companheiros. Já em relação a Aldo Rebelo e aos seus 12 colegas de bancada, os receios do centrão lulista são mínimos ou nulos. Uma eleição na Câmara em 1º de fevereiro com dois candidatos governistas teria tudo, portanto, para implodir a coligação antes mesmo de sair do papel. Sabendo que não quer esse desastre, Lula sabe também que só conseguirá evitá-lo se lograr que um dos competidores desista em favor do outro. O que ele não parece saber é como tirar um deles da liça sem que o desistente e, no caso de Chinaglia, a bancada petista percam a face. O máximo a que teria chegado, por escassez do poder de persuasão próprio da modalidade de liderança descrita no início deste texto, seria oferecer um Ministério ao perdedor, invertendo a clássica fórmula machadiana das batatas, e tornando a fazer o que fez na montagem do primeiro Gabinete, quando distribuiu prêmios de consolação a companheiros derrotados nas urnas estaduais de 2002. Resta saber se os potenciais consolados da vez não declinarão da oferta pelo rebaixamento nela implícito - nenhuma das Pastas provavelmente disponíveis vale a direção da Câmara, cujo titular, além do mais, é o terceiro hierarca da República. Nas conversas em separado com Rebelo e Chinaglia, anteontem, Lula teria lembrado - como se necessário fosse - o efeito Severino na eleição de 2005, resultado da existência de dois candidatos petistas ao cargo. Já o aviltamento do Legislativo - depois dos piores quatro anos de sua história - não está em pauta. Se o nó da disputa traz à tona os limites da hegemonia política de Lula, a campanha em si revela algo pior, como notou ontem, no Estado, a colunista Dora Kramer: a indiferença das elites políticas à desmoralização da instituição parlamentar. |
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, janeiro 05, 2007
A limitada liderança presidencial
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