O Estado de S. Paulo |
4/1/2007 |
Os candidatos a presidir a Câmara dos Deputados nos próximos dois anos, Aldo Rebelo e Arlindo Chinaglia, têm se mostrado muito ágeis em busca dos apoios dos colegas, fazem de tudo e mais um pouco para obter do presidente da República um gesto de amparo, prometem o mundo e os fundos ao PMDB em troca dos votos do partido e até dividem as mesmas propostas indecentes, como a de lotear previamente com os pemedebistas a presidência, com uma espécie de reserva de mercado em sistema de rodízio. De nenhum dos dois, entretanto, se ouve uma só palavra a respeito da situação em que se encontra o Poder Legislativo face à opinião pública. Para citar uma expressão antiga usada para traduzir o cúmulo da indiferença, os candidatos à presidência da Câmara não estão nem aí com a Hora do Brasil. A crise de credibilidade e confiança exposta em todas as pesquisas, e dramaticamente traduzida na reação negativa ao aumento de 90% proposto por suas excelências aos respectivos subsídios, não comove nem mobiliza a sensibilidade dos pretendentes ao comando da Casa de representação popular. Comportam-se de maneira corporativa, como de resto já se haviam conduzido na questão do aumento, avalizado por ambos, embora Rebelo tenha ficado, como atual presidente da Câmara, com a conta toda do desgaste. Um exame detido de todo o noticiário a respeito da disputa a se realizar daqui a um mês não será capaz de encontrar uma referência sequer à questão essencial em jogo: a crise no sistema de representação por exaustão da confiabilidade dos representantes em relação aos representados. Justiça seja feita aos candidatos, não estão sozinhos na ausência de sensibilidade ao que se passa do lado de fora da Câmara para além dos limites da Praça dos Três Poderes. A falta de senso é geral: nem os deputados votantes se interessam em discutir o assunto nem há cobrança de fora - da imprensa, inclusive - para que o façam. Nem parece que há poucos dias todo mundo falava do fim da “pior legislatura de todos os tempos”. Nem parece que o Congresso, descontadas as exceções de praxe, afrontou durante quatro anos todas as normas de boa conduta, quando não a lei. Ao Poder Executivo tampouco ocorre propor o debate. O presidente e seus ministros ficam ali, simulando respeito à independência dos Poderes, no aguardo de que a definição da presidência da Câmara se dê ao molde de facilitar o loteamento dos cargos do ministério. Tão ocupados estão todos em discutir se Aldo Rebelo ou Arlindo Chinaglia têm apoio de Lula, se recuam ou disputam prévia para decidir quem é o “candidato da base” que provavelmente nem percebem a distância entre seus gestos e a demanda pela reabilitação da democracia representativa. Não se dão conta de que o importante não é evitar a eleição de um novo Severino Cavalcanti, mas tirar da lama um Congresso de feição severina. No mau sentido. Erro de origem Os primeiros acordes da ainda incipiente disputa pelo poder nas próximas (municipais) e nas remotas (presidencial e estaduais) disputas eleitorais soam como boa música aos ouvidos do cidadão. Lula e Aécio Neves imitam-se reciprocamente na preocupação com políticas assistenciais para jovens, o governador do Rio nutre pragmática paixão por Lula de olho nas verbas federais, o governador petista da Bahia corta cargos em comissão na contramão da leniência federal com o custeio da máquina, chefes de Executivos estaduais trocam o jogo de empurra pelo discurso da união no combate à criminalidade, tudo isso denota disposição de governar em prol de quem escolhe o governante. Pena que as boas relações administrativas tenham como pré-requisito a adesão dos mais fracos aos mais fortes no campo político. Civilizado mesmo seria o ambiente se governadores pudessem manter suas posições político-partidárias longe das premências administrativas, sem a necessidade de se curvarem às conveniências do poder central. Além da alma Não é desprezível a intenção do governador do Rio de, na falta de soluções objetivas para oferecer já, apresentar à população um conforto psicológico, pedindo a participação da Força Nacional de Segurança Pública no policiamento ostensivo. O lenitivo, entretanto, tem prazo de validade e efeito fortuito. A Força é virtual. Inexistente na prática, é formada por policiais de outros Estados que só serão reunidos e enviados ao Rio se os governadores concordarem em abrir mão de parte de seus efetivos. Outro problema é o treinamento para atuação conjunta, que não se faz do dia para a noite, principalmente para agir em ambiente nada familiar à tropa. Mas o principal nó a ser desatado pelo governador é o excesso de familiaridade entre a polícia local e a criminalidade. Até agora Sérgio Cabral não falou no assunto, mas se quiser levar a coisa a sério e ir além do conforto ao espírito, em breve precisará falar sobre a descontaminação da corporação policial. |
Entrevista:O Estado inteligente
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quinta-feira, janeiro 04, 2007
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